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segunda-feira, 26 de abril de 2010

O Impensável

O que julgava ser simplesmente impensável, aconteceu.
Tenho como certo, que poucos serão, os que ao tomar conhecimento de certas situações, não tenham já comentado com os seus botões:
- A mim, isto era impossível de acontecer.
Tal vêm a propósito, pelo sucedido na viagem marcada desde Janeiro, para o dia 22 de Abril, com os meus colegas de turno e trabalho, a Madrid.
Conhecedor do caos vivido na maioria dos aeroportos da Europa, por efeito da nuvem de cinza vulcânica, originária da Islândia, resolveu o F.A., confirmar a hora do voo, via Internet.
Reparou que, para essa noite, apenas havia um voo da Easy Jet, previsto para as seis horas e trinta e cinco. O nosso voo estava marcado, no voucheur enviado pela agência, para as sete horas e trinta e cinco minutos. À cautela, telefonou o F.A. cerca das duas horas e trinta minutos para o P.M., foi ele que escolheu e contactou a agência de viagens, a alertar para a diferença constatada. Disse-lhe o P.M., que, tinha telefonado para a agência, dois dias antes, e tudo se mantinha conforme planeado.
O ponto de encontro combinado para reunião e pequeno-almoço foi mais uma vez, em Grândola, pelas quatro e trinta da madrugada.
Dali, seguimos direitinho ao aeroporto para fazer o check-in de embarque.
Chegados, estranhou-se o facto de não estar ninguém, e ao falar com o funcionário ali presente, disse-nos que o avião estava de partida e já não nos era possível embarcar. O voo fora antecipado numa hora. A solução era dirigirmo-nos aos balcões da companhia e resolvermos o problema da melhor forma.
A melhor forma foi pagar cada um, um suplemento de cinquenta e dois Euros, e voo, só para daí a sete horas.
E lá nos foi dito, na Easy Jet, que a agência fora informada por e-mail da antecipação do voo.
Mas nós, a parte mais interessada, e agora lesados, não o fomos.
A quem cabe a culpa do sucedido? Interrogo-me.
Nada mais a fazer que papar uma seca de sete horas e aceitar que a programação das visitas previstas, “já eram”…
O que me custou, a todos custou, digerir aquelas sete horas de diferença entre voos, passadas por ali, naquele pavilhão do aeroporto, sabendo que tínhamos pessoas à espera em Madrid, e estávamos a perder uma série de interessantes pontos de visita.
Encurtando o tempo, inevitavelmente isso originava.
Não fiz o meu habitual city-your de autocarro a céu aberto.
Mais, tinha o meu turno saído das noites, tinha passado o sono fugazmente pelas brasas durante o dia. Na noite do embarque, deitei-me passava já da meia-noite, não tinha ainda pegado ao sono, quando ribombam dois valentes trovões, que me impediram de dormir descansadamente, o mesmo sucedendo a outros colegas.
Mas, à nova hora marcada levantamos voo.
As últimas viagens de avião que fiz, quase todas foram realizadas de noite.
Desta vez, de dia, estava a voar naquela pássaro de lata, sobre as nuvens, quase sem abertas que permitissem ver a terra.
Parecia um ondulado mar de algodão doce. Lindo.
Já na fase de decida, quase a aterrar, apanhámos turbulência forte, atravessámos uma tempestade, e coisa que nunca tinha visto: um raio a passar ali bem juntinho à asa do avião, intimida os mais melindrosos, mas não deixa de ser um espectáculo impressionante, ver aquele ziguezagueante traçado luminoso.
Chegados a Madrid, e com a decisão já tomada de viajar de metro, cada qual muniu-se de um mapa esquemático das redes subterrâneas, inicialmente confuso, revela-se de fácil interpretação ao fim de pouco uso, tirou o grupo bilhetes turísticos, válidos por dois dias, e lá fomos visitar a sede da “nossa” Repsol, onde estavam à nossa espera, a colega A. F., e o colega A. M., destacados de Sines.
O motivo maior da visita era ver as motas expostas desde à algum tempo, no átrio interior do novo edifício, onde Toni Bou, “O Dinamite”, há poucos dias fez uma demonstração na exímia arte de bem montar as duas rodas, passeando por todo o edifício, de roda dianteira sempre no ar.
Expostas, as Hondas de MotoGP, usadas em anos anteriores pelo espanhol Dani Pedrosa, a KTM usada num Dakar, pelo espanhol Marc Coma, e ainda a Montesa usada no campeonato do mundo de trial, pelo também espanhol Toni Bou, O Dinamite, que este ano, já venceu as duas corridas realizadas.
Finda a visita, a oferta de um café de cortesia por todos aceite, e, havia que rumar ao Hotel, fazer o check-in de entrada, tomar um retemperador banho, e decidir o grupo pela escolha do restaurante para jantar.
Devido ao atraso na partida, terminou o grupo a visita, à hora de fecho da Sede da Repsol, e de muitas outras empresas e serviços. Era previsível uma maior afluência de passageiros nas carruagens do metro.
Feito o estudo do itinerário do percurso, deslocou-se o grupo para a estação de Metro mais próxima, a estação de CHAMARTIN, um obrigado à A. F., que nos “passeou” até lá, com destino a ALONSO MARTINEZ, ponto de transferência para a linha verde, nº 5 com destino a CALLAO, a estação mais próxima do hotel que tínhamos reservado.
Raramente ando de metro, salvo algum caso pontual, penso que a maioria do grupo estava na minha situação. Também pelo facto de sermos um grupo de doze pessoas, descurei um pouco as mais elementares regras de segurança, falo de bens.
Aquela hora, hora de ponta, as carruagens vinham apinhadas de gente, mas lá entrámos em CHAMARTIN. A viajem fez-se aparentemente sem sobressaltos. Saídos em ALONSO MARTINEZ, havia que percorrer um longo túnel para chegar ao cais de embarque da linha 5. No túnel, estava um mexicano a dedilhar uma viola e a entoar umas canções, e um chapéu no chão, invertido, para recolha de umas sempre bem vindas moeditas. Foi ao ver as moedas, que instintivamente levei a mão ao bolso de trás direito das minhas calças, e constato, que não tinha a carteira, onde levava todo o dinheiro e alguns cartões.
Informei o grupo.
-Vê se está noutro bolso, alguém disse.
-Não, não está, respondi depois de confirmar.
Não restavam dúvidas, a carteira sumira.
De repente estava aliviadíssimo em mais de duzentos €uroses.
Confesso no entanto, que tive uma infundada esperança, que tivesse sido uma brincadeira dos colegas que vinham atrás de mim, como forma até de alertar os demais elementos do grupo, para o perigo que era circular com as carruagens tão cheias de gente, e algumas, tão mal intencionadas. Pensei até que me devolveriam a carteira no hotel.
O F.C. não se coibiu mesmo de alvitrar:
- O Morgas já levou um “tirinho”, coadjuvado por um malicioso sorrizinho.
Enquanto esperávamos pela chegada da composição que nos transportaria, e comentando entre todos o sucedido, remata o F.C.:
- A mim, desse bolso só se levarem o pente, e sujo de caspa. A grana está aqui, bem guardadinha no bolso da frente.
Não se inibiu mesmo, com alguma vaidade, de mostrá-la, junto com alguns documentos e os cartões Multibanco.
Mas, havia por ali olho de falcão atento, pronto a predar.
Chega o metro. Apinhado como nunca tinha visto. Se tivesse prevalecido a sensatez do P.G., teríamos esperado dois ou três minutos e entraríamos numa carruagem menos lotada. Mas houve, quem logo de impulso, se atirasse lá para dentro. Corremos o risco de partir o grupo, e alguns nem sabiam o nome do hotel nem em que estação sair.
Foi forçar a arranjar lugar. Como nós outros assim entraram. Penso que alguns passageiros viajariam com os pés no ar.
Saídos em CALLAO, e depois de percorridos alguns metros na direcção da saída, súbito ouve-se:
- F…-se, fui roubado.
Era a inconfundível voz do F.C.
Admirado, sem querer acreditar, interrogava-se:
- Porra, como foi possível não dar por nada, se tinha tudo no bolso da frente das calças.
Era a última pessoa no grupo, que dificilmente aceitaria pensar em se deixar gamar…
À boa moda portuguesa, mesmo nas horas más, há sempre uma coisa boa, o bilhete de identidade tinha escapado à mão alheia que por aquele bolso andou, e onde se governou.
Ficamos então, com a clara sensação, que vínhamos “marcados” há muito, e se a viagem fosse maior, a mais algum calharia em rifa ser gamado. O Cenoura, queixou-se de umas apalpadelas. Pelo sentido, a mão não lhe pareceu ser feminina.
Por sorte um elemento do grupo, o Capitão Iglo, tinha à espera, junto do hotel, um familiar que há muito tempo vive em Madrid, e informou-nos onde se podia apresentar queixa por furto.
Existe um gabinete da polícia na estação do Sol, só para esse efeito, tal é o número de roubos diários.
Foi o que fizemos.
Tenho ainda presente na memória as palavras do agente que me atendeu:
- Evita andar de metro, há muito roubo e feitos por grupos com gente altamente treinada. Vou recordar essas palavras durante o resto da minha vida.
Como tristezas não pagam dividas, era tempo de aconchegar o estômago nalgum bom sítio. A sorte que tivemos, estar na companhia do familiar do Capitão Iglo, o Juan, cicerone de cinco estrelas, simplesmente incansável. Umas “cañas” fresquinhas, tomadas num bar frente ao “El Corte Inglês” o primeiro do grupo, o primeiro de Madrid, bem pertinho da praça do Sol, acompanhadas com um “bacalao frito” como nunca tinha comido, rivaliza com as nossas mais famosas e saborosas pataniscas, para abrir o apetite para o jantar que se seguiu, já tarde, na Taberna Real.
Excelente a escolha.
Muita comida, muita bebida, muita animação.
O prazer que foi ouvir o “Gatuso” cantar “Eu quero é mamar nos peitos da cabritinha”.
Mas a surpresa seguiu-de de imediato.
“Fanã” desafia “Gatuso” para em dueto interpretarem:
A cantiga da rola.
Dá-me uma gotinha de água
Dessa que eu ouço correr
Entre pedras e pedrinhas
Alguma gota há-de haver
………………………….
Quero cantar como à rola
Quero cantar como à rola
Como à rola ninguém canta
………………………….
Sublimemente interpretada.
A ovação foi estrondosa para este fantástico dueto.
Em suma, tudo em grande, até a conta.
No final as despedidas do A. M. e da A. F., a quem aqui deixo um Bem Hajam, a mais genuina expressão de agradecimento beirã, em nome do grupo, pela vossa companhia.
Continuou a malta com um bonito passeio pedestre, por jardins, monumentos, Plaza Maior, sempre guiados pelo Juan. Aqui lhe deixo igualmente, um Bem Hajas, pelo companheirismo demonstrado.
Sexta-feira, logo pela manhã, mais passeios, compras de “recuerdos”, Almoço na esplanada, (com uma taxa adicional de 10%) do restaurante Ten Beach, na Plaza Ruiz Picasso, no Passeo de la Castelhana, servidos por uma empregada de mesa, portuguesa de Elvas.
A chuva fez-nos uma visita mesmo no final da refeição. Acelerámos o regresso ao aeroporto, sobrou tempo para as compras de última hora no free shoop.
No regresso, o avião apenas vinha mais cheio, o fim-de-semana estava à porta.
Apesar de julgar ser impensável, aconteceu, no mesmo dia, além de perder um voo num avião, fui pela primeira vez na minha vida, roubado, por ter sido estupidamente confiante, como um inocentezinho menininho da mamã.
Porém, fica a certeza que brevemente faremos outro passeio, resta somente eleger o destino. Praga?
Por mim, e porque a paixão pelas motas a isso quase me obriga, quinta-feira, dia 29, vou até El Puerto de Santa Maria, onde ficarei até segunda-feira, no gozo de mais uma e sempre merecida folga, para assistir ao MotoGp de Jerez de La Frontera e ver o meu ídolo Valentino Rossi, averbar mais uma vitória ao seu já longo palmarés.
Aqui fica o meu voto de boas curvas, a todos quantos se deslocarem a Puerto e a Jerez.
Zé Morgas

terça-feira, 20 de abril de 2010

Ao PROFESSOR SERRANO

O prometido é devido.
Vale mais tarde que nunca.
Permita-me Professor Serrano que comece com dois populares adágios, para lhe agradecer a forma com fui recebido lá para os lados de Palmela.
Foi um dia bem passado, que ainda por cima terminou com o meu Benfica a vencer o seu Sporting, no tradicional derby Lisboeta.
Tinha-lhe prometido que lhe retribuiria a visita e isso cumpri, já lhe deveria ter agradecido a companhia daqueles momentos, não o fiz, não por esquecimento, mas porque, tive o tempo até agora sempre ocupado, e nem sempre da melhor forma, também o sei. E de certeza que o Professor já adivinhou do que falo.
Recordará ainda, quando circulávamos entre a Volta da Pedra e Palmela lhe ter dito que muitas foram as noites que por ali “vivi” na Sorte do Azar. Disse-me nunca ter reparado naquele nome.
Naquelas loucas noites de outrora, eu ia lá parar de olhos vendados. Para bom entendedor, meia palavra basta.
Durante a viagem de regresso, várias foram as vezes que me invadiram o pensamento, as suas palavras e a imagem de preocupação que lhe notei durante o almoço, pelo facto de, no prato escolhido, uma grelhada mista, ter sido servida carne de peru. Disse o empregado de mesa, que tal sucedeu, por na altura não terem umas fatias de entremeada para compor a travessa.
Sei que ficou um pouco aborrecido pelo facto de o restaurante “Tia Isilda” estar fechado nesse dia. Escolheu então o “Retiro Azul”, e que de boa fama também goza.
Mas, sabe o Professor, que, quem anda à chuva molha-se.
Há mais de trinta anos, que como fora, cozinhar nunca foi uma opção minha, ainda chegam os dedos das mãos para contar as vezes que cozinhei e comi em casa. Já muitas vezes, levei grandes barretes, e em locais onde não supunha levá-los. Por isso Professor, não se martirize por um acto do qual não é responsável. Tenho a certeza absoluta e inabalável, que ao eleger aquele restaurante, o fez, na mais firme e pura convicção que seria a melhor escolha no momento e no local.
Luxos e mordomias, todos gostamos, mas fique sabendo que para mim, e mais importante que a comida, o almoço podia ter sido uma simples latinha de atum com cebola, e um tintol, que se exige sempre de qualidade, era estar ali com um Homem, Alguém que foi meu Professor no já ido ano de 1971 do século passado, na Escola Primária em Penamacor, e por quem nutro a maior estima, a falar das mais variadas coisas da vida, mas acima de tudo, que ainda recordo com a maior felicidade, o Excelente profissional, com todas as qualidades que o fizeram tão especial junto dos garotos da minha geração em Penamacor, que o Sr., instruiu, formou e ajudou a educar.
A conversar, lhe ouvi durante o almoço, ao falar de blogues, que escreve bem quem muito lê, com mágoa lhe digo, que há muitos anos não leio um livro. As poucas palavras que vou escrevendo, sem grandes regras nem técnicas, coisas que não domino, são mais um reflexo do que me vai na alma, e sómente isso consigo fazer, porque as minhas bases aprendidas na Escola Primária, foram demasiado fortes. O Sr. Professor Serrano, é um dos sólidos pilares dessa base.
Memória dos tempos em que o Professor era uma Autoridade.
E porque hoje é dia 20 de Abril, gostava de aqui partilhar com o Professor Serrano e o Anselmo Cunha, o primeiro aniversário deste meu blogue.
Foi o Anselmo que comigo insistiu, ao ler o meu trecho "Crime no Quartel", para criar um blogue e escrever “os meus relatos” das minhas viagens.
Aproveito para deixar desde já o convite a ambos, para uma almoçarada em Deixa o Resto, um rodízio de porco preto, também pode meter enguias se as houver, na altura em que habitualmente o Anselmo por aqui passa férias. Igualmente farei chegar o convite aos faltosos das rondas anteriores, assim que tenha a indicação da data. Desta vez exige-se a presença de todas e todos, para um magno banquete.
Para terminar Professor Serrano, recordo que quando entrei no seu carro, depois de deixar o meu no estacionamento do Modelo, tinha o Professor uma surpresa preparada para mim: uma música dedicada a Penamacor, que de pronto lhe disse desconhecer.
Na hora, não da despedida, mas no Até Breve, voltar-nos-emos a ver, tinha já percorrido uns bons metros, fez-me o Professor um aceno para parar, e ofertar-me o CD, Canções à Beira Terra, de Arlindo de Carvalho.
Já tem lugar de destaque cá em casa.
Aqui fica expresso, na forma mais simples e mais sincera, o meu eterno
Obrigado Professor
António De Almeida Serrano
Com um Abração Amigo
Zé Morgas
Ps:
Com a devida vénia sabe o Prof. onde "roubei" esta foto, e desde já sei estar perdoado.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Moreanes

Para variar, o ponto de encontro para a partida, foi a pastelaria Os Galegos, assim é conhecida, em Sines, junto ao Castelo.
Num total de 13 motas e 17 pessoas, saiu o grupo de Sines, Domingo, pelas nove horas e trinta minutos, com uma primeira paragem combinada em Castro Verde.
Se fores ó Alentejo
Não pares em Castro Verde
As fontes chêram a rosas
E a áuga não mata a sedi
..........................................
mata a sede sim senhor
que eu ja la a bebi
e as moças são as mais lindas
que alguma vez já vi
.....................................................
só morre mesmo de amor
quem daquela água beber
cambaleia ao sabor
do sol quente ao entardecer
.....................................................
mata a sede, e porque não
mesmo se cheira à flor
a sede do coração
ó morre mesmo de amor
....................................................
de amor ninguém vai morrer
se dele não tiver sede
morrerá se não beber
nas fontes de Castro Verde
....................................................
nas fontes de Castro Verde
eu um dia já bebi
estava morrendo de sede
bebi tanto que até caí
....................................................
Um café quente, uma tijelada, e seguimos caminho por Almodôvar, Mértola até Moreanes.
Há muito tempo que não passava, passeava, naquela estrada entre Almodôvar e Mértola, a N 267.
Aliás, a última vez que por ali circulei foi em 2007, no 9º Portugal de Lés a Lés em mota, de Mértola até ao cruzamento de Martim Longo, inserido no circuito Rota do Pão.
Fiquei admirado com o que vi. Das searas de outrora, o que se via agora, era simplesmente um contraste de coloridos fantástico, composto por estevas floridas, rosmaninhos a desabrochar, e cardos ao longo da estrada.
Notória também, a grande mancha de pinho manso ali existente.
Perdizes foram vistas ás dezenas. Ficou-me a mágoa de não ter parado e ter tirado umas fotos.
Tínhamos tempo de sobra, tanto que até parámos em Mértola a olhar o Guadiana, no local onde habitualmente se realiza o Festival Islâmico.
Chegados a Moreanes, ao Café Pires, tive a primeira surpresa. Afinal para comer as cabeças de borrego no forno, apenas quatro desejosos. Mas cada um come o quer, e cada um lá escolheu o que quis, a ementa é farta e toda de qualidade. Não se livrou o Pires logo de um aviso: não podia faltar a sericaia no final; já tinha uma reservada.
Queijo de Serpa, presunto pata negra, azeitonas retalhadas de primeira, pinga da boa, as entradas estavam soberbas.
Tenho então a segunda surpresa.
Esperava ver à minha frente as metades das cabeças para desmontar e comer. Qual quê!
Vinha tudo desmontadinho e composto numa travessa, temperado à pedra de sal, alho e coentros.
A acompanhar em travessa separada batatinhas fritas ás rodelas.
Provei. Simplesmente delicioso. Os miolos…divinais.
Vi a cara de alguns comensais, ao ver o pitéu assim servido, com as marcas de arrependimento por não terem feito essa opção. Terão nova oportunidade. No final uma sericaia, com um senão.
Este doce alentejano é um dos meus favoritos, por ser fofo, húmido e não muito doce.
E como gosto daquelas ameixas de Elvas.
É um dos tesouros da nossa gastronomia. Desta vez, não estava com a humidade do costume.
Mas, foi perdoada, e não sobrou nada.
Registo aqui uma feliz coincidência. Foi este almoço combinado no dia em que o grupo regressava de uma visita ao Vila Monte Resort – Relais & Chateaux, em Moncarapacho, Olhão. À hora que almoçávamos, passava na SIC, o programa Fama Show, com um documentário sobre o Vila Monte. Havia ali muita cenarização. O real é bem mais pobre, mas… caro, contudo.
Hora de regresso a casa.
Quis desta vez, andados poucos quilómetros, que o infortúnio tenha tocado um companheiro, bem à minha frente. Na aproximação a uma curva à esquerda, vejo uma “fumaça de pneu”, súbito mota e condutor tudo a rojo e aos tombos pelo asfalto, direitinhos ao mato. De arrepiar.
Sem querer recordar o que vi, quero apenas aqui deixar expresso neste texto, além das rápidas melhoras do meu amigo L.G., amigo desde a data em que entrei na extinta Companhia Nacional de Petroquímica, alguns conselhos que sempre defendi, cada vez mais defendo.
Só conheço dois tipos de motociclistas:
Os que já caíram e os que estão para cair.
Sou um dos que já caiu.
Defendo entre os meus companheiros, a obrigatoriedade de viajar sempre devidamente equipado, independentemente das condições atmosféricas.
Como dizia o meu avô, o que protege do frio, também protege do calor.
É prática comum, quando o calor aperta, despir alguma roupa, mas nunca rolar sem casaco ou luvas. A segurança isso exige. Jamais rolar com o casaco dento da mala. Ele protege é vestido.
O meu amigo, se tivesse o casaco vestido, aquelas “esfoliações” no braço teriam sido evitadas, um bom capacete totalmente integral, teria evitado o queixo arranhado, e as calças com as protecções nos joelhos…
Mesmo com alguma roupa a mais, em andamento, há sempre uma costura manhosa que deixa passar uma aragem. Em verdade, aquele desconforto térmico sentido com o calor, só se nota quando parado. Doloroso é o frio, e se nada temos para vestir, então é penar mesmo.
Infelizmente, temos que aprender alguma coisa com estes sempre tristes acidentes.
Para quê gastar largas centenas de €uros em equipamento, se não se utiliza?
O gozo não é tê-lo, passa por usá-lo.
Breve daremos um passeio.
Olha a mota com respeito, mas nunca, nunca com medo.
Amigo L.G. fica aqui um sincero voto à tua rápida recuperação.
Zé Morgas

terça-feira, 6 de abril de 2010

Carta Aberta XIII - Sr. Presidente C.M.Penamacor

Há já muito tempo que não passava um período tão longo em Penamacor pela altura da Páscoa. Foi um pleno de quinta a segunda, dia da festa da Padroeira, Nossa Senhora do Incenso. Assisti ao torneio de 24 horas de futebol realizado pela ADEP, no pavilhão Gimno desportivo municipal. E foi na zona do bar, ao olhar pelas janelas lá para os lados da Serra de Estrela, coberta de neve, que resolvi dar um passeio a pé, coisa que também há muito tempo por ali não fazia, até ao mini campo de futebol em frente ás piscinas municipais, para tirar umas fotos, curtir aquela magnifica paisagem sobre as serras e respirar aquele ar ainda tão puro, onde os 20.9 % de O2, são valor mínimo.
Qual o meu espanto, quando vejo, bem ali à frente dos meus olhos, a nascer um aterro de lixo, entulho, proveniente de obras por ai efectuadas. Como é possível Sr. Presidente que tal aconteça.
Ainda ninguém deu por nada? Deixo-lhe aqui o alerta e a foto.
Mas mais Sr. Presidente.
Ele há coisas do arco-da-velha.
Sábado, estive no hospital de Castelo Branco, para fazer uma visita a um Velho Grande Amigo que ali se encontrava internado. Finda a visita, resolvi fazer uma outra, a uns familiares meus. Não estavam em casa, telefonei a um primo e perguntei-lhe pela mãe, a minha tia. Disse-me estar em Penamacor na Boavista, mas de partida. Perguntou-me se sabia onde era. - Oh se sei, respondi.
Muitas foram as vezes que acompanhei o meu avô e avó, maternos, e o seu meio de transporte, um burrico, até ao campo da Boavista. Entrava pelo caminho dos Castelos, esses tais, Sr. Presidente, da promessa sempre adiada de um dia serem hotel. Outras vezes, fui ao campo da Boavista, com o meu pai, num velhinho Vauxhall Wyvern de 1951, matricula GB-17-50, buscar as saquitas de azeitona. Era o acesso feito por um caminho à direita, a seguir ás Curvas da Cardosa. Com o pensamento nestas memórias, resolvi, na segunda-feira, antes de ir até ao Recinto de Nossa Senhora do Incenso, deslocar-me à Boavista, e se bem o pensei melhor o fiz. Sr. Presidente, saído do asfalto, mal entro no caminho, apanho um choque visual que ainda me mantém a vista dormente e turva:
Uma enorme lixeira de pneus. Nem queria acreditar. Mas as surpresas continuaram: toneladas de vasilhame de vidro, lixo doméstico, etc…
Sr. Presidente da Câmara Municipal de Penamacor permita-me que aqui faça apelo nesta Carta Aberta, e mais por uma questão sentimental, a uma cunha para interceder junto de Vª Exª. e com Vª Exª. na resolução desse problema “negro de borracha”:
O Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Penamacor, Dr. Jorge Seguro Sanches.
Jorge, perdoa-me este trato tutear, muitas foram as vezes que palmilhei com a minha avó esses caminhos, ouvindo histórias e observando aquela beleza dos campos de antigamente. Mas, o que quero aqui é recordar algo que sempre me intrigou, o respeito que a minha avó tinha pelo seu irmão, e a forma como com ele falava: Tratava-o por Senhor. O irmão da minha avó, Ti Conceição Pereirinha, era o teu avô, José Do Nascimento. Pelo respeito que a alma de ambos me merecem, (Deus os tenha em boa companhia, por muitos anos à nossa espera) pelo verde que gostaria de por aí voltar ver, como via quando em miúdo por ai passava, não hesites nem temas em mover esforços para solucionar esse gravíssimo problema na zona da Cardosa, mesmo que as reuniões ou audições com a Ministra do Ambiente, como li hoje no teu FB, sejam sobre o Plano Nacional de Barragens. Afinal, até temos ali um gravíssimo problema ambiental, que urge solucionar. Junte-se à vossa voz, a voz do Presidente da Junta de Freguesia. Criem as sinergias necessárias. Que a demora e o relaxo, não se torne peso nas vossas consciências.
Zé Morgas