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domingo, 26 de abril de 2009

Carta Aberta II - Sr. Presidente C.M.Penamacor

Sr. Presidente
Recebi no meu e-mail uma foto do Poço da Nova, ou como eu gosto de lhe chamar, o Poço do Escondidinho, já que associo o Poço ao nome de um bar que ali existiu. Fico contente por saber que as obras de restauro começaram. Acredito que não se perpetuarão no tempo. Em meu nome, e em nome de todos quantos desejavam ver o perigo eliminado e o poço recuperado, o meu obrigado.
Sr. Presidente
E, porque há coisas que não podem cair no esquecimento, aqui lhe reenvio novamente umas fotos que tirei em Outubro de 2007, na rua Miguel Bombarda, também conhecida por Rua de Carros, e que creio vão merecer a atenção de Vª Exª. Fotos 1 a 6; Fotos 17 a 19
Alguém, com o brilhantismo da ideia que as fotos documentam, resolveu, penso que afim de evitar a entrada de água em casa, alterar o normal sentido do fluxo das águas pluviais. Tal solução, origina a projecção do fluxo para o centro da via, com o inevitável estrago da calçada.
Sr. Presidente
Repare nos estragos já causados, é notória a diferença entre as fotos 1 a 6, tiradas em 2007; e as fotos 17 a 19, tiradas em 2009, e que com o passar do tempo, mais se agravará. A fazer fé na meteorologia, será normal num futuro próximo, períodos de chuva menos frequentes, mas com precipitação mais intensa. Tomando como exemplo a foto 13, deve a autarquia obrigar o proprietário desse imóvel, a alterar a situação: Remover o mamarracho. Construção a montante da soleira, de uma caixa de recepção / decantação, vulgo sarjeta, coberta com uma grelha que ofereça segurança, com ligação à conduta das águas pluviais. Mais, dado o grande declive da Rua de Carros, as águas pluvias atingem grande velocidade, com a consequente danificação da calçada. A construção de mais 3 ou 4 caixas de recepção / decantação, com ligação á conduta das águas pluviais, é a forma simples, eficaz e barata, de solucionar o problema. A mesma solução se aplica para outras ruas da vila. Fotos 14 e 15 Um bom exemplo para acesso ás garagens. Apenas uma pequena correcção: Como pode constatar na foto 14, a laje de cobertura da sarjeta está grande, atrofia a área de escoadouro. Fácil resolução: Cortar a laje e colocar uma grelha maior.
Sr. Presidente
Repare agora nas fotos, 7, 8, 9 e 10: Mais uns mamarrachos na Rua de Carros. E o real perigo que são. Fotos 7, 8 e 9: Como é possivel aquele mamarracho a invadir a via pública? Duas viaturas ao cruzarem-se nesse lugar, a que passar por cima desse mamarracho fica assente na longarina. Têm esse mamarracho, a mesma paternidade do mamarracho do Sumagral? Uma rampa movível, resolve a situação. Há muitas soluções no mercado. Foto 10 Cenarizemos a seguinte situação: Um miúdo, uma bicicleta, um despiste. O miúdo despita-se, desliza pela calçada, e bate de cabeça naquela rampa de acesso à garagem. Qual a gravidade da situação que daí pode resultar? De certeza que se evitariam danos maiores e mais graves, caso a rampa não existisse. Apenas, talvez, uma roupita rasgada, uns arranhões… O mesmo pode suceder com uma viatura ao cruzar com outra, condutor que vá um pouco mais à valeta, pode rebentar um pneu, danificar os triângulos de suspensão, arrancar a roda, etc. e está metido num molho de brocas por causa desse obstáculo, que não teria, se essa perigosa rampa não existisse. Tem na foto 13 o exemplo a seguir, ou, também aqui, uma rampa movível resolve o problema.
Sr. Presidente
Já algum dia ao passar pela Rua de Carros reparou nessa ardilosa armadilha, que a foto 16 documenta? Vivemos no século XXI. Para terminar, penso que a sarjeta da foto 11 foi limpa, a foto 12 revela a origem do agente poluidor. Sr. Presidente
Permita-me lembrar aqui a lei de Gumperson: " A pior coisa que está por acontecer deverá acontecer mas só no pior momento" E porque hoje se comemoram os 35 anos da Revoluçao de Abril, permita-me Sr. Presidente, dizer aqui o seguinte: Um cidadão livre, não é livre de deveres e responsabilidades È meu dever, neste meu olhar atento sobre a terra que me viu nascer, alertá-lo para os abusos e perigos referenciados. Pessoalmente não ficaria de consciência tranquila, sabendo o real perigo que por aí espreita, e não o avisar. O meu dever de cidadania a isso me obriga
È sua responsabilidade, Sr. Presidente, ordenar, exigir, que se corrigam, que se eliminem, os abusos e os perigos. "Viva Abril, Viva a Liberdade"
Sr. Presidente
Com os melhores cumprimentos
Zé Morgas

terça-feira, 21 de abril de 2009

Carta Aberta I - Sr. Presidente C.M.Penamacor

Sr. Presidente da Câmara Municipal de Penamacor
Sei quanto o tempo lhe é importante, no entanto não resisto a roubar-lhe algum, no relato de algumas situações, que como Penamacorense me afligem, me apavoram mesmo.
Há pouco tempo que vim de Penamacor, onde estive três dias no gozo de mais uma merecida folga. No sábado, dia 11, fui beber o meu primeiro café da manhã ao bar do quartel.
Espanto meu! Vejo um portão, melhor, uma grade, duas meias grades, aquilo mais se assemelha a uma grade, no túnel de acesso à zona do bar e do restaurante. Na última vez que ali tinha passado, aquilo não estava lá. Interrogo-me sobre o que faz ali aquela grade. O que aconteceu? Qual a finalidade? Mais um mamarracho em Penamacor, não bastava o já famoso mamarracho no largo do Sumagral.
A propósito Sr. Presidente
- Já pensou em devolver o largo em pleno ao Sumagral? Demolindo por completo esse vergonhoso mamarracho. Com mamarracho não há largo.
Sr. Presidente
Permita-me recordar-lhe aqui um dos 7 Hábitos Maximizer, de Franklin Covey. È o hábito 2 dos 7 Hábitos das pessoas Altamente Eficazes: “Comece com o fim em mente
Sr. Presidente
Se tal se tivesse verificado, nunca o mamarracho teria sido feito, E mais uma agravante, ele esteve maior, gastaram ferro e cimento, foi parcialmente demolido, foram custos para os contribuintes do concelho. Eu vi, e tenho em arquivo, fotografias em suporte digital, da demolição. Gentilmente as cederei, caso a Câmara queira editar um livro com a história do mamarracho.
Sr. Presidente
Caso se candidate ás próximas eleições autárquicas, deixo aqui uma sugestão para um slogan ganhador:
Comigo a presidente, o mamarracho do Sumagral vai abaixo
Voltando à grade. De louvar apenas a engenhosa forma de fixação da grade à parede. Uma forma hábil de resolver uma medida mal tirada. E como põe a nu a falta de prumada da parede, visível nos parafusos de fixação da grade, que ao mesmo tempo servem de afinadores. É para despachar que a inauguração está para breve, e olho pouco observador, nada nota. Bebi o meu cafezinho, olhei nova e atentamente aquela grade, voltei à esquerda, e decidi ver ali do alto, as obras da via estruturante. Novo Espanto!!! Reparei que as escadarias de acesso ao jardim estavam bloqueadas. Porquê? Verifiquei então que há obras no jardim. O que vão ali fazer? Mais algum mamarracho vai nascer?
Senti um enorme pavor.
Como muitos meninos da minha geração, passeei horas nesse jardim, comi muitos geladinhos (água congelada com corantes de groselha, limão, laranja, sei lá que mais…) na barraquinha que lá existiu, várias foram as vezes que lá andei de bicicleta, e… o que isso irritava o jardineiro. Actos inocentes próprios da rebeldia de menino. O tempo que passei sentado nesses bancos de pedra… As horas que perdi olhando a linha do horizonte, a tentar adivinhar o que para além dela havia.
Aí, nesse espaço, nesse jardim, criei o meu mundo de ficção, o meu mundo imaginário, mundo ao qual me transportei e me fiz viver. Era o meu mundo de sonho, sonhos de criança, e que alguns, ainda hoje, alimento com a mesma inocência. Aprendi a andar de motorizada, com 10 anos, numa Flandria, que hoje guardo aqui na minha garagem, em Santo André, fielmente recuperada, no largo do Reduto e na estrada da Cavaleira, ao tempo, ainda tudo por calcetar e alcatroar. Buracos eram mais de mil, contorná-los tornou-se um divertimento.
Sr. Presidente
Era aí nesse banco de pedra, olhando as estradas, lá para o lado da Sr.ª dos Caminhos e a outra para o lado dos Castelos, que vezes sem conta sonhava por lá passar, a tripular a Flandria do meu pai. Com muita persistência, convenci-o a deixar-me tirar a licença de condução de velocípedes com motor auxiliar. Foi no ido ano de 1975, dia 25 de Setembro. Tinha 14 anos. Outro tempo, tempo do século passado. Era chefe da secretaria da Câmara Municipal de Penamacor o Sr. Júlio Martins Pinto. Foi o próprio Sr. Júlio Pinto que me fez um breve exame: 10 perguntas orais sobre código, mandou-me dar 1 volta de motorizada pelo terreiro e fiz um exercício de perícia: o célebre 8.
- Estás apto, foi o que me disse.
Esperei quase uma hora enquanto ele batia a “carta” à máquina. Assim que apanhei a “Verdinha” nas mãos, porque verde era a cor do impresso, ainda é, guardo-a religiosamente, a primeira coisa que fiz, à revelia do meu pai, se lhe pedisse autorização não ma concederia, foi meter-me à estrada, e realizar o que durante 3 ou 4 anos sonhei nesse banco de pedra do jardim:
Uma Grande Viagem, que não era de todo uma viagem grande.
Foi o desabrochar da minha alma errante de motociclista viajante:
Penamacor, Sr.ª dos Caminhos, Memória, Águas, Aldeia do Bispo, Ponte das Taliscas, Àgua Férrea, Penamacor.
Com milhares de kilómetros desde então percorridos por Portugal, Espanha, Marrocos, jamais senti a mesma felicidade ao volante de uma mota, tão forte, tão marcante como naquele dia.
Sr. Presidente
Esse jardim foi palco de sonhos, de histórias, foi olhar atento, foi confidente… enfim… esse jardim habita no imaginário de todo o Penamacorense. Aceito que necessitava alguma intervenção. Mas, não o destrua. Quero acreditar que fará desse jardim um Presépio, um Presépio para o Menino que vemos todos os anos, no Natal, frente aos Paços do Concelho. Não faça do jardim uma Árvore de Natal para o Pai Natal.
Como diz Manuel Alves:
- “ O Natal é a festa do nascimento do Menino. O Menino Jesus que eu conheci visitava os nossos sonhos e a nossa infância era embalada pela inocência. Pobre e carenciada, mas pacificada pelos sonhos. E veio o Pai Natal. Veio e depressa encontrou, no frenesim de quotidianos agora dominantemente urbanos, caldo de cultura para se impor. A árvore de Natal corresponde aos novos modelos consumistas. O comercialismo natalício contêm um comercialismo de sentimentos padronizados. Não soubemos / sabemos responder à colonização que nos assalta. O pai Natal substituía / substitui o Menino que chegava com a nossa condição infantil. A árvore de Natal tomava o lugar do Presépio e transformava-se na montra onde o comercialismo natalício se nos expõe. Deixámos de ter no Natal a simbólica do (re)nascer e passámos a ter um prosaico distribuidor de representações e prendas em série. O mistério do Natal ficava / fica esvaído de espontaneidade, inventiva e sentimento. Desligava-se / desliga-se do que a história tinha feito.”
Sr. Presidente não nos queira desligar / apagar da história feita no jardim.
Sr. Presidente
Com as obras de remodelação do jardim, têm agora uma oportunidade soberana, para corrigir uma situação no Poço do Escondidinho, antes que a abóbada caia. Anexo duas fotos, repare no perigo que ali está. Aí sim, em nome da segurança e porque as crianças o merecem, fica bem uma grade, para impedir que alguém caia no poço. Urge reparar. Fica aí tão perto…tem tudo no jardim... é só uma pequena deslocação. Cabe-lhe a responsabilidade moral de ordenar que se repare antes que desabe.
Voltando à via…
Olhei então lá do alto para as obras da via estruturante. Que nome pomposo para mais um mamarracho. Pergunto-me qual a utilidade pratica daquela via para Penamacor. Nenhuma, Sr. Presidente, assim o penso. Num futuro!???
No presente há outras prioridades. Sabe melhor do que ninguém como o concelho está a ficar deserto. Além da necessidade de fixar quem está, é imperioso que uns regressem e novos venham. Há que criar condições para tal, e não é muito difícil. Como se fixa quem está?
Permita-me aqui Sr. Presidente, e mais uma vez usando um exemplo pessoal, recebi há pouco tempo na minha caixa de correio, um invólucro mensagem com os valores e taxas / percentagens, para pagamento do Imposto Municipal sobre Imóveis. Pago IMI em 3 concelhos: Sines, Santiago do Cacém e Penamacor. A taxa / percentagem mais elevada que pago, é a paga no concelho de Penamacor. Se cópia quiser para saber qual as taxas praticadas nos concelhos citados.
Sr. Presidente
Com toda a franqueza que me é característica lhe digo: Tal como as fotos da demolição parcial do mamarracho do Sumagral, também a copia deste documento pelas finanças enviado, está ao seu dispor. Gentilmente lhe cederei o que pretender. Outra forma de ajudar à fixação de quem está, e, até de outros interessados atrair, passa pela ajuda na recuperação e construção de imóveis. Falo de projectos, licenças, PDM ajustado à realidade local, etc. Conheço concelhos onde isso acontece: têm vários projectos padrão, elaborados pelos gabinetes locais de apoio técnico, gratuitos. Pela experiência vivida, na entrega de um projecto, nesses serviços da Câmara de Penamacor, fiquei com a absoluta convicção que o PDM dessa Câmara mais não é que um decalque de um PDM de um outro concelho com realidades distintas. Há que alterar o PDM. Se ainda não foi alterado. Ou foi alterado para permitir a construção do mamarracho do Sumagral?
Sr. Presidente
Está na hora de fazer um exaustivo levantamento da real situação do parque habitacional de Penamacor.
Há muitos erros cometidos, mas os erros corrigem-se. O povo do concelho merece ajuda. A câmara pode virar um parceiro social, eficaz, se apresentar projectos honestos. Ajude-se quem está a não partir.
Permita-me Sr. Presidente recordar-lhe aqui mais um dos 7 Hábitos Maximizer, de Franklin Covey. È o Hábito 3 dos 7 hábitos das pessoas Altamente Eficazes:
Dê prioridade ao que é Prioritário”.
Recuperar o casario é prioritário. Não deixar partir quem está, prioritário é. Quanto ao futuro, não tenho dúvida alguma em afirmar que o desenvolvimento de Penamacor passa pelo Turismo. Urge atrair turistas. E é fácil. Cada vez mais se realizam congressos, reuniões, seminários, bivaques, etc, fora dos grandes centros, em espaços mais próximos e envolventes com a natureza. O luxo que temos para oferecer aos adeptos do BTT. O paraíso que existe para os amantes do pedestrianismo. E o que precisamos? Uma vila mais bonita, mais acolhedora, estruturas de apoio, como prioridade as dormidas. Aos anos que ouço a promessa da construção de um hotel.
O que temos:
Além da já estafada promessa de construção do dito hotel, apenas e tão só mais um mamarracho, “Os Castelos” onde a câmara investiu o dinheirinho dos contribuintes, onde supostamente nasceria o hotel. Até penso ter visto o projecto…Mas vi, claramente visto, no papel. Ironia do destino. Esse portão de acesso aos Castelos, guardou durante anos, os mortos num cemitério em Lisboa; guarda agora em Penamacor, com imponência, mais um mamarracho colossal.
O que poderíamos ter. Quase tudo.
O dinheiro gasto na aquisição dos Castelos, o dinheiro gasto na via estruturante, poderia Vª. Ex.ª tê-lo gasto de seguinte forma. Todo o edifício do quartel poderia ter sido convertido numa pousada, tem localização privilegiada, tem estacionamento, tem área para piscina, espaço para um auditório, etc, tem tudo, e o que não têm fazia-se. Inclusive, poderia o custo com o investimento ser feito pelo explorador, os contratos negoceiam-se.
Sr. Presidente
Revele aos munícipes qual as verbas envolvidas com a aquisição dos Castelos, e a construção dos mamarrachos: estruturante e sumagral. Junte a estas verbas, a verba que custou a reconstrução do quartel. Falamos no total de uma verba generosa. Os serviços que lá funcionam para onde passariam?
Sabe o Sr. Presidente que nada custava à câmara, e porque a oferta é muita, são visiveis os anuncios de venda, no centro da vila comprar casario velho, e fazer as obras necessárias, reconstruindo, demolindo, construindo, para as funcionalidades exigidas. Era um enorme passo para o início da recuperação das dezenas de casas velhas que temos em Penamacor. Embelezava a vila. Cada vez mais os contribuintes tratam a maioria dos assuntos fiscais pela Internet, temos um concelho, infelizmente, com cada vez mais, menos contribuintes. Conheço repartições mais pequenas em concelhos maiores, simplesmente, modernas, funcionais e bem apetrechadas.
O museu, poderia a câmara adquirir as ruínas do antigo lagar do Tarouca, é uma área generosa, e estacionamento melhor que o terreiro de Santo António é impossível. Acresce a possibilidade de fazer uma escadaria de acesso directa ao terreiro.
Sr. Presidente
Há soluções infindáveis, pense no que poderia ter sido feito. E porque a centralidade é fundamental, todos os caminhos devem ir dar ao centro. Essa rua 25 de Abril, antiga rua Vaz Preto, a partir dos acessos norte e sul da variante viraria Avenida.
Isto, Sr. Presidente, é que é estruturante, criar um esqueleto de desenvolvimento.
Obras como a que está em curso, só matam o coração da vila, facilita apenas quem mais depressa quer fugir, porque a isso os obrigam. Mais, no início do presente século, apresentei algumas sugestões nos serviços técnicos, num formulário que me foi fornecido, com o título “Pensar Penamacor 2020”.
Um Homem pode ser pequeno, mas a vista têm de ser larga e o pensamento têm que ser grande.
Sem querer saber da paternidade da ideia, dá-me algum gozo pessoal, saber que uma das minhas ideias propostas, construir um parque de estacionamento frente à Biblioteca Municipal, demolindo o edifício que foi cavalariça e refeitório, está feito. E se as demais ideias apresentadas não estiverem definitivamente arquivadas, se ainda se mantiverem em stand-by, alimento a esperança de um dia as ver concretizadas.
Sr. Presidente
Nesses dias que aí passei em Penamacor, ouvi dizer que iria ser construída uma rotunda frente ao Lar Dº Bárbara Tavares da Silva. Concordo, conhecendo a dificuldade que é para o trânsito pesado, principalmente os autocarros de passageiros, efectuar a manobra de viragem nas actuais condições existentes.
Um alerta Sr. Presidente:
Tenha presente o que foi a edificação desse Murro da Vergonha. Possivelmente novo muro será edificado no seguimento do já feito. Que o vírus não se propague.
Uma calhandrice Sr. Presidente:
Igualmente ouvi que o projecto da rotunda foi feito por alguém, não funcionário da casa. Não existe um gabinete técnico nessa câmara com profissionais qualificados? Sempre pouparia uns dinheiros aos já depauperados cofres da autarquia. E por falar em poupar...
Sr. Presidente
Recebo com assiduidade o Boletim Municipal e a Agenda Cultural.
Confesso que me agrada receber, mas reconheço o exagero da qualidade das publicações. E porque aqui vivo, também recebo as publicações editadas, pela junta de freguesia de Santo André, Câmara Municipal de Santiago do Cacém e Câmara Municipal de Sines. Publicações simples, algumas mesmo em papel reciclado. Tenho por hábito, depois de ler, levar todas as revistas para o meu emprego. Por várias vezes ouvi elogios à qualidade das publicações recebidas, vindas de Penamacor.
Sr. Presidente
Quando oiço elogios à qualidade dessas publicações, invade-me um misto de alegria e tristeza: Alegria tão só pela qualidade do papel das publicações. Tristeza, porque, quando em abono da verdade, digo aos meus colegas, que Penamacor é um concelho pobre, quase deserto e com um dos mais elevados índices de analfabetismo de Portugal, a fazer fé nas estatísticas.
Nem penso em referir o destaque dados aos mamarrachos.
Sr. Presidente
Nada tenho contra as ditas publicações, apenas contra a demasiada qualidade, têm custos acrescidos, e contra a exagerada tiragem. Não quero ousar pensar, que o destino de muitas será o lixo.
Sr. Presidente
Fui pioneiro na adesão ao recebimento de facturas e extractos digitais: bancos, edp, via verde, etc, e desde já coloco ao dispor de Vª Ex.ª a minha caixa de correio electrónico para receber as ditas publicações, newsletter, etc, em formato digital. É o meu singelo contributo para ajudar a preservar o ambiente: menos papel, menos árvores abatidas, e ajudar a reduzir custos: menos publicações, menos gastos, menor despesa nos envios. Tenho dezenas de endereços de e-mails de pessoal de Penamcor e do concelho, Dar-lhes-ei a saber a minha proposta, pedir-lhes-ei a necessária autorização, penso que não se oporão, darei os endereços ao gabinete de informação da Câmara, e todos receberemos a informação em suporte digital.
Sr. Presidente
Com a estima que me merece, humildemente lhe peço, afaste-me o pesadelo de um dia ver Penamacor no Guinness Book, como sendo a localidade que mais mamarrachos possui, são já muitos, e ao mesmo tempo, no futuro, ter que o recordar, porque assim acontece, Papas, Reis, Presidentes, todos são recordados pela obra feita, pelos epítetos, como “O Presidente dos Mamarrachos”.
Sr. Presidente
Evite ter de um dia pedir desculpas, à História, e ao Povo do Concelho de Penamacor.
O MotoGP de Jerez De La Frontera está próximo. Tenho este ano pela frente, a hérculea tarefa de rebocar até lá, 24 companheiros do asfalto que vêm dos Açores. Levá-los-ei a conhecer Ronda e Gibraltar, com a certeza que tirarão uma foto para a posterioridade na companhia da bandeira, melhor, são duas, para que se veja bem de ambos os lados, mandei uma costureira coser uma contra a outra, bandeiras bordadas, de Penamacor, que sempre me acompanham nestes meus passeios mototurísticos.
Sr. Presidente
Fique bem
Zé Morgas

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Tributo - "BASÁGUEDA"

Vale mais tarde do que nunca.
Em nada lamento o só agora ter “descoberto” este blogue
http://www.basagueda.blogspot.com/
Durante duas “santas” noites de trabalho, outra coisa não li.
Que deleitoso divertimento foi para o meu espírito.
Vou ler os trechos todos. Com toda a certeza.
Que excelência
Bem Hajam

Karraio, Changoto
Como me recordo desses termos.
Foi na altura de sulfatar a vinha. Tinha prometido ao meu avô, O Ti Domingos Catcheiro, assim era conhecido na vila, que no dia seguinte lhe levaria o material que precisava para fazer a calda, ao chão de marrão.
Levantava-se sempre muito cedo, e cedo partia para o campo, muito antes da abertura da loja do Tó Católico.
Quando a loja abriu, já eu lá estava à porta com com a minha avó, a Ti Conceição Pereirinha. Tinha-me ido buscar a casa. Mercou o artigo, entregou-mo e disse-me:
--Vai num pé e vêm no outro. O teu avô está à espera.
Quis o destino que, assim que deixei a minha avó, aparecesse o Nalgas e o Chanfalho. Tinham os "espetas" com eles.
--Vamos a uma partidinha de "espeta"?
--Tenho que levar isto ao meu avô.
--É só uma partidinha
--Bora lá, e vale apertar canais.
Jogámos uma partidinha, a atirar para o longo, no final meti-me à estrada direitinho ao chão de marrão.
Chegado, e antes que tivesse tido tempo de o meu avô cumprimentar, e de lhe entregar a calda, arrimou-me logo com uma changotada nos costados
--Karraio, atão...berrei eu
--Atão, atão o quê? está aqui um hôme desacorçoadinho á espera... os tratos e as horas são para cumprir.
Um hôme quando vai apanhar a camnete da víuva, não é a camnete que espera, é o hôme que espera a camnete.
Entendido? C'assnão ainda papas mais.
Embora a falta de vista o acompanhasse, dizia que me acertava sempre bem, porque eu tinha um costado largo.
Entendi, dei-lhe o produto para fazer a calda, e voltei para a vila, com uma valente changotada marcada nos costados.
O pau era bom, de marmelêro
--Karraio, já um homem não se pode atrasar um bocadinho.

Zé Morgas

Crime no Quartel - Penamacor


Caro amigo Cabanas
O sol brilha no céu sem nuvens, apesar de a noite estar próxima, não há vento e o calor ainda se faz sentir. Estou em Sines, terra do grande navegador Vasco da Gama, Conde da Vidigueira. Reza a história que este mar visto, navegou. Do alto desta minha varanda, enorme, num oitavo andar, olho o oceano Atlântico. Esta é a soberba imagem que vejo, é um quadro de rara beleza. Assim o acho.
Olhar o mar, ouvir o mar, transmite-me uma calma pacificadora. Vislumbro ao longe a praia de S. Torpes e a aldeia de Porto Covo. Foi esta vista que me levou a comprar este apartamento nas alturas, já que habitualmente vivo em Vila Nova de Santo André, num segundo andar, com uma vista igualmente bela, mas diferente, que em muito me recorda Penamacor: pinhal e serras. É um pequeno luxo a que me posso permitir, consoante o estado de espírito, assim escolho o local onde ficar. Hoje, apetece-me respirar um ar com cheiro a mar, sentadinho aqui, na minha “cadeira dos sonhos”, e permitir ao meu pensamento, liberdade para um pequeno exercício de memória e recordar locais visitados nas inúmeras viagens que já fiz, pelo país de lés a lés e por esse mundo fora, que em comum têm vistas fabulosas, deslumbrantes e como limite ao olhar apenas o infinito.
Isto surge, porque, estive durante seis dias em Penamacor, de 7 a 12 de Fevereiro, no gozo de um merecido descanso. Num dos dias, fui almoçar ao recém inaugurado restaurante, “O Quartel”. Comi umas costeletas de borrego grelhadas, acompanhadas com arroz e um delicioso esparregado, no que toca a pinga, benzi uma garrafinha da Herdade de Pias. Não me fez papo. Soterrei tudo com duas velhíssimas aguardentes.
Enquanto o repasto ia degustando, com o olhar ia observando a obra realizada.
Sem querer entrar em grandes reparos, apenas três coisinhas:
Primeiro: Aquelas janelas!!!
Fiz a minha escola primária no edifício onde hoje funciona o Centro de Saúde. Eram as zonas de recreio, recreios ainda separados para as meninas e os meninos, onde hoje passa a estrada. Todos os que como eu, estudaram nessa escola, sabemos que o edifício onde foi inaugurado o restaurante “O Quartel” era a antiga cozinha da extinta 1ª Companhia Disciplinar, vulgarmente conhecida por quartel. Todo o Penamacorense sabe muito bem quem eram os clientes da 1ª C.D., eram todos aqueles para quem o Forte de Elvas já era pêra doce. A seguir ao Forte só as C.D’s, os alojavam.
Existia uma outra em Cabo Verde, na ilha de Santiago, na cidade do Tarrafal. Já fiz uma visita ao que resta…
O povo de Penamacor, na gíria tratava os clientes do quartel, os presos, por “corrécios”
Neste jogo de recordações, julgo perceber agora a inspiração orientadora da arquitectura das janelas do restaurante:
--- Companhia Disciplinar, quartel, prisão, presos, sol aos quadradinhos, janelas aos quadradinhos, vista aos quadradinhos, paisagem aos quadradinhos.
Mergulhando nas minhas viagens, como recordo o destaque dado por todos e tudo, aos locais panorâmicos, sejam eles naturais ou artificiais.
Recordo aqui três, entre dezenas, magníficos locais naturais que visitei:
Cabo Verde, ilha de S. Vicente, Monte Verde. É o ponto mais alto da ilha com uma elevação de cerca de 725 metros. Fui num carro alugado.
Espanha, junto aos Picos da Europa, (passeio de mota, onde nos gélidos lagos, desfraldei a bandeira de Penamacor que sempre me acompanha, para tirar uma foto de grupo), obrigatório visitar Fuente De. Subida de teleférico, vista de indescritível beleza. Elevação 753 metros.
Brasil, Rio de Janeiro, Pão de Açúcar. Uma viagem de teleférico, duas subidas:
Primeira subida: Praia Vermelha – Morro da Urca.
È começar a disfrutar, a perder a praia de vista. No Morro da Urca, aconselho os mais medrosos, a beber um “Chopinho”, uma “caipirinha” ou uma “caipiroska”, qualquer das escolhas, dupla, de preferência, no bar que era pertença do famoso ladrão do comboio, considerado o maior roubo do século passado, Ronald Biggs, para enfrentar a
Segunda subida: Morro da Urca - Pão De Açúcar
Mais longa mas mais rápida, o teleférico sobe a uma velocidade metro /segundo superior à primeira subida.
O passeio tem como cenário 360º de paisagens deslumbrantes, tais como: as praias do Leme, Copacabana, Ipanema, Flamengo, Leblon; Pedra da Gávea, o imponente maciço da Tijuca e o Corcovado, (também é belo o passeio de trenzinho para aí chegar), com a imagem do Cristo Redentor; Baía da Guanabara, com a enseada de Botafogo; centro da Cidade; Aeroporto Santos Dumont; Ilha do Governador; Niterói; Ponte Rio- Niterói; (mais antiga que a nossa Vasco da Gama, mas com a mesma imponência), e, ao fundo a Serra do Mar, com o pico "Dedo de Deus".
Antes da descida, tal como eu o fiz, para mais tarde recordar, tirar uma foto, no Pão de Açucar ou no Monte da Urca, com uma qualquer, porque todas o são, bonita, ternurenta e curvilínea carioca, estampada no fundo de um prato. Há apelos e tentações a que dificílmente resisto. Tenho quatro pratos de recordação. São arte numa parede do meu apartamento em Santo André.
Quanto a lugares artificiais, puros cartões de visita panorâmicos:
Alemanha, recordo-me a fortuna que paguei em Colónia, para almoçar num restaurante panorâmico, erguido numa torre lá nas alturas com rotação a 360º. Avista-se Colónia toda.
Suécia, Estocolmo, na Kaknästornet a 155 metros de altura, avistam-se alguns milhares das cerca de 24000 ilhas que compõem a cidade. Os suecos afirmam com convicção que é o número exacto de ilhas que forma a cidade.
Gotemburgo, Liseberg, fabuloso parque de diversões, não perder uma subida à torre panorâmica. Quando subi o elevador chiava muito. Assustava os mais sensíveis.
Dinamarca, Copenhaga, Tivoli Gardens, um parque de diversões célebre pelos seus concertos de Verão, fogos de artifício, restaurantes caros e pela sua iluminação nocturna. Aqui, além da inevitável subida no elevador panorâmico com o meu amigo Zeca Cruchinho, comi pela primeira vez umas divinais costeletas de rena no famoso restaurante Hercegovina. Custou uma nota preta.
Mas, também já havia sido "entalado" em Estocolmo, no restaurante Berns, decorado com um trabalho em carpintaria extravagante. Uma só garrafa de vinho, um tinto reserva Barão de Rothschild, produzido em França, custou-me um mês de trabalho.
Pagar uma garrafa de “Barca Velha” parece-me preço de saldo.
Enumeraria aqui dezenas de locais visitados por toda a Europa, Africa, África Negra, Cabo Verde, Brasil, Argentina, Cuba, etc onde os miradouros naturais ou artificias são visitas obrigatórias.
Voltando a Penamacor, o que os meus companheiros de asfalto, motociclistas, viram do cimo desse castelo, aquando do 7º Portugal de Lés a Lés em moto.
Dos dez Lés a Lés realizados pela Federação Portuguesa de Motociclismo, só não participei no 1º, 2º e 3º. É uma constante em cada passeio, a subidas aos castelos e ás serras. A subida ás serras por um duplo prazer: a vista e as curvas.
Permito-me aqui perguntar-te, se sabes qual a diferença para um motard, entre as curvas da estrada e as curvas de uma mulher. Vou-te dizer:
Um motard, nas curvas da estrada, deita-se.
Um motard, nas curvas de uma mulher, afunda-se.
Sei como é difícil classificar a vista mais bonita, mas bato-me entre os meus companheiros, que o quadro visto do alto da Torre de Menagem em Penamacor, partilha ex aequo, nota máxima, com todas as demais bonitas vistas, já vistas.
E não o faço inocentemente.
Escudo-me nos elogios que ouvi das vezes que levei o meu grupo de mototuristas a Penamacor. Todos ainda recordam como foram recebidos em 98, com banda, a Banda de Aldeia de João Pires e a recepção no Salão Nobre dos Paços do Concelho com discurso de boas vindas e Porto de Honra. Estavas lá. A jantarada nesse ano foi na Meimoa, A Princesa da Beira, no restaurante Calhambeque. Visitamos Monsanto, Idanha, Senhora do Almortão, etc. Éramos 78.
E em 99, não foi passeio, foi uma autêntica peregrinação. Jantar no refeitório da Senhora Do Incenso, eu e todos os meus companheiro oferecemos os pratos e os talheres, ao Padre Manuel para apetrecho do refeitório. Foi a entrega do material , 100 unidades de cada, novinhas, feita pelo Padre José Fernando, o Padre motociclista. Nessa noite assistimos na feira das actividades a uma actuação dos Santos e Pecadores. Nesse ano antes de rumar a Sortelha ainda presenteamos os bombeiros com um cheque. Serviram-nos um pequeno almoço de luxo, como agradecimento deixámos um cheque com o dobro do valor gasto nos ingredientes servidos. Sempre foram cinquenta contos. Antes do regressa ao Alentejo, tempo houve para que o Padre José Fernando celebrasse uma missa na Capela de Nossa Senhora do Incenso. Tudo isto para meu grande regozijo mantêm-se vivo na memória dos meus companheiros motociclistas. Estiveram em Penamacor nesse ano 103 motas e muitas penduras.
De tudo, poucos se lembram, mas todos se lembram, das fenomenais paisagens naturais que observaram. O motociclista "curte a vista".
Como vivo se mantêm, também, na memória das gentes de Penamacor a nossa presença. Muitas são as vezes que me perguntam, e curioso gente mais idosa: Então quando é que cá tráz outra vez as motas? Respondo que um dia. Gostámos tanto de ver, é o que ouço.
Acredito que quem me faz esta pergunta nem sabe o que lá fizemos ou deixámos, apercebo-me que mantêm vivo nas suas memórias aquele quadro colorido que é ver tanta gente em tanta moto, surpreendente mesmo, o gosto de ouvirem o roncar dos motores. Em breve farei a 5ª peregrinação a Penamacor com visita as todas as freguesias do concelho sem excepção. Tenho já o percurso estruturado, aliás já o "bati" de carro com o meu irmão Carlos num desses dias que aí estive, são 170 km, na maioria por caminhos rurais. Quero-lhes mostrar o concelho profundo. Dificuldade vai ser o alojamento. Estive com o meu grupo há pouco tempo na inauguração de um Hotel / Spa em Aracena. Aproveitei para visitar as Grutas Maravilha e o museu do "jamon". Disse-lhes na altura que estaria para breve a inauguração de uma unidade hoteleira em Penamacor. Recebi a promessa da presença de todos na inauguração. Aproveitaria a data e as festividades associadas.
Nem sei como lhes vou dizer que o hotel...apenas está no papel.
Mas, a vista, o olhar..
É esta vista, este deleite ao olhar, que não nos podem privar no Restaurante “O Quartel”.
Aquelas janelas até lá poderiam ficar, com função de portadas exteriores e com abertura para o exterior. Como janelas interiores, 1ª janela, apenas vidro, sómente vidro. A escolha é farta. Se não me trai a memória do que vi, o bar, cafetaria, onde tomei o primeiro café da manhã, nesse mesmo quartel, a porta é em vidro, toda a fachada é vidrada. Respira-se cor que ajuda a colorir a vida, apesar de o elemento geológico envolvente interior ser o granito.
Um último reparo sobre as janelas: A agravar o crime que é privar o olhar de tão soberba vista, não garantem isolamento térmico algum, só não vê quem não quer, a fita de pintor usada para calafetar as ditas cujas. É notória a corrente de ar que passa nas janelas que não têm a tal fita.
Segunda: No 1º andar o que fazem aqueles restos de pilares? São parte integrante da decoração? Acinzentar o ambiente?
São inspiração fruto das antigas guaritas das sentinelas? As que me lembro de ver em criança eram circulares.
Terceira: A porta de acesso ao terraço.
Sentado, ao olhá-la enquanto comia, transmitia-me algo, quase medo. Finalizada a refeição resolvi dar uma espreitadela pelo terraço, o tempo tinha melhorado. Saí com uma “velhíssima” em mão, e educadamente fechei a porta. Tinham entrado três clientes no restaurante. Não tinham direito a ser incomodados pelo frio. Observei, contemplei a paisagem, como se via nitidamente a aldeia mais portuguesa de Portugal, Monsanto. Que excelente cartão de visita, como complemento a tudo o que se vê.
Resolvi voltar ao restaurante.
Oh meu Deus!
Um súbito calafrio, percorreu-me toda a espinha, senti-me petrificado. Estava "engaiolado" naquele terraço, a porta não têm abertura pelo lado exterior.
Viajando pelas minhas viagens, dou comigo no Senegal, país que atravessei na minha ida por terra à Guiné – Bissau, ao volante do meu camião Mercedes, onde na cabine levei hasteada a bandeira da minha terra, uma bandeira enorme. Percorreu Bissau para claro espanto de quem olhava.
Voltando ao Senegal e à porta.
Depois da obrigatória foto com todo o grupo que me acompanhou, com o Lago Rosa por pano de fundo, resolvemos parar dois dias em Dakar. Apesar das contrariedades do início de viagem, do atraso que tivemos na travessia do Saara Ocidental, circulámos em fila tipo comboio com escolta militar, e dos sofridos 470 kilómetros de deserto, areia e dunas, feito na Mauritânia com o meu velhinho camião de 1969, de apenas um eixo motriz, a partir de Nouakchot, capital da Mauritânia, o percurso fez-se por estrada alcatroada de qualidade duvidosa.
De Nouakchot até Dakar foi conduzir que nem louco. Paragem na fronteira, cumprir as formalidades exigidas, travessia num barco, que por cá decerto até para derreter nos altos-fornos da siderurgia teria problemas, breve descanso em Saint Louis e chego a Dakar dentro do prazo previsto. Fiz o impensável: tiradas de 16 a 18 horas de condução que ocupava com pensamentos, tal como no deserto.
O deserto, algo impressionante, é ao mesmo tempo monótono e fascinante. Durante o dia só se vê areia, à noite só se vê estrelas. Com o camião parado ficava a sós com o silêncio das dunas. Um silêncio ensurdecedor. O deserto tem uma força avassaladora, faz-nos sentir pequeninos. Mas também têm magia. Numa outra viagem anterior, de jipe, por Marrocos, fiz um passeio de camelo no deserto do Erg Chebbi, à Duna Grande, para ver nascer o sol. É simplesmente inenarrável de magnífico que é. Aquela paisagem de nada despertou o meu interior de tal maneira que, para mim, as coisas nunca mais foram iguais. Aquele lugar, tão incrivelmente bonito quanto duro, obriga a uma viagem ao interior de nós próprios, numa reflexão sobre nós e as coisas que realmente importam.
As maiores lições de vida que tive aconteceram no deserto. No nada. Onde o nada é tudo.
No deserto há tempo para pensar, aprendi a pensar, e por pensar decidi parar em Dakar. Em verdade era imperativo parar, e saber se era possível atravessar a Gambia. Sabíamos desde a partida, que havia problemas com grupos rebeldes armados, mas sempre na esperança que fosse possível a travessia em segurança. Fomos aconselhados a não tentar. Era muito perigoso. Tivemos de alterar o percurso: Dakar, Tabacounda e entrar na Guiné - Bissau pelo posto fronteiriço em Pirada. Tal obrigou-nos a fazer mais cerca de 900 kilometros. Já tinha visitado o Lago Rosa antes da chegada a Dakar, visitei a cidade e pedi um conselho para mais um passeio. Tinha algum tempo disponível. Recomendaram-me um passeio de barco à ilha de Goré. Assim o fiz.
Goré, fiquei a saber, é famosa por ter sido casa de escravos, onde os oeste - africanos ficavam guardados na aterradora “Casa dos Escravos”.
“A porta do não retorno", é o nome dado à última porta da "Casa dos Escravos", que desemboca no mar, último porto para africanos de nacionalidades diversas enviados para as Américas,
A Casa dos Escravos, transformada em museu, ainda guarda as balanças nas quais eram pesados homens, mulheres e crianças.
Naquele terraço do restaurante "O Quartel", frente a uma porta sem manipulo de abertura, foi esta imagem que vi na ilha de Goré, "A porta do não retorno", que primeiro me veio ao pensamento. Percebi então porque sentado, ao olhá-la do interior do restaurante enquanto comia, me transmitiu aquela carga negativa, vizinha do medo.
Que estranha coincidência! Não começaram as obras de remodelação desse edíficio, agora restaurante "O Quartel", com a finalidade de uma futura utilização como polo do museu? Acho que ouvi por aí em Penamacor.
Não façamos de uma visita ao terraço uma ida sem retorno
Amigo, urge devolver mais dignidade a esse espaço, luz, bem-estar, não é espaço que se recomende a quem sofra de claustrofobia, as janelas perturbam o olhar e a porta inspira medo.
Há que proporcionar a quem frequenta o restaurante, aquilo com que a localização o brindou: uma soberba e panorâmica vista.
Sem querer que se castigue quem tal crime cometeu, no mínimo exije-se que se corrija o crime. No rés-do-chão aquelas portas nunca deveriam ter virado janelas.
Em verdade poderiam até, entre as portas existentes, abrir duas novas janelas e assim dar ao espaço: expressividade, vista, cor, um equilíbrio de funções que tanto necessita.
Creio que pesou na orientação arquitectónica a arcaica ideia de muito respeito pelas condições climáticas de muito frio no inverno e extremamente quente no verão. Felizmente que hoje existem outras soluções e outros materiais.
Ouvi em Penamacor também, que assim foi, porque o arquitecto assim o exigiu.
O arquitecto!!!
Mais uma vez eu e as minhas viagens em grupo, a esse belo, misterioso e enigmático país que é Marrocos.
Erfoud, cidade ás portas do deserto, entramos na "Maison Touareg", local onde se compram bonitas carpetes, antes de seguir o grupo viagem rumo a Ouarzazate e Marrakech. Grande surpresa, além da já habitual oferta do chá de boas vindas, informou-nos o guia que nos levou ao deserto, que iam confeccionar uma pizza, uma pizza tuaregue.
Espanto geral e uma primeira reacção:
- Eh pá, temos pouco tempo, diz admirado o meu grande amigo arquitecto Lima.
- O tempo aqui não conta, apenas passa, apenas passa ... respondeu o guia.
Veio o chá, e chegou um grupo a tocar tambores do deserto e quarquabus. Tocaram enquanto confeccionavam a pizza tuaregue.
Veio a pizza, numa frigideira enormíssima, rondaria o metro de diametro, comemos todos: grupo, tocadores, donos do espaço.
Seguiu-se depois uma demorada exibição dos belíssimos tapetes tuaregues, com explicações detalhadas sobre a complexa simbologia dos desenhos. O meu amigo e supervisor de turno, Chico Carvalho, também participante nas peregrinações de moto a Penamacor, com a sua já conhecida perspicácia para o negócio, comprou uma enorme e bela carpete, pese embora o meu patriotismo, em nada deve ao que de melhor se faz em Arraiolos.
Passámos assim o dia. Era a primeira viagem do meu amigo Lima. Já tínhamos dormido no deserto num albergue, onde havia um livro de registo de opinião dos hóspedes. Estava eu por mero acaso ao seu lado quando ele registou a sua opinião. Registei a minha, sem contudo, não deixar de olhar a dele. Desenhou um bonito esboço do albergue com uma nota de elogio.
Olhei os riscos e lembro-me de então lhe ter perguntado?
- Lima, na realidade o que é um arquitecto, tu que és um arquitecto?
- Um arquitecto, em verdade, ainda é alguém, que não sendo demasiado másculo para ser engenheiro, também não é suficientemente efemeninado para ser designer.
Ao ver obras assim, percebo agora na plenitude, o significado daquela resposta.
Não se estrague o que de muito bom temos, que infelizmente é pouco. Estragar é um luxo a que não podemos ficar alheios.
Para terminar, a promessa de que tudo farei, tão rápido quanto me for possível, para descobrir toda a malta finalista do nosso ano de 77 / 78, do E.N.S.I, infelizmente extinto, afim de realizarmos a desejada almoçarada - convívio. A minha vivência epicurista da vida a isso me obriga.
E porque a vida é curta, no próximo fim de semana, rumarei até Mérida, antiga colónia romana, designada por Emerita Augusta, cidade património mundial, em mais um dos meus passeios mototurísticos. O Hotel Velada Mérida espera-me, tal como a vida da noite, que tanto fascínio exerce neste teu pobre amigo, assumidamente, celibatário não abstinente

Com um abraço amigo, fica bem

Zé Morgas