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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Prisioneiro

Ninguém tem o direito de alhear-se dos problemas da sua terra”. Ouvi esta frase proferida pelo Exmo. Sr. Presidente da República, na Mensagem a propósito da realização das Eleições Autárquicas. Alhear!!! Algo passado bate forte na minha mente:
…os olhos não podem ficar alheios…
Cumpri com o meu dever, votei, e resolvi dar uma voltinha pelo Recinto de Nossa Senhora Do Incenso, a Padroeira de Penamacor, a Padroeira dos Penamacorenses.
Sentei-me na exacta posição, onde vezes sem conta, já me sentei, sempre que o tempo mo permite. Tirei esta foto, no degrau em frente à porta principal da Capela de Nossa Senhora Do Incenso
É um sítio onde vou com alguma frequência, das vezes que estou em Penamacor.
Incrivelmente é um extraordinário local para reflexão.
Sempre me intrigou a linha traçada com o olhar: entrada principal da igreja, cruzeiro, entrada central no recinto, castelo.
A entrada da capela está virada para o Castelo.
Sinto que houve intenção na localização da construção da Capela.
A Fé e o Poder associados?
Curiosamente a entrada principal da Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, também está virada para o Castelo de Penamacor. Igualmente no Recinto da Senhora do Bom Sucesso existe um cruzeiro, este ligeiramente fora do alinhamento: Capela, Castelo.
É ali, naquele Recinto da Padroeira de Penamacor, foi ali, que algumas vezes, silenciosamente me interroguei sobre a vida e a forma de vivê-la.
É ali, naquele Recinto de Nossa Senhora do Incenso, foi ali, que algumas vezes, anotei notas soltas, nas soltas páginas de um livro, que algumas o vento já levou, um livro, que um dia teimarei em substituir. Cheguei sempre à mesma conclusão:
A finalidade da vida não é ser religioso ou cumpridor. A finalidade da vida é ser intensamente feliz. É por isso que se é religioso e cumpridor. Ao cumprir os deveres, esquecemo-nos da sua razão de ser, esquecemo-nos de viver a vida. A vida passa-nos ao lado com todas as excelentes oportunidades para amar e ser feliz.
Vejo as dores como dores, não como oportunidades de amar. Vejo os prazeres como prazeres, não como momentos de felicidade. Vejo os deveres como deveres, não como caminho para a verdade. Vejo a vida como vida, não como parte da eternidade.
Achar que vou ser feliz no Céu e não perceber que o Céu é já cá, sabendo que o Céu veio viver e morrer aqui mesmo. Por se estar à espera do Céu, está a desperdiçar-se o Céu. Não se deve viver a Cruz, sabendo que já foi a Ressurreição.
É por isso que acho que a simplicidade é a melhor forma de encarar a vida. É certo que há situações complicadas mas existe sempre ao longe um farol. O pior é o irremediável. E o irremediável é a morte, e irremediavelmente para ela caminhamos.
Mas da morte e dos mortos também se faz a luz.
Vêm-me à memória uma notícia saída há dias na imprensa, e amplamente divulgada a nível mundial.
Um esqueleto de uma fêmea de hominídeo primitivo que viveu há 4,4 milhões de anos demonstra que os humanos não evoluíram do antepassado comum aos homens e aos chimpanzés. A investigação revela que ao contrário do que se pensava, não há um antepassado comum para as duas espécies, mas sim dois. Assim, os humanos descendem de uma espécie e os grandes símios provêm de outra. A pesquisa indica ainda que os chimpanzés não são um modelo desse misterioso antepassado, e que foram os símios africanos que evoluíram bastantes desde os tempos do último antepassado comum. Esta investigação põe em causa o decorrer da evolução humana e está a provocar um debate internacional.
Caiem por terras todas as teorias evolucionistas da espécie, de Charles Darwin, que aprendi no meu 1º ou 2º ano do curso complementar dos liceus.
Como por terra, constato, nas tertúlias entre umas “bejecas” com os amigos, se vão desmoronando parte das regras e comportamentos que defendia sobre as mulheres, as conquistas, os métodos, em suma: cama e sexo. Muitos homens, onde ainda me incluo, continuam a defender os velhos costumes do aqui, agora, já. E se não se consegue dormir com a mulher que acabámos de conquistar, enchemos-lhe a cabeça de paranóias: que alguma coisa de errado se passa com ela, que as outras conquistas / namoradas que tivemos não eram nada assim, e outras baboseiras que não me ocorrem. Se nada disto as faz mudar de ideias, optamos pela estratégia da vítima: que o problema é nosso, que não somos lá muito atraentes. Outros há e alguns conheço, que mal se apanham à mesa com uma infeliz, massacram-na com a história triste da sua vida, com o relato dos enganos a que foram sujeitos e oferecem-se a troco de cama, para aspirar a casa, passar o esfregão nos bicos do fogão, ir buscar as crianças à escola, ou o que mais for preciso, revelando um estado de desespero que envergonha qualquer homem nas proximidades.
Uns copos mais tarde, mudam o discurso e apressam-se a descrever feitos extraordinários executados sem a ajuda do “azulinho” ou do Kama Sutra e – indiferentes aos olhos abertos da interlocutora – enumeram engates e perguntam, sem inibições, medidas e marcas de lingerie. Perante esta triste figura, a fulana trata mas é de chamar imediatamente um táxi e alegar, apesar dos seus 50 bem aviados anitos, que a mãe não a deixa entrar em casa depois da meia-noite.
Não há nada pior que possa acontecer a um homem, que não tendo quem lhe passe a mão pelo pêlo, que deixar que toda a gente, o mulherio incluído, perceba o triste estado de precisão a que chegaram.
Ficar sem mulher acontece a qualquer um. Só que por muito que um homem cante de galo, e as estatísticas indiquem que há sete fêmeas para cada macho, a verdade nua e crua é que há fases de sequeiro, em que as ditas nem vê-las. Mas um tipo que os tenha no sítio não dá parte de fraco. Continua a tratar as criaturas com frieza e distância, a moderar as atenções, a servir telefonemas e sorrisos com parcimónia. A agenda está sempre preenchida e só com esforço se arranja uma vagazita para um rápido almoço. Com serenidade, marcam depois um jantar e mais tarde uma ceia porque sabem que só assim chegarão ao prato desejado.
Um tipo sabido nestas coisas continua a usar a aliança, nem que já se tenha divorciado há um par de anos, a um solteiro também dá jeito, usa-a, porque também aqui se aplica a inveja feminina daquilo que têm a vizinha.
Qual é a mulher que quer dar guarida a um gajo que não têm onde cair morto? Talvez a Rainha Santa Isabel, aquela do “são rosas”, mas é bom não contar muito com isso, porque essa senhora já se finou há muitos anos.
E aí, mais dia menos dia, o peixe vem à rede, que com o isco certo não há nenhuma que escape. É que mesmo com estas modernices da carreira e afins, elas são felizes é de volta dos tachos, a preparar o jantarinho aqui para os fregueses. Mas a malta, pá, tem que continuar sempre a dizer que se quiser vai comer ao restaurante.
- Zé Morgas, sabes que o resultado deste paleio é desastroso nessa tua alma atormentada. Essa Alma que vive de uma trilogia – passado, presente e futuro.
Passado é memória
Presente é hoje
Futuro é esperança
Tem a esperança futura com uma Fé inabalável, que saberás emendar-te. Aprenderás a emendar-te. Tem a esperança que ainda saberás escrever o livro da tua vida, com amor, em páginas douradas, debruadas a ouro, firmemente fixas à lombada.
Talvez devido à espiritualidade do local, estas foram as palavras que pensei ou julguei ouvir.
Em verdade, descobri recentemente, lendo um trecho de Gabriel Garcia Marques que fala de despedida, como chega o amor. Ele fala de tantas coisas que aprendeu com os homens e me ensina que: «quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão pela primeira vez o dedo de uma mão de sua mãe, a tem prisioneira para sempre».
O que ele talvez não tenha imaginado é a sensação de se ter o dedo apertado de uma só vez por duas poderosíssimas mãos que chegam de repente. É inútil tentar, além disso, também descobrir a fonte do amor. Já basta saber que ele chega de repente e que só precisa de um coração disponível para fazê-lo definitivamente prisioneiro.
Como dizia Shakespeare: “O amor sendo cego, os enamorados não podem ver as loucuras que cometem”.
Agora acredito, quero continuar a acreditar, que se pode ter raízes e ter asas.
Zé Morgas

3 comentários:

  1. O que se pode ver - e depois escrever - num passeio à Senhora do Incenso! Embora misturando o espiritual e o material - afinal não é o Homem corpo e alma? - conseguiste um texto de belo efeito, com frases de se lhe tirar o chapéu! Aquela de ter raízes e asas marcou-me. Venha a próxima!

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  2. Estou desconfiado que na próxima vez que jantarmos em Deixa-o-Resto ou arredores, vais escolher peixe grelhado...

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