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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Crime no Quartel - Penamacor


Caro amigo Cabanas
O sol brilha no céu sem nuvens, apesar de a noite estar próxima, não há vento e o calor ainda se faz sentir. Estou em Sines, terra do grande navegador Vasco da Gama, Conde da Vidigueira. Reza a história que este mar visto, navegou. Do alto desta minha varanda, enorme, num oitavo andar, olho o oceano Atlântico. Esta é a soberba imagem que vejo, é um quadro de rara beleza. Assim o acho.
Olhar o mar, ouvir o mar, transmite-me uma calma pacificadora. Vislumbro ao longe a praia de S. Torpes e a aldeia de Porto Covo. Foi esta vista que me levou a comprar este apartamento nas alturas, já que habitualmente vivo em Vila Nova de Santo André, num segundo andar, com uma vista igualmente bela, mas diferente, que em muito me recorda Penamacor: pinhal e serras. É um pequeno luxo a que me posso permitir, consoante o estado de espírito, assim escolho o local onde ficar. Hoje, apetece-me respirar um ar com cheiro a mar, sentadinho aqui, na minha “cadeira dos sonhos”, e permitir ao meu pensamento, liberdade para um pequeno exercício de memória e recordar locais visitados nas inúmeras viagens que já fiz, pelo país de lés a lés e por esse mundo fora, que em comum têm vistas fabulosas, deslumbrantes e como limite ao olhar apenas o infinito.
Isto surge, porque, estive durante seis dias em Penamacor, de 7 a 12 de Fevereiro, no gozo de um merecido descanso. Num dos dias, fui almoçar ao recém inaugurado restaurante, “O Quartel”. Comi umas costeletas de borrego grelhadas, acompanhadas com arroz e um delicioso esparregado, no que toca a pinga, benzi uma garrafinha da Herdade de Pias. Não me fez papo. Soterrei tudo com duas velhíssimas aguardentes.
Enquanto o repasto ia degustando, com o olhar ia observando a obra realizada.
Sem querer entrar em grandes reparos, apenas três coisinhas:
Primeiro: Aquelas janelas!!!
Fiz a minha escola primária no edifício onde hoje funciona o Centro de Saúde. Eram as zonas de recreio, recreios ainda separados para as meninas e os meninos, onde hoje passa a estrada. Todos os que como eu, estudaram nessa escola, sabemos que o edifício onde foi inaugurado o restaurante “O Quartel” era a antiga cozinha da extinta 1ª Companhia Disciplinar, vulgarmente conhecida por quartel. Todo o Penamacorense sabe muito bem quem eram os clientes da 1ª C.D., eram todos aqueles para quem o Forte de Elvas já era pêra doce. A seguir ao Forte só as C.D’s, os alojavam.
Existia uma outra em Cabo Verde, na ilha de Santiago, na cidade do Tarrafal. Já fiz uma visita ao que resta…
O povo de Penamacor, na gíria tratava os clientes do quartel, os presos, por “corrécios”
Neste jogo de recordações, julgo perceber agora a inspiração orientadora da arquitectura das janelas do restaurante:
--- Companhia Disciplinar, quartel, prisão, presos, sol aos quadradinhos, janelas aos quadradinhos, vista aos quadradinhos, paisagem aos quadradinhos.
Mergulhando nas minhas viagens, como recordo o destaque dado por todos e tudo, aos locais panorâmicos, sejam eles naturais ou artificiais.
Recordo aqui três, entre dezenas, magníficos locais naturais que visitei:
Cabo Verde, ilha de S. Vicente, Monte Verde. É o ponto mais alto da ilha com uma elevação de cerca de 725 metros. Fui num carro alugado.
Espanha, junto aos Picos da Europa, (passeio de mota, onde nos gélidos lagos, desfraldei a bandeira de Penamacor que sempre me acompanha, para tirar uma foto de grupo), obrigatório visitar Fuente De. Subida de teleférico, vista de indescritível beleza. Elevação 753 metros.
Brasil, Rio de Janeiro, Pão de Açúcar. Uma viagem de teleférico, duas subidas:
Primeira subida: Praia Vermelha – Morro da Urca.
È começar a disfrutar, a perder a praia de vista. No Morro da Urca, aconselho os mais medrosos, a beber um “Chopinho”, uma “caipirinha” ou uma “caipiroska”, qualquer das escolhas, dupla, de preferência, no bar que era pertença do famoso ladrão do comboio, considerado o maior roubo do século passado, Ronald Biggs, para enfrentar a
Segunda subida: Morro da Urca - Pão De Açúcar
Mais longa mas mais rápida, o teleférico sobe a uma velocidade metro /segundo superior à primeira subida.
O passeio tem como cenário 360º de paisagens deslumbrantes, tais como: as praias do Leme, Copacabana, Ipanema, Flamengo, Leblon; Pedra da Gávea, o imponente maciço da Tijuca e o Corcovado, (também é belo o passeio de trenzinho para aí chegar), com a imagem do Cristo Redentor; Baía da Guanabara, com a enseada de Botafogo; centro da Cidade; Aeroporto Santos Dumont; Ilha do Governador; Niterói; Ponte Rio- Niterói; (mais antiga que a nossa Vasco da Gama, mas com a mesma imponência), e, ao fundo a Serra do Mar, com o pico "Dedo de Deus".
Antes da descida, tal como eu o fiz, para mais tarde recordar, tirar uma foto, no Pão de Açucar ou no Monte da Urca, com uma qualquer, porque todas o são, bonita, ternurenta e curvilínea carioca, estampada no fundo de um prato. Há apelos e tentações a que dificílmente resisto. Tenho quatro pratos de recordação. São arte numa parede do meu apartamento em Santo André.
Quanto a lugares artificiais, puros cartões de visita panorâmicos:
Alemanha, recordo-me a fortuna que paguei em Colónia, para almoçar num restaurante panorâmico, erguido numa torre lá nas alturas com rotação a 360º. Avista-se Colónia toda.
Suécia, Estocolmo, na Kaknästornet a 155 metros de altura, avistam-se alguns milhares das cerca de 24000 ilhas que compõem a cidade. Os suecos afirmam com convicção que é o número exacto de ilhas que forma a cidade.
Gotemburgo, Liseberg, fabuloso parque de diversões, não perder uma subida à torre panorâmica. Quando subi o elevador chiava muito. Assustava os mais sensíveis.
Dinamarca, Copenhaga, Tivoli Gardens, um parque de diversões célebre pelos seus concertos de Verão, fogos de artifício, restaurantes caros e pela sua iluminação nocturna. Aqui, além da inevitável subida no elevador panorâmico com o meu amigo Zeca Cruchinho, comi pela primeira vez umas divinais costeletas de rena no famoso restaurante Hercegovina. Custou uma nota preta.
Mas, também já havia sido "entalado" em Estocolmo, no restaurante Berns, decorado com um trabalho em carpintaria extravagante. Uma só garrafa de vinho, um tinto reserva Barão de Rothschild, produzido em França, custou-me um mês de trabalho.
Pagar uma garrafa de “Barca Velha” parece-me preço de saldo.
Enumeraria aqui dezenas de locais visitados por toda a Europa, Africa, África Negra, Cabo Verde, Brasil, Argentina, Cuba, etc onde os miradouros naturais ou artificias são visitas obrigatórias.
Voltando a Penamacor, o que os meus companheiros de asfalto, motociclistas, viram do cimo desse castelo, aquando do 7º Portugal de Lés a Lés em moto.
Dos dez Lés a Lés realizados pela Federação Portuguesa de Motociclismo, só não participei no 1º, 2º e 3º. É uma constante em cada passeio, a subidas aos castelos e ás serras. A subida ás serras por um duplo prazer: a vista e as curvas.
Permito-me aqui perguntar-te, se sabes qual a diferença para um motard, entre as curvas da estrada e as curvas de uma mulher. Vou-te dizer:
Um motard, nas curvas da estrada, deita-se.
Um motard, nas curvas de uma mulher, afunda-se.
Sei como é difícil classificar a vista mais bonita, mas bato-me entre os meus companheiros, que o quadro visto do alto da Torre de Menagem em Penamacor, partilha ex aequo, nota máxima, com todas as demais bonitas vistas, já vistas.
E não o faço inocentemente.
Escudo-me nos elogios que ouvi das vezes que levei o meu grupo de mototuristas a Penamacor. Todos ainda recordam como foram recebidos em 98, com banda, a Banda de Aldeia de João Pires e a recepção no Salão Nobre dos Paços do Concelho com discurso de boas vindas e Porto de Honra. Estavas lá. A jantarada nesse ano foi na Meimoa, A Princesa da Beira, no restaurante Calhambeque. Visitamos Monsanto, Idanha, Senhora do Almortão, etc. Éramos 78.
E em 99, não foi passeio, foi uma autêntica peregrinação. Jantar no refeitório da Senhora Do Incenso, eu e todos os meus companheiro oferecemos os pratos e os talheres, ao Padre Manuel para apetrecho do refeitório. Foi a entrega do material , 100 unidades de cada, novinhas, feita pelo Padre José Fernando, o Padre motociclista. Nessa noite assistimos na feira das actividades a uma actuação dos Santos e Pecadores. Nesse ano antes de rumar a Sortelha ainda presenteamos os bombeiros com um cheque. Serviram-nos um pequeno almoço de luxo, como agradecimento deixámos um cheque com o dobro do valor gasto nos ingredientes servidos. Sempre foram cinquenta contos. Antes do regressa ao Alentejo, tempo houve para que o Padre José Fernando celebrasse uma missa na Capela de Nossa Senhora do Incenso. Tudo isto para meu grande regozijo mantêm-se vivo na memória dos meus companheiros motociclistas. Estiveram em Penamacor nesse ano 103 motas e muitas penduras.
De tudo, poucos se lembram, mas todos se lembram, das fenomenais paisagens naturais que observaram. O motociclista "curte a vista".
Como vivo se mantêm, também, na memória das gentes de Penamacor a nossa presença. Muitas são as vezes que me perguntam, e curioso gente mais idosa: Então quando é que cá tráz outra vez as motas? Respondo que um dia. Gostámos tanto de ver, é o que ouço.
Acredito que quem me faz esta pergunta nem sabe o que lá fizemos ou deixámos, apercebo-me que mantêm vivo nas suas memórias aquele quadro colorido que é ver tanta gente em tanta moto, surpreendente mesmo, o gosto de ouvirem o roncar dos motores. Em breve farei a 5ª peregrinação a Penamacor com visita as todas as freguesias do concelho sem excepção. Tenho já o percurso estruturado, aliás já o "bati" de carro com o meu irmão Carlos num desses dias que aí estive, são 170 km, na maioria por caminhos rurais. Quero-lhes mostrar o concelho profundo. Dificuldade vai ser o alojamento. Estive com o meu grupo há pouco tempo na inauguração de um Hotel / Spa em Aracena. Aproveitei para visitar as Grutas Maravilha e o museu do "jamon". Disse-lhes na altura que estaria para breve a inauguração de uma unidade hoteleira em Penamacor. Recebi a promessa da presença de todos na inauguração. Aproveitaria a data e as festividades associadas.
Nem sei como lhes vou dizer que o hotel...apenas está no papel.
Mas, a vista, o olhar..
É esta vista, este deleite ao olhar, que não nos podem privar no Restaurante “O Quartel”.
Aquelas janelas até lá poderiam ficar, com função de portadas exteriores e com abertura para o exterior. Como janelas interiores, 1ª janela, apenas vidro, sómente vidro. A escolha é farta. Se não me trai a memória do que vi, o bar, cafetaria, onde tomei o primeiro café da manhã, nesse mesmo quartel, a porta é em vidro, toda a fachada é vidrada. Respira-se cor que ajuda a colorir a vida, apesar de o elemento geológico envolvente interior ser o granito.
Um último reparo sobre as janelas: A agravar o crime que é privar o olhar de tão soberba vista, não garantem isolamento térmico algum, só não vê quem não quer, a fita de pintor usada para calafetar as ditas cujas. É notória a corrente de ar que passa nas janelas que não têm a tal fita.
Segunda: No 1º andar o que fazem aqueles restos de pilares? São parte integrante da decoração? Acinzentar o ambiente?
São inspiração fruto das antigas guaritas das sentinelas? As que me lembro de ver em criança eram circulares.
Terceira: A porta de acesso ao terraço.
Sentado, ao olhá-la enquanto comia, transmitia-me algo, quase medo. Finalizada a refeição resolvi dar uma espreitadela pelo terraço, o tempo tinha melhorado. Saí com uma “velhíssima” em mão, e educadamente fechei a porta. Tinham entrado três clientes no restaurante. Não tinham direito a ser incomodados pelo frio. Observei, contemplei a paisagem, como se via nitidamente a aldeia mais portuguesa de Portugal, Monsanto. Que excelente cartão de visita, como complemento a tudo o que se vê.
Resolvi voltar ao restaurante.
Oh meu Deus!
Um súbito calafrio, percorreu-me toda a espinha, senti-me petrificado. Estava "engaiolado" naquele terraço, a porta não têm abertura pelo lado exterior.
Viajando pelas minhas viagens, dou comigo no Senegal, país que atravessei na minha ida por terra à Guiné – Bissau, ao volante do meu camião Mercedes, onde na cabine levei hasteada a bandeira da minha terra, uma bandeira enorme. Percorreu Bissau para claro espanto de quem olhava.
Voltando ao Senegal e à porta.
Depois da obrigatória foto com todo o grupo que me acompanhou, com o Lago Rosa por pano de fundo, resolvemos parar dois dias em Dakar. Apesar das contrariedades do início de viagem, do atraso que tivemos na travessia do Saara Ocidental, circulámos em fila tipo comboio com escolta militar, e dos sofridos 470 kilómetros de deserto, areia e dunas, feito na Mauritânia com o meu velhinho camião de 1969, de apenas um eixo motriz, a partir de Nouakchot, capital da Mauritânia, o percurso fez-se por estrada alcatroada de qualidade duvidosa.
De Nouakchot até Dakar foi conduzir que nem louco. Paragem na fronteira, cumprir as formalidades exigidas, travessia num barco, que por cá decerto até para derreter nos altos-fornos da siderurgia teria problemas, breve descanso em Saint Louis e chego a Dakar dentro do prazo previsto. Fiz o impensável: tiradas de 16 a 18 horas de condução que ocupava com pensamentos, tal como no deserto.
O deserto, algo impressionante, é ao mesmo tempo monótono e fascinante. Durante o dia só se vê areia, à noite só se vê estrelas. Com o camião parado ficava a sós com o silêncio das dunas. Um silêncio ensurdecedor. O deserto tem uma força avassaladora, faz-nos sentir pequeninos. Mas também têm magia. Numa outra viagem anterior, de jipe, por Marrocos, fiz um passeio de camelo no deserto do Erg Chebbi, à Duna Grande, para ver nascer o sol. É simplesmente inenarrável de magnífico que é. Aquela paisagem de nada despertou o meu interior de tal maneira que, para mim, as coisas nunca mais foram iguais. Aquele lugar, tão incrivelmente bonito quanto duro, obriga a uma viagem ao interior de nós próprios, numa reflexão sobre nós e as coisas que realmente importam.
As maiores lições de vida que tive aconteceram no deserto. No nada. Onde o nada é tudo.
No deserto há tempo para pensar, aprendi a pensar, e por pensar decidi parar em Dakar. Em verdade era imperativo parar, e saber se era possível atravessar a Gambia. Sabíamos desde a partida, que havia problemas com grupos rebeldes armados, mas sempre na esperança que fosse possível a travessia em segurança. Fomos aconselhados a não tentar. Era muito perigoso. Tivemos de alterar o percurso: Dakar, Tabacounda e entrar na Guiné - Bissau pelo posto fronteiriço em Pirada. Tal obrigou-nos a fazer mais cerca de 900 kilometros. Já tinha visitado o Lago Rosa antes da chegada a Dakar, visitei a cidade e pedi um conselho para mais um passeio. Tinha algum tempo disponível. Recomendaram-me um passeio de barco à ilha de Goré. Assim o fiz.
Goré, fiquei a saber, é famosa por ter sido casa de escravos, onde os oeste - africanos ficavam guardados na aterradora “Casa dos Escravos”.
“A porta do não retorno", é o nome dado à última porta da "Casa dos Escravos", que desemboca no mar, último porto para africanos de nacionalidades diversas enviados para as Américas,
A Casa dos Escravos, transformada em museu, ainda guarda as balanças nas quais eram pesados homens, mulheres e crianças.
Naquele terraço do restaurante "O Quartel", frente a uma porta sem manipulo de abertura, foi esta imagem que vi na ilha de Goré, "A porta do não retorno", que primeiro me veio ao pensamento. Percebi então porque sentado, ao olhá-la do interior do restaurante enquanto comia, me transmitiu aquela carga negativa, vizinha do medo.
Que estranha coincidência! Não começaram as obras de remodelação desse edíficio, agora restaurante "O Quartel", com a finalidade de uma futura utilização como polo do museu? Acho que ouvi por aí em Penamacor.
Não façamos de uma visita ao terraço uma ida sem retorno
Amigo, urge devolver mais dignidade a esse espaço, luz, bem-estar, não é espaço que se recomende a quem sofra de claustrofobia, as janelas perturbam o olhar e a porta inspira medo.
Há que proporcionar a quem frequenta o restaurante, aquilo com que a localização o brindou: uma soberba e panorâmica vista.
Sem querer que se castigue quem tal crime cometeu, no mínimo exije-se que se corrija o crime. No rés-do-chão aquelas portas nunca deveriam ter virado janelas.
Em verdade poderiam até, entre as portas existentes, abrir duas novas janelas e assim dar ao espaço: expressividade, vista, cor, um equilíbrio de funções que tanto necessita.
Creio que pesou na orientação arquitectónica a arcaica ideia de muito respeito pelas condições climáticas de muito frio no inverno e extremamente quente no verão. Felizmente que hoje existem outras soluções e outros materiais.
Ouvi em Penamacor também, que assim foi, porque o arquitecto assim o exigiu.
O arquitecto!!!
Mais uma vez eu e as minhas viagens em grupo, a esse belo, misterioso e enigmático país que é Marrocos.
Erfoud, cidade ás portas do deserto, entramos na "Maison Touareg", local onde se compram bonitas carpetes, antes de seguir o grupo viagem rumo a Ouarzazate e Marrakech. Grande surpresa, além da já habitual oferta do chá de boas vindas, informou-nos o guia que nos levou ao deserto, que iam confeccionar uma pizza, uma pizza tuaregue.
Espanto geral e uma primeira reacção:
- Eh pá, temos pouco tempo, diz admirado o meu grande amigo arquitecto Lima.
- O tempo aqui não conta, apenas passa, apenas passa ... respondeu o guia.
Veio o chá, e chegou um grupo a tocar tambores do deserto e quarquabus. Tocaram enquanto confeccionavam a pizza tuaregue.
Veio a pizza, numa frigideira enormíssima, rondaria o metro de diametro, comemos todos: grupo, tocadores, donos do espaço.
Seguiu-se depois uma demorada exibição dos belíssimos tapetes tuaregues, com explicações detalhadas sobre a complexa simbologia dos desenhos. O meu amigo e supervisor de turno, Chico Carvalho, também participante nas peregrinações de moto a Penamacor, com a sua já conhecida perspicácia para o negócio, comprou uma enorme e bela carpete, pese embora o meu patriotismo, em nada deve ao que de melhor se faz em Arraiolos.
Passámos assim o dia. Era a primeira viagem do meu amigo Lima. Já tínhamos dormido no deserto num albergue, onde havia um livro de registo de opinião dos hóspedes. Estava eu por mero acaso ao seu lado quando ele registou a sua opinião. Registei a minha, sem contudo, não deixar de olhar a dele. Desenhou um bonito esboço do albergue com uma nota de elogio.
Olhei os riscos e lembro-me de então lhe ter perguntado?
- Lima, na realidade o que é um arquitecto, tu que és um arquitecto?
- Um arquitecto, em verdade, ainda é alguém, que não sendo demasiado másculo para ser engenheiro, também não é suficientemente efemeninado para ser designer.
Ao ver obras assim, percebo agora na plenitude, o significado daquela resposta.
Não se estrague o que de muito bom temos, que infelizmente é pouco. Estragar é um luxo a que não podemos ficar alheios.
Para terminar, a promessa de que tudo farei, tão rápido quanto me for possível, para descobrir toda a malta finalista do nosso ano de 77 / 78, do E.N.S.I, infelizmente extinto, afim de realizarmos a desejada almoçarada - convívio. A minha vivência epicurista da vida a isso me obriga.
E porque a vida é curta, no próximo fim de semana, rumarei até Mérida, antiga colónia romana, designada por Emerita Augusta, cidade património mundial, em mais um dos meus passeios mototurísticos. O Hotel Velada Mérida espera-me, tal como a vida da noite, que tanto fascínio exerce neste teu pobre amigo, assumidamente, celibatário não abstinente

Com um abraço amigo, fica bem

Zé Morgas

2 comentários:

  1. Fiquei cansado, Zé!!! Não de ler um texto tão bonito, mas de me teres feito "galgar", atrás de ti, numa corrida desenfreada, louca, de fazer doer - já não tenho pernas para tais andanças - por esse Mundo lindo que um Arquitecto Superior nos entregou e em que arquitectos menores nos vão atormentando, querendo, a todo o custo, "cegar"-nos. Nem que seja com portas de não retorno...as piores, pois que incapazes de um "mea culpa" com emenda. Uma desgraça. Felizmente, passei por aqui e "ainda há luar". Obrigado.

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  2. Brutal a parte de marrocos

    Obrigado morgas

    joao vicencio

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