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terça-feira, 21 de abril de 2009

Carta Aberta I - Sr. Presidente C.M.Penamacor

Sr. Presidente da Câmara Municipal de Penamacor
Sei quanto o tempo lhe é importante, no entanto não resisto a roubar-lhe algum, no relato de algumas situações, que como Penamacorense me afligem, me apavoram mesmo.
Há pouco tempo que vim de Penamacor, onde estive três dias no gozo de mais uma merecida folga. No sábado, dia 11, fui beber o meu primeiro café da manhã ao bar do quartel.
Espanto meu! Vejo um portão, melhor, uma grade, duas meias grades, aquilo mais se assemelha a uma grade, no túnel de acesso à zona do bar e do restaurante. Na última vez que ali tinha passado, aquilo não estava lá. Interrogo-me sobre o que faz ali aquela grade. O que aconteceu? Qual a finalidade? Mais um mamarracho em Penamacor, não bastava o já famoso mamarracho no largo do Sumagral.
A propósito Sr. Presidente
- Já pensou em devolver o largo em pleno ao Sumagral? Demolindo por completo esse vergonhoso mamarracho. Com mamarracho não há largo.
Sr. Presidente
Permita-me recordar-lhe aqui um dos 7 Hábitos Maximizer, de Franklin Covey. È o hábito 2 dos 7 Hábitos das pessoas Altamente Eficazes: “Comece com o fim em mente
Sr. Presidente
Se tal se tivesse verificado, nunca o mamarracho teria sido feito, E mais uma agravante, ele esteve maior, gastaram ferro e cimento, foi parcialmente demolido, foram custos para os contribuintes do concelho. Eu vi, e tenho em arquivo, fotografias em suporte digital, da demolição. Gentilmente as cederei, caso a Câmara queira editar um livro com a história do mamarracho.
Sr. Presidente
Caso se candidate ás próximas eleições autárquicas, deixo aqui uma sugestão para um slogan ganhador:
Comigo a presidente, o mamarracho do Sumagral vai abaixo
Voltando à grade. De louvar apenas a engenhosa forma de fixação da grade à parede. Uma forma hábil de resolver uma medida mal tirada. E como põe a nu a falta de prumada da parede, visível nos parafusos de fixação da grade, que ao mesmo tempo servem de afinadores. É para despachar que a inauguração está para breve, e olho pouco observador, nada nota. Bebi o meu cafezinho, olhei nova e atentamente aquela grade, voltei à esquerda, e decidi ver ali do alto, as obras da via estruturante. Novo Espanto!!! Reparei que as escadarias de acesso ao jardim estavam bloqueadas. Porquê? Verifiquei então que há obras no jardim. O que vão ali fazer? Mais algum mamarracho vai nascer?
Senti um enorme pavor.
Como muitos meninos da minha geração, passeei horas nesse jardim, comi muitos geladinhos (água congelada com corantes de groselha, limão, laranja, sei lá que mais…) na barraquinha que lá existiu, várias foram as vezes que lá andei de bicicleta, e… o que isso irritava o jardineiro. Actos inocentes próprios da rebeldia de menino. O tempo que passei sentado nesses bancos de pedra… As horas que perdi olhando a linha do horizonte, a tentar adivinhar o que para além dela havia.
Aí, nesse espaço, nesse jardim, criei o meu mundo de ficção, o meu mundo imaginário, mundo ao qual me transportei e me fiz viver. Era o meu mundo de sonho, sonhos de criança, e que alguns, ainda hoje, alimento com a mesma inocência. Aprendi a andar de motorizada, com 10 anos, numa Flandria, que hoje guardo aqui na minha garagem, em Santo André, fielmente recuperada, no largo do Reduto e na estrada da Cavaleira, ao tempo, ainda tudo por calcetar e alcatroar. Buracos eram mais de mil, contorná-los tornou-se um divertimento.
Sr. Presidente
Era aí nesse banco de pedra, olhando as estradas, lá para o lado da Sr.ª dos Caminhos e a outra para o lado dos Castelos, que vezes sem conta sonhava por lá passar, a tripular a Flandria do meu pai. Com muita persistência, convenci-o a deixar-me tirar a licença de condução de velocípedes com motor auxiliar. Foi no ido ano de 1975, dia 25 de Setembro. Tinha 14 anos. Outro tempo, tempo do século passado. Era chefe da secretaria da Câmara Municipal de Penamacor o Sr. Júlio Martins Pinto. Foi o próprio Sr. Júlio Pinto que me fez um breve exame: 10 perguntas orais sobre código, mandou-me dar 1 volta de motorizada pelo terreiro e fiz um exercício de perícia: o célebre 8.
- Estás apto, foi o que me disse.
Esperei quase uma hora enquanto ele batia a “carta” à máquina. Assim que apanhei a “Verdinha” nas mãos, porque verde era a cor do impresso, ainda é, guardo-a religiosamente, a primeira coisa que fiz, à revelia do meu pai, se lhe pedisse autorização não ma concederia, foi meter-me à estrada, e realizar o que durante 3 ou 4 anos sonhei nesse banco de pedra do jardim:
Uma Grande Viagem, que não era de todo uma viagem grande.
Foi o desabrochar da minha alma errante de motociclista viajante:
Penamacor, Sr.ª dos Caminhos, Memória, Águas, Aldeia do Bispo, Ponte das Taliscas, Àgua Férrea, Penamacor.
Com milhares de kilómetros desde então percorridos por Portugal, Espanha, Marrocos, jamais senti a mesma felicidade ao volante de uma mota, tão forte, tão marcante como naquele dia.
Sr. Presidente
Esse jardim foi palco de sonhos, de histórias, foi olhar atento, foi confidente… enfim… esse jardim habita no imaginário de todo o Penamacorense. Aceito que necessitava alguma intervenção. Mas, não o destrua. Quero acreditar que fará desse jardim um Presépio, um Presépio para o Menino que vemos todos os anos, no Natal, frente aos Paços do Concelho. Não faça do jardim uma Árvore de Natal para o Pai Natal.
Como diz Manuel Alves:
- “ O Natal é a festa do nascimento do Menino. O Menino Jesus que eu conheci visitava os nossos sonhos e a nossa infância era embalada pela inocência. Pobre e carenciada, mas pacificada pelos sonhos. E veio o Pai Natal. Veio e depressa encontrou, no frenesim de quotidianos agora dominantemente urbanos, caldo de cultura para se impor. A árvore de Natal corresponde aos novos modelos consumistas. O comercialismo natalício contêm um comercialismo de sentimentos padronizados. Não soubemos / sabemos responder à colonização que nos assalta. O pai Natal substituía / substitui o Menino que chegava com a nossa condição infantil. A árvore de Natal tomava o lugar do Presépio e transformava-se na montra onde o comercialismo natalício se nos expõe. Deixámos de ter no Natal a simbólica do (re)nascer e passámos a ter um prosaico distribuidor de representações e prendas em série. O mistério do Natal ficava / fica esvaído de espontaneidade, inventiva e sentimento. Desligava-se / desliga-se do que a história tinha feito.”
Sr. Presidente não nos queira desligar / apagar da história feita no jardim.
Sr. Presidente
Com as obras de remodelação do jardim, têm agora uma oportunidade soberana, para corrigir uma situação no Poço do Escondidinho, antes que a abóbada caia. Anexo duas fotos, repare no perigo que ali está. Aí sim, em nome da segurança e porque as crianças o merecem, fica bem uma grade, para impedir que alguém caia no poço. Urge reparar. Fica aí tão perto…tem tudo no jardim... é só uma pequena deslocação. Cabe-lhe a responsabilidade moral de ordenar que se repare antes que desabe.
Voltando à via…
Olhei então lá do alto para as obras da via estruturante. Que nome pomposo para mais um mamarracho. Pergunto-me qual a utilidade pratica daquela via para Penamacor. Nenhuma, Sr. Presidente, assim o penso. Num futuro!???
No presente há outras prioridades. Sabe melhor do que ninguém como o concelho está a ficar deserto. Além da necessidade de fixar quem está, é imperioso que uns regressem e novos venham. Há que criar condições para tal, e não é muito difícil. Como se fixa quem está?
Permita-me aqui Sr. Presidente, e mais uma vez usando um exemplo pessoal, recebi há pouco tempo na minha caixa de correio, um invólucro mensagem com os valores e taxas / percentagens, para pagamento do Imposto Municipal sobre Imóveis. Pago IMI em 3 concelhos: Sines, Santiago do Cacém e Penamacor. A taxa / percentagem mais elevada que pago, é a paga no concelho de Penamacor. Se cópia quiser para saber qual as taxas praticadas nos concelhos citados.
Sr. Presidente
Com toda a franqueza que me é característica lhe digo: Tal como as fotos da demolição parcial do mamarracho do Sumagral, também a copia deste documento pelas finanças enviado, está ao seu dispor. Gentilmente lhe cederei o que pretender. Outra forma de ajudar à fixação de quem está, e, até de outros interessados atrair, passa pela ajuda na recuperação e construção de imóveis. Falo de projectos, licenças, PDM ajustado à realidade local, etc. Conheço concelhos onde isso acontece: têm vários projectos padrão, elaborados pelos gabinetes locais de apoio técnico, gratuitos. Pela experiência vivida, na entrega de um projecto, nesses serviços da Câmara de Penamacor, fiquei com a absoluta convicção que o PDM dessa Câmara mais não é que um decalque de um PDM de um outro concelho com realidades distintas. Há que alterar o PDM. Se ainda não foi alterado. Ou foi alterado para permitir a construção do mamarracho do Sumagral?
Sr. Presidente
Está na hora de fazer um exaustivo levantamento da real situação do parque habitacional de Penamacor.
Há muitos erros cometidos, mas os erros corrigem-se. O povo do concelho merece ajuda. A câmara pode virar um parceiro social, eficaz, se apresentar projectos honestos. Ajude-se quem está a não partir.
Permita-me Sr. Presidente recordar-lhe aqui mais um dos 7 Hábitos Maximizer, de Franklin Covey. È o Hábito 3 dos 7 hábitos das pessoas Altamente Eficazes:
Dê prioridade ao que é Prioritário”.
Recuperar o casario é prioritário. Não deixar partir quem está, prioritário é. Quanto ao futuro, não tenho dúvida alguma em afirmar que o desenvolvimento de Penamacor passa pelo Turismo. Urge atrair turistas. E é fácil. Cada vez mais se realizam congressos, reuniões, seminários, bivaques, etc, fora dos grandes centros, em espaços mais próximos e envolventes com a natureza. O luxo que temos para oferecer aos adeptos do BTT. O paraíso que existe para os amantes do pedestrianismo. E o que precisamos? Uma vila mais bonita, mais acolhedora, estruturas de apoio, como prioridade as dormidas. Aos anos que ouço a promessa da construção de um hotel.
O que temos:
Além da já estafada promessa de construção do dito hotel, apenas e tão só mais um mamarracho, “Os Castelos” onde a câmara investiu o dinheirinho dos contribuintes, onde supostamente nasceria o hotel. Até penso ter visto o projecto…Mas vi, claramente visto, no papel. Ironia do destino. Esse portão de acesso aos Castelos, guardou durante anos, os mortos num cemitério em Lisboa; guarda agora em Penamacor, com imponência, mais um mamarracho colossal.
O que poderíamos ter. Quase tudo.
O dinheiro gasto na aquisição dos Castelos, o dinheiro gasto na via estruturante, poderia Vª. Ex.ª tê-lo gasto de seguinte forma. Todo o edifício do quartel poderia ter sido convertido numa pousada, tem localização privilegiada, tem estacionamento, tem área para piscina, espaço para um auditório, etc, tem tudo, e o que não têm fazia-se. Inclusive, poderia o custo com o investimento ser feito pelo explorador, os contratos negoceiam-se.
Sr. Presidente
Revele aos munícipes qual as verbas envolvidas com a aquisição dos Castelos, e a construção dos mamarrachos: estruturante e sumagral. Junte a estas verbas, a verba que custou a reconstrução do quartel. Falamos no total de uma verba generosa. Os serviços que lá funcionam para onde passariam?
Sabe o Sr. Presidente que nada custava à câmara, e porque a oferta é muita, são visiveis os anuncios de venda, no centro da vila comprar casario velho, e fazer as obras necessárias, reconstruindo, demolindo, construindo, para as funcionalidades exigidas. Era um enorme passo para o início da recuperação das dezenas de casas velhas que temos em Penamacor. Embelezava a vila. Cada vez mais os contribuintes tratam a maioria dos assuntos fiscais pela Internet, temos um concelho, infelizmente, com cada vez mais, menos contribuintes. Conheço repartições mais pequenas em concelhos maiores, simplesmente, modernas, funcionais e bem apetrechadas.
O museu, poderia a câmara adquirir as ruínas do antigo lagar do Tarouca, é uma área generosa, e estacionamento melhor que o terreiro de Santo António é impossível. Acresce a possibilidade de fazer uma escadaria de acesso directa ao terreiro.
Sr. Presidente
Há soluções infindáveis, pense no que poderia ter sido feito. E porque a centralidade é fundamental, todos os caminhos devem ir dar ao centro. Essa rua 25 de Abril, antiga rua Vaz Preto, a partir dos acessos norte e sul da variante viraria Avenida.
Isto, Sr. Presidente, é que é estruturante, criar um esqueleto de desenvolvimento.
Obras como a que está em curso, só matam o coração da vila, facilita apenas quem mais depressa quer fugir, porque a isso os obrigam. Mais, no início do presente século, apresentei algumas sugestões nos serviços técnicos, num formulário que me foi fornecido, com o título “Pensar Penamacor 2020”.
Um Homem pode ser pequeno, mas a vista têm de ser larga e o pensamento têm que ser grande.
Sem querer saber da paternidade da ideia, dá-me algum gozo pessoal, saber que uma das minhas ideias propostas, construir um parque de estacionamento frente à Biblioteca Municipal, demolindo o edifício que foi cavalariça e refeitório, está feito. E se as demais ideias apresentadas não estiverem definitivamente arquivadas, se ainda se mantiverem em stand-by, alimento a esperança de um dia as ver concretizadas.
Sr. Presidente
Nesses dias que aí passei em Penamacor, ouvi dizer que iria ser construída uma rotunda frente ao Lar Dº Bárbara Tavares da Silva. Concordo, conhecendo a dificuldade que é para o trânsito pesado, principalmente os autocarros de passageiros, efectuar a manobra de viragem nas actuais condições existentes.
Um alerta Sr. Presidente:
Tenha presente o que foi a edificação desse Murro da Vergonha. Possivelmente novo muro será edificado no seguimento do já feito. Que o vírus não se propague.
Uma calhandrice Sr. Presidente:
Igualmente ouvi que o projecto da rotunda foi feito por alguém, não funcionário da casa. Não existe um gabinete técnico nessa câmara com profissionais qualificados? Sempre pouparia uns dinheiros aos já depauperados cofres da autarquia. E por falar em poupar...
Sr. Presidente
Recebo com assiduidade o Boletim Municipal e a Agenda Cultural.
Confesso que me agrada receber, mas reconheço o exagero da qualidade das publicações. E porque aqui vivo, também recebo as publicações editadas, pela junta de freguesia de Santo André, Câmara Municipal de Santiago do Cacém e Câmara Municipal de Sines. Publicações simples, algumas mesmo em papel reciclado. Tenho por hábito, depois de ler, levar todas as revistas para o meu emprego. Por várias vezes ouvi elogios à qualidade das publicações recebidas, vindas de Penamacor.
Sr. Presidente
Quando oiço elogios à qualidade dessas publicações, invade-me um misto de alegria e tristeza: Alegria tão só pela qualidade do papel das publicações. Tristeza, porque, quando em abono da verdade, digo aos meus colegas, que Penamacor é um concelho pobre, quase deserto e com um dos mais elevados índices de analfabetismo de Portugal, a fazer fé nas estatísticas.
Nem penso em referir o destaque dados aos mamarrachos.
Sr. Presidente
Nada tenho contra as ditas publicações, apenas contra a demasiada qualidade, têm custos acrescidos, e contra a exagerada tiragem. Não quero ousar pensar, que o destino de muitas será o lixo.
Sr. Presidente
Fui pioneiro na adesão ao recebimento de facturas e extractos digitais: bancos, edp, via verde, etc, e desde já coloco ao dispor de Vª Ex.ª a minha caixa de correio electrónico para receber as ditas publicações, newsletter, etc, em formato digital. É o meu singelo contributo para ajudar a preservar o ambiente: menos papel, menos árvores abatidas, e ajudar a reduzir custos: menos publicações, menos gastos, menor despesa nos envios. Tenho dezenas de endereços de e-mails de pessoal de Penamcor e do concelho, Dar-lhes-ei a saber a minha proposta, pedir-lhes-ei a necessária autorização, penso que não se oporão, darei os endereços ao gabinete de informação da Câmara, e todos receberemos a informação em suporte digital.
Sr. Presidente
Com a estima que me merece, humildemente lhe peço, afaste-me o pesadelo de um dia ver Penamacor no Guinness Book, como sendo a localidade que mais mamarrachos possui, são já muitos, e ao mesmo tempo, no futuro, ter que o recordar, porque assim acontece, Papas, Reis, Presidentes, todos são recordados pela obra feita, pelos epítetos, como “O Presidente dos Mamarrachos”.
Sr. Presidente
Evite ter de um dia pedir desculpas, à História, e ao Povo do Concelho de Penamacor.
O MotoGP de Jerez De La Frontera está próximo. Tenho este ano pela frente, a hérculea tarefa de rebocar até lá, 24 companheiros do asfalto que vêm dos Açores. Levá-los-ei a conhecer Ronda e Gibraltar, com a certeza que tirarão uma foto para a posterioridade na companhia da bandeira, melhor, são duas, para que se veja bem de ambos os lados, mandei uma costureira coser uma contra a outra, bandeiras bordadas, de Penamacor, que sempre me acompanham nestes meus passeios mototurísticos.
Sr. Presidente
Fique bem
Zé Morgas

2 comentários:

  1. Benvindo à blogosfera. Muitas viagens, muitas paisagens, muitas gentes, muitas impressões para partilhar.
    Karraio

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  2. Olha, Zé, este texto só hoje foi lido por mim. E digo-te que valeu a pena: pela tua lucidez, frontalidade e espírito construtio. Vê-se "claramente visto" que não é o "bota-baixismo" que te move, mas um louvável desejo de quereres o melhor para a tua Terra. Apontas deficiências e propões alternativas. Sinto-me contente por ter sido teu professor.

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