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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Carta Aberta X - Sr. Presidente C.M. Penamacor

Sr. Presidente
Pela segunda vez, realizou a malta do ano de 61, do século passado do milénio transacto, uma jantarada convívio, no restaurante “O Venetas”.
Foi a minha primeira presença, já que na primeira jantarada, não compareci por motivos profissionais e inadiáveis. Ficou-me a mágoa de não ter participado.
Desde essa altura que tinha em mente uma ideia para apresentar, e que agora aqui me proponho revelar a Vª. Exª.
Surgiu-me, ao ver o Madeiro de Penamacor, 2008, o maior de Portugal.
Era grande, muito grande, demasiado grande, brutalmente grande.
Maior que todos os anteriores, ou muito mal empilhado - arrumado!?
Isso assustou-me, continua a assustar-me, a continuar assim dentro de um futuro próximo, não haverá sobreiros no concelho de Penamacor.
A lenha acaba, o Madeiro morre, a tradição esfuma-se.
Ninguém quer que tal aconteça.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, todos nos adaptamos ás novas circunstâncias e realidades.
Registo com particular alegria, saber que a tradição durante longos anos, só de homens, conta desde há já algum tempo com a participação das “moçoilas” do ano.
Essas criaturas, Mulheres, que são a forma superior da beleza, acima da qual nada mais há a dizer, há muito que o deveriam ter feito. Ter-se-iam pintado… quadros belos, de outra cor.
Os meus parabéns ás pioneiras.
Mas a mudança deve continuar, obrigatoriamente.
Sr. Presidente
Todos conhecemos os danos que o planeta sofre com as mudanças climáticas, e que cada vez mais se agravam. Prova disso é a cimeira da ONU sobre alterações climáticas, que começou há dois dias em Copenhaga, onde os milhares de delegados dos 192 países presentes, assistiram à projecção de um filme acerca das consequências catastróficas do aquecimento global. Temos que reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. A queima do madeiro liberta alguns. Perpetuar a tradição não implica a “brutidade” dos madeiros a que nos últimos anos temos assistido.
É brutal o potencial energético contido naquelas montanhas de troncos de sobreiros. Sem contar com o perigoso abuso que é deitar para a fogueira, pneus e óleo queimado.
Já aconteceu por várias vezes, as persianas das janelas de algumas casas da praça derreteram, devido ao forte calor gerado. Situação inadmissível. É igualmente um desperdício de recursos, humanos e materiais, as soluções usadas, os bombeiros a controlarem a queima com o auxílio de carros e água.
Gostava de voltar a ver as imagens que ainda guardo na minha memória do meu tempo de menino, do arranque do madeiro, feito na noite - madrugada do dia 8, a chegada à vila, religiosamente à hora de saída da Missa do Meio-Dia, do dia 8 de Dezembro.
No meu ano, 1981, isso se cumpriu.
Entrámos na Vila e chegámos ao alto da praça, orgulhosamente transportados num carroça puxada por uma junta de bois, pertença de “Joy Manata”.
Os primeiros troncos foram descarregados e empilhados à força de braços.
O baile do Madeiro de dia 8, apinhado.
O acendimento no dia 24, no meu ano assim o foi, porque, um grupo de duros mancebos unidos, Zé Morgas, Luís “Pé Leve”, O Nalgas, Borrego, Manta, Quim Amaral, Vítor Jack, infelizmente já falecido, Tó Maria, Esteves “O Guedes”, Canês “Papagaio do Rato”, Chico Abreu “O Socratiniano”, (assim apelidado pelos meus companheiros motards, no primeiro passeio realizado a Penamacor) e outros, fizeram de guardiões do madeiro durante todas as noites.
Depois de aceso, era sempre uma festa o “coçó ó madeirinho” com robustos cajados de pau de marmeleiro, (os que eu julgava roubar ao meu avô materno, que na realidade eram por ele ali deixados para o efeito, evitava assim que sumissem os que lhe convinha), cujo manejo exigia pulso forte e habilidade.
O convívio puro das gentes, nas mais adversas condições de tempo, chuva, frio, neve, depois da saída da Missa do Galo, a festa…comes e bebes, que se prolongava noite fora até à manhã do dia 25.
O Madeiro, anos havia em que chegava aceso até ao Dia de Reis, celebrado no mês de Janeiro já do ano seguinte.
Sr. Presidente
Voltando à ideia, aproveito o momento para revelá-la:
Se não queremos que o madeiro acabe, temos que plantar sobreiros, sobreiras, avivar o sobreiral. Queremos cortiça, bolota, madeira compacta e rija, carvão de sobro…e como tudo morre, até as árvores, no final troncos para o madeiro.
Perdoem-me a minha ignorância, mas desconheço em absoluto qual a melhor data do ano para plantar sobreiros e como se faz.
Sabê-lo-ei.
E esta é a data chave. Cada vez as pessoas são menos no concelho. A quem está fora, há que aliciá-las a voltarem mais vezes ás origens, mas com festa.
Juntaram-se as moças aos moços, juntemos também: residentes, emigrantes, imigrantes, migrantes, etc; os que passarei a denominar de “Madeiro de ...":
Bronze - ( 10 anos depois da 1ª participação)
Prata - ( 25 anos depois da 1ª participação) e
Oiro - ( 50 anos depois da 1ª participação )
Quero dizer, reunir em data: dia e mês a combinar, (a rapaziada do ano, após pesquisa, elaborará lista com os condecoráveis, e fará chegar aos “Madeiro de ...” o convite por carta, telefone, sms, e-mail, são muitos os meios à disposição ); propícia à plantação de novas árvores, e teremos aqui uma função pedagógica, ensinar a quem pretende arrancar, que primeiro é preciso semear, plantar, e como se faz; cada participante plantará no mínimo uma: a rapaziada do ano do madeiro, e quem o tenha feito há 10 (bronze), 25 (prata) ou 50 (oiro) anos.
Junta-se assim a malta com 20, 30, 45 e 70 anos.
Escolhido o local onde será feita a plantação, aí mesmo se fará uma “grelhada” bem regada, seguida da condecoração dos “Madeiro de bronze, prata e oiro".
Uma coisa simples, um tronco de madeira pintado, que valerá apenas e tão só pelo seu simbolismo.
Mais, estou certo de que colherão os mancebos do ano, algumas valias com a realização de tais condecorações. Levará a generosidade e o agradecimento, a contribuir com “uns cobres” para um fundo necessário à realização do madeiro e eventos associados:
comida e bebida gratuita para todos na noite do arranque, e "tocador" no bailarico de dia 8.
Quanto ás enormes quantidades de lenha queimadas, tal torna-se desnecessário, para manter a tradição, basta uma pequena pilha, como antigamente, e como feito no meu ano, deitar-lhe o fogo antes da Missa do Galo. Haverá brasa e borralho quente suficiente, para os fiéis e restante povo, se aquecerem no final da Missa do Galo e noite fora.
Deixo a ideia. Há que passar às acções.
Penso que seria legítimo, a Junta de Freguesia, tal como faz com o Magusto, ser a entidade organizadora, orientadora dos mancebos. Conhecerão sem dúvida alguma, os elementos da Junta de freguesia, locais onde se possa plantar umas árvores, fazer a tal grelhada, bem regada, onde existirão umas árvores secas para derrube, e posterior queima.
Eleve-se o Madeiro, a mais uma imagem de marca do nosso concelho, pela Excelência da Qualidade, e não pela brutalidade da quantidade de lenha empilhada para queima.
Será sempre bem recebido, quem queira colaborar, naturais e forasteiros.
Estou certo que muitos comparecerão.
Sr. Presidente
Para terminar e porque é Natal, deixo-lhe aqui um pedido, já não estou em idade de pedir nada ao Menino Jesus, uma prenda de Natal para o Povo de Penamacor, que muito lhe agradecerá:
Veja Sr. Presidente. a vergonha e o real perigo, e a tendência será sempre o constante agravamento, que é o piso desse colossal mamarracho, da autoria dessa Câmara a que Vossa Excelência preside.
Mais um elefante branco para sorver as já depauperadas finanças da Câmara Municipal de Penamacor.
Isso evita-se com a demolição total (já foi parcialmente demolido, veja-se pela foto) do mamarracho do Sumagral.
Mata-se o mal pela raiz.
A todos um Feliz Natal.

Zé Morgas

5 comentários:

  1. Caro Zé,
    Cada vez me conforto mais por teres sido meu Aluno. Melhor dizendo, por ter sido teu professor, o que só me honra. Concordo contigo: num Mundo que corre a toda a pressa para o abismo, querer ter o "maior" madeiro do país, deste pobre país, só pode ser uma inconsciência, um desperdício, uma falta de descernimento e sensibilidade. Para não dizer outra coisa. Realmente, os "alarves" já são de outro Concelho. Como de costume, não te limitas a criticar, mas a construir. A plantação de sobreiros, grandes consumidores de carbono, é de se lhe tirar o chapéu. E eu tiro-o, com entusiasmo. A ponto de também querer estar presente, se a idéia for por diante. O "maior madeiro do país"... Quem é que os mede? Já os ouvi nomear por outras bandas. Também sem honra nem proveito para ninguém, mas para um empobrecimento maior, da Natureza e da inteligência. "O rei vai nu..." - gritou o rapazinho da conhecida história.

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  2. Ora aqui está uma boa ideia!

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  3. É bom ouvir opiniões sensatas sobre esta nossa tão querida tradição.

    Mesmo sem precisar abdicar do título de "maior" madeiro do país – ainda que não veja qual o interesse desta afirmação por si só – o madeiro precisa ser reduzido a dimensões que não ultrapassem o razoável.

    Acredito que com metade da madeira que tem poderia ser ainda detentor desse título. Mas mais importante do que ser o "maior" eu gostava mesmo que fosse o "melhor":
    O melhor pela preservação da tradição, nos pontos em for possível mantê-la inalterada;
    O melhor por se saber renovar, como é o caso de incluírem as raparigas desde há alguns anos;
    O melhor por ter uma componente pedagógica, tomando a tua bela sugestão de plantar sobreiros;
    O melhor por ser uma desculpa perfeita para atrair turistas a Penamacor – para quê estar a inventar coisas novas se temos esta tradição com tanto potencial;
    O melhor por conseguir chamar a Penamacor o maior número de conterrâneos que estão fora numa bela confraternização.

    Se leram com atenção, no concurso que levou à realização da curta metragem sobre o madeiro, não se votava a maior tradição de Portugal, mas sim a mais criativa!
    Vamos então ser tão criativos quanto a tradição nos permitir – a sugestão do "Madeiro de Bronze, Prata e Ouro" é disso um óptimo exemplo – e transformar o nosso tão querido madeiro no MELHOR madeiro de Portugal.

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  4. Subscrevo. A criatividade não se mede pela quantidade. O melhor não tem de ter o mesmo significado de maior. A "alma" do madeiro não se alimenta do tamanho do monte de lenha mas de tudo aquilo que gira à volta da tradição.
    Atrevo-me a sugerir que as propostas do Zé Morgas e do Jorge Portugal - que podem ser compelementadas com outras de igual potencial na promoção e valorização de uma tradição com esta - possa ser alargada e promovida nas aldeias. Penamacor tem falhado no seu papel de lugar central - à escala concelhia - muitas vezes estupidamente agarrado a um bairrismo serôdio que já não faz qualquer sentido nos tempos modernos. Isto não significa de maneira nenhuma a eliminação das especificidades mais locais, tão só, a valorização concertada da riqueza do tronco comum do madeiro de "Penamacor": o melhor de Portugal, no sentido de mais criativo.
    Acompanho o Prof Serrano na intenção de vestir o rei.

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  5. Xendro de nascimento folgo em saber que muitos outros pensam da mesma maneira em relação aos usos e costumes. Não é pelo "tamanho" mas pela qualidade que devem ser mantidos e conservadas as nossas memórias. Se ajudar lembro que existe uma iniciativa Nacional a que muitos Municípios já aderiram para além das aderências individuais e escolas para replantar onde é necessário. PLANTAR PORTUGAL - www.plantarportugal.org/ - Porque não estimular as escolas do Concelho, as Juntas de Freguesia,o Município a fazer campanhas comuns de reflorestação ? Constou-me que não só as árvores secas (sobreiras) são utilizadas para o madeiro...será que o exagero inclui árvores ainda viáveis ?

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