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terça-feira, 3 de abril de 2012

Guimarães - Braga

À terceira foi de vez.
Com duas ausências nos dois primeiros passeios deste ano, a incerteza das datas exactas do arranque da unidade do “steam-cracker” a isso me obrigou.
Escolhidos os destinos, Guimarães, Capital Europeia da Cultura 2012, e Braga, Capital Europeia da Juventude 2012, definida a data, 16 a 19 de Março, reservado o alojamento no VillaHotel em Guimarães, restava apenas saber quantos participariam.
Os últimos dados apontavam para seis motas e dez participantes.
Por motivo de doença da H.C., forçada a uma “clausura caseira”, a quem aqui deixo neste modesto texto em nome de todo o grupo participante no passeio, o registo dos votos de rápidas e totais melhoras, o H.M não alinhou.
Como esperado, o casalinho do Caminhão-Tir desistiu também. Consequência do escaldanço das beras e duras rotas traçadas pelo compadre P.C.?!
Combinado o ponto de encontro para tomar o pequeno-almoço e partida, na já habitual Pastelaria “O Celeiro Doce”, definimos a primeira parte do trajecto, e, logo ali manifestada a primeira e enorme preocupação do Nosso Grande Comandante...
Onde iríamos almoçar? Calma Comandante.
Com o tempo “acinzentado”, decidimos ir por auto-estrada até Santarém, com uma primeira paragem nas bombas da Repsol.
Aqui sim, escolhemos o local para almoço. Porque já lá tinha estado e gostado, sabendo eu e todos que o leitão é um pouco como no futebol: cada um tem o seu clube, o seu gosto, o A.G. aconselhou o restaurante “João dos Leitões”, muito procurado pela qualidade do assado e com preços sensatos, próximo da saída da A1.
Fica no lugar de Piedade, Espinhel, Águeda.
Boa a escolha, contudo também a crise por ali se faz sentir, ouvimos os lamentos da proprietária com a escassa clientela.
Durante o almoço, acertamos o trajecto até Guimarães a partir da saída da A1 no nó de Espinho por estradas nacionais:
Crestuma, Pedorico, Castelo de Paiva, Entre-os-Rios…
Nesta localidade, em Março de 2001 ocorreu um gravíssimo acidente, que consistiu no colapso da Ponte Hintze Ribeiro, inaugurada em 1887 e que fazia a ligação entre Castelo de Paiva e a localidade de Entre-os-Rios. Ficou conhecido como Tragédia de Entre-os-Rios. Do acidente resultou a morte de 59 pessoas, incluindo os passageiros de um autocarro e três carros que tentavam alcançar a outra margem do rio Douro.
O desastre levou a acusações quanto à negligência do governo português, levando à demissão do Ministro do Equipamento Social da altura, Jorge Coelho, hoje um destacado CEO da construtora Mota - Engil.
…Penafiel, Lousada, Vizela, Guimarães, Villa Hotel.
Motas guardadas na garagem, check-in feito, combinada a hora de encontro na recepção do Hotel para saída à procura de restaurante para jantar, tempo de sobra para arrumar a bagagem no quarto e tomar o retemperante e merecido banho de final de viagem.
Munidos de um mapa turístico da cidade e com a recomendação dada pelo recepcionista de irmos jantar ao Restaurante Mumadona, saímos do hotel rumo ao centro histórico de Guimarães.
“Espreitadas” duas ou três ementas em outros tantos restaurantes, resolveu o Nosso Grande Comandante perguntar a uma linda Moçoila que connosco cruzava, a localização do restaurante Mumadona. Lá nos informou, dizendo que ficava um pouco distante, mas, o melhor seria levar-nos lá. Foi o que fez, guiando-nos pelas típicas ruas e vielas de Guimarães.
Disse-nos que era um restaurante muito frequentado por estudantes, onde se comia bem e em conta.
Deus acompanhe pela vida fora aquela tão prestável e gentil moça. Aqui fica o registo de um sincero Bem Haja.
Sentadinhos com as ementas em frente aos olhos, escolheu a maioria bacalhau à moda da casa.
A meio da degustação irrompe pela sala um barulho ensurdecedor de cânticos e palmas. Perguntei ao empregado o que se passava,
- É um grupo de senhoras que estão numa sala anexa, a jantar e a comemorar o Dia Internacional da Mulher, porque não o puderam fazer no dia 11.
- Com tanto barulho?! Perguntei admirado.
- Sabe Senhor, já passaram por aquelas gargantas umas belas malguinhas de tinto verde.
Ah valentes cantadeiras.
Saímos satisfeitos e contentes.
No centro histórico uma tuna, que não identifiquei, alegrava os ouvidos de quem passeava, e a passear, descobrimos um bar acolhedor, por ali nos quedamos a beber umas caipirinhas pretas, caras e com falta de substância, farturinha só de gelo.
Em amena cavaqueira, destinamos o dia de sábado a visitar Guimarães, e, domingo, Braga.
Sábado 17
A alvorada foi ao toque de porraditas na porta do quarto dadas pela Lálá.
Se o não têm feito, e coisa impensável, o Nosso Grande Comandante tinha perdido o pequeno-almoço.
Por onde andou  aquele valente madrugador-mor?
Informou-nos a Lálá que o dia estava de chuva. Veio-me à memória a viagem feita a Ronda e o sábado quase passado no interior do Hotel.
Pequeno-almoço tomado, saiu o grupo do hotel e entrou numa loja chinesa, muitas por ali imperam, para comprar guarda chuvas. Remédio santo. Espantaram a chuva.
Visitas à Igreja de Nª Sra. Conceição, Castelo de Guimarães, Capela de S. Miguel, Paço dos Duques de Bragança, e outros pontos de interesse.
Soube enfim, ouvido da boca da guia do palácio, no quarto da Dª Catarina, quarto onde, se diz, nunca dormiu, a razão porque os ingleses, a lenda assim o reza, ao chá chamam “Tea”.
Foi Dº Catarina quem introduziu o hábito em Inglaterra, ainda hoje muito em voga, de beber chá. Como os seus conhecimentos de inglês eram muito rudimentares, sempre que um chá oferecia, dizia:
- P’a ti.
Daí ao “Tea” foi um perdurar de nome no tempo.
Visita finda, e fomos apanhar o teleférico até à Penha.
Hora do almoço, e pela segunda vez ia o grupo comer bacalhau, o afamado bacalhau com broa no Restaurante Dan José, sim Dan, abreviatura de Danilo, um dos filhos do proprietário.
Deliciosas entradinhas, o bacalhau divinal, o vinho, um tinto Mata Loba, produzido e engarrafado em Malga, Cavez. A sobremesa, um misto de doces e frutas servida numa tábua redonda, estava um mimo. Tudo bom, e mais uma vez, notória a pouca clientela.
Um longo passeio pela Penha, e antes de regressar via teleférico à cidade, uma última malguinha de tinto verde na mui típica Taberna do Ermitão, sediada nas profundezas de uns colossais barrocos.
Para lanche dos duros, houve quem fosse bater uma sesta ao hotel, uns caracóis do mar, umas garrafinhas de tinto verde, Ponte da Barca, na cervejaria Martins, nas proximidades do Largo do Toural. Esta cervejaria foi-me recomendada por alguém que me reconheceu na rua, a Ângela, filha de um Amigo meu de longa data, também natural de Penamacor, o Tó Urbano, “Kelu” para os Amigos Penamacorenses, epíteto agora eternizado neste meu modesto blogue.
Toca o meu telemóvel. Despertos pela sesta, com fome, queriam saber onde estávamos para vir ao nosso encontro e se procurar restaurante para jantar.
Ouvira-mos falar num restaurante típico, o Cacos, famoso pelo malicioso vernáculo da linguagem usada pela dona. Fomos à descoberta do dito.  Entramos e foi-nos dito pela dona que estava a lotação da sala esgotada.
Com pena saímos, e a pensar noutra solução, perguntamos a um casalinho que connosco cruzava se conhecia algum restaurante bom por perto. Era sua intenção jantar no Cacos, mas se já estava tudo reservado, disse-nos
- Venham daí, vamos ao Restaurante Piedade.
Caminhando a conversar, ficamos a saber que era um jovem calceteiro, e que até já tinha executado uns trabalhos de calçada por estas bandas do Alentejo.
Curioso, o restaurante era na mesma rua do nosso Hotel, mas do lado oposto.
Enquanto se escolhiam as refeições, foi-nos servido para entrada uma magníficas papas de sarrabulho, deveras elogiado pelo nosso anfitrião:
- A minha mãe faz umas papas de sarrabulho muito boas, mas estas são muito melhores. Se o moço o dizia…
Recaíram as escolhas dos comensais entre um bife de vaca e Polvo à Lagareiro para o restante grupo, saborosíssimo e tenrinho, que nada ficou a dever ao que de melhor já comi.
Entre os intervalos das garfadas, sempre mais espaçados que os da sua companheira, dá gosto ver alguém tão franzino comer com tanta satisfação e apetite, lá me dizia o João, assim se chamava o rapaz,
- Aos sábados há aqui quase sempre fados e guitarradas.
Sem ninguém o saber, já ele tinha telefonado a um amigo a convidá-lo a estar presente com a sua Guitarra Portuguesa.
Enquanto jantávamos mais duas ou três mesas se compuseram.
Findo o jantar, sentou-se numa mesa contígua à nossa o seu amigo, começa a dedilhar a guitarra portuguesa, evidenciando desde logo uma técnica apurada sem limitações no manejo do instrumento e brinda-nos com um vozeirão que a todos impressionou, cantando temas tão variados, desde Zeca Afonso até ao Cante Alentejano,
Canção de Embalar, Ora vejam lá, Uma Casa Portuguesa, Os meninos de Huambo, Eu ouvi o passarinho, O mineiro de Aljustrel…
Enfim, uma noite de canto que a todos encantou.
Na despedida, ouvindo os lamentos do dono da casa Piedade, pelo infortúnio de não ter na família quem queira continuar com a tradição do negócio que já leva 106 anos de existência, mimou-nos com um bem apaladado e explosivo cocktail. Tinha em excesso a “substância alcoólica- calórica” que faltou nas consumidas caipirinhas pretas da véspera.
De arromba. Sorte o hotel estar apenas a dois passos do outro lado da rua. Foi analgésico para uma noite dormida sem sobressaltos.
Domingo 18
Pequeno-almoço tomado, motas fora da garagem e iniciamos a viagem rumo ao Santuário do Sameiro, via rampa da Falperra.
Foi neste Santuário que se realizou o Dia do Motociclista em 2004, onde estive presente com o Nosso Grande Comandante e o Lázaro.
Partimos para nova visita e a um outro santuário, o Santuário do Bom Jesus do Monte, também referido como Santuário do Bom Jesus de Braga.
Este Santuário católico constitui-se num conjunto arquitectónico paisagístico digno de visita.
Nova viagem até Braga, agora com alguns pingos de chuva teimosamente a quererem humedecer os fatos, para a freguesia da Sé, onde se situa a Sé de Braga.
Na visita que efectuamos à Sé, levou o Nosso Grande Comandante uma reprimenda pelo facto de estar a tirar umas fotos no interior do templo. É proibido o uso de máquinas fotográficas.
Serviu contudo a reprimenda para abreviar a visita e acelerar a ida para o almoço.
Pertinho, à vista, situa-se a Churrascaria a quem a Sé "empresta" o nome. No ar um cheirinho que parecia chamar-nos. Entramos em boa hora, porque pouco tardou, e ao contrário de todos os restaurantes anteriormente frequentados, este encheu.
Comi umas saborosas costeletinhas, o vulgar entrecosto.
Para passeio de tarde, decidimos visitar o Mosteiro de São Martinho de Tibães, um dos mais ricos e poderosos mosteiros do norte de Portugal, Casa Mãe de todos os mosteiros beneditinos.
O Povo sofria e pagava para os Monges viverem faustosamente, tal como a Nobreza.
Regresso a Guimarães e ao Hotel.
Jantou com o grupo o Tó e a Lurdes, no Restaurante “Pedrinhas”, a escolha foi do Tó, a meia dúzia de quilómetros da cidade, (foram as Senhoras no carro do Tó, fomos os Homens das Motas no Táxi Salgado) onde o Bacalhau à moda da casa voltou a ser rei na mesa.
As sobremesas, variadas e à descrição, cada qual serviu-se do que mais gostou e a quantidade que quis. Faltou muito estômago para tanta fartura.
Irra, três dias por terras minhotas e outras tantas refeições de bacalhau.
Acabámos a noite no mesmo bar onde estivemos na noite de sexta-feira, a sorver as pobres e mal servidas, caras caipirinhas pretas.
Segunda 19
Dia de regresso ao Alentejo.
Repetido o abuso da gula do pequeno-almoço dos dois dias anteriores, o pecaminoso habitual alambazar de ovos mexidos, bacon frito, presunto, queijos… uma combinação perfeita destruidora da anatomia deste corpinho sofridamente edificado em bicicleta elíptica, bagagem colocadas nas motas, uma agradável surpresa:
Com um sorriso de encantar, disse-nos a recepcionista do VillaHotel que o parqueamento das motas na garagem era grátis.
Partimos com paragem agendada em Lamego.
Felgueiras, Lixa, Amarante, Mesão Frio, antes de Peso da Régua, uma pausa para umas panorâmicas fotos sobre o Rio Douro, sempre espectacular sobre o leito serpenteado, uns comentários sobre o excessivo trânsito visto a circular naquelas manhosas estradas, sobretudo camiões, o pagamento de portagens nas vias Scuts a isso os obrigou, Peso da Régua, Lamego.
Estacionamos as motas, duas por espaço, num parque com parcómetros na avenida frontal ás Escadarias que dão acesso ao Santuário dos Remédios.
Libertos dos capacetes, e sempre com a pressa do costume, partiu o Nosso Grande Comandante à procura de umas “lembranças doces”. Retirei com calma o bilhete de pagamento do estacionamento. Volvidos alguns minutos, abeirou-se de mim o guarda Municipal, vigilante dos parcómetros, que me disse não podermos estar ali estacionados.
- Porquê? Perguntei-lhe.
- Nos locais com parcómetros só os carros podem estacionar
- E as Motas?
- Só se tiverem um espaço identificado com placa de Parque para Motociclos.
- E aqui onde está?
- Não há, não existe neste parque pago.
Revelei-lhe com honestidade que tal desconhecia e que até tinha tirado o bilhete, que comigo mantinha. Disse-me ter visto esse meu gesto. Também desde logo me disse, e aos meus companheiros que se juntaram, que não nos iria multar e que tal só sabia, porque um colega seu, motard, o tinha informado.
Falamos da descriminação a que os pobres motociclistas estão sujeitos. Contei-lhe o meu exemplo. Pago o triplo em valor de selo que pago pelo carro e estou proibido, mesmo pagando, de estacionar A Minha Mota em parques com parcómetros; nas Scuts, rolo com duas rodas, ocupo metade do espaço, e pago como se rolasse com quatro e ocupasse o dobro do espaço. Só neste Portugal.
Chegou o Nosso Grande Comandante com o avio feito, informámo-lo do sucedido, desconhecia também a proibição de estacionar Motas em parques com parcómetros, a não ser que para o efeito tenham o respectivo espaço sinalizado.
Despedimo-nos do Agente da Autoridade, contentes por saber que ainda há alguém, que sem febre de multar, com classe e pedagogia nos ensina algo.
Desejou-nos Boa Viagem.
A-24, pela primeira vez ia pagar uns cobres nas recém portajadas Scuts, foi rolar sem ver um carrinho até entrar no IP3.
Almoço próximo da Barragem da Aguieira, tema de conversa, a situação vivida em Lamego, e, decidiu o grupo o trajecto final pela A1, Santarém, A 13 , A2, Vila Nova de Santo André.
Mais um grande passeio realizado em beleza,  mais mil e duzentos quilómetros aos comandos da minha Kawasaki 1400 GTR.
O próximo será até Moreanes, dia 15 do corrente mês de Abril, para comer as deliciosas cabeças de borrego, de animais jovens, servidas desmanchadas no prato, e a divinal doçaria conventual, de origem alentejana, feito com ovos, leite, farinha, açúcar e canela, Sericaia com ameixa de Elvas.
Boas Curvas
e
FELIZ PÁSCOA
Zé Morgas