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domingo, 4 de dezembro de 2011

Cueva de la Pileta - Setenil de las Bodegas

Ainda a curtir as memórias da fantástica viagem que fiz em Outubro, com os meus colegas de turno, a terras de Suiça e França, com espectaculares passeios por Genéve, ao redor do Lago Léman, Évian-les-Bains, Lugrin, Aigle, Col du Pillon, Saali, Gstaad, Château d’Oex, Montbovon, Gruyères, Bulle, Montreux…, aguardava com especial expectativa este passeio mototurístico até terras da Andaluzia.
Com pouco mais de cinco mil quilómetros rolados na minha Kawasaki 1400 GTR, sempre com excelentes condições, ansiava por um passeio com chuva e frio para lhe fazer um primeiro teste para a sempre muito dura e violenta viagem à concentração invernal internacional, Pingüinos 2012, que se realiza em Janeiro próximo entre os dias 12 a 15, em Puente Duero, Valladolid.
Agendar um passeio para os primeiros dias da última deca de Novembro, é quase iminentemente certo que as condições que desejava se verificariam.
Com seis motas inscritas, seis aventureiros e três corajosas Penduras a hora de partida foi-se aproximando.
Jantava eu calmamente na quinta-feira, dia 17, no restaurante do clube de ténis, uma chispalhada de coentrada, quando o telefone toca. Era o H.M. e me informa do seguinte: O nosso homem do Caminhão - TIR, atento como sempre aos mais ínfimos pormenores que os sites meteorológicos fornecem, não teve dúvidas algumas em interiorizar que a viagem seria feita sob intensa e molhada tormenta.
A menos de trinta e seis horas da partida, já com a obrigatoriedade de pagamento da caução pela desistência da reserva dos alojamentos, tomou a decisão de não ir.
O H.M., acabou por secundá-lo na desistência.
Pensativamente fui continuando a jantar. A desistência do H.M. causou-me alguma estranheza. Tantas foram as viagens que já fizemos em tão más e adversas condições.
Mais, a data do passeio, que coincidia com a sua folga grande, fora por ele escolhida. Eu, para estar presente, tive que com exigida antecedência, "queimar" três dias de férias. Creio ter havido na decisão tomada, alguma “doce solidariedade chocolatistica”; soou-me que houve por aí algures uma feira com muito produto confeccionado com bom cacau.
Novo telefonema. Era o J.F.
A sua Pendura, ao tomar conhecimento da situação, não queria ser a única presença feminina na viagem. Em suma, as primeiras duas desistências “arrastaram” uma terceira, perfeitamente compreensível.
Telefonei ao P.C., que já tinha entretanto telefonado ao Nosso Grande Comandante. Estavam os dois na firme disposição de partirem, tinham também "queimado" dois dias de férias, qual a minha decisão? Perguntou-me.
- Qual decisão? Nunca ponderei não fazer o passeio, respondi-lhe.
Malandro não estrilha, aguente a pastilha. Poucos mas Bons.
Partiriamos apenas os três estóicos Duros, sem penduras, em duas Kawas 1400 e uma BMW 1200.
Com o reconhecido traquejo de experiente Lobo-do-Mar, o Nosso Grande Comandante, após cuidada análise dos mais recentes dados disponíveis na Net, ditou na véspera com a sua douta palavra a doutrina da partida:
– Se partirmos lá para as onze da matina vamos sempre a andar atrás da chuva.
Para essa hora combinamos o encontro na pastelaria Celeiro Doce.
Compareceu para ver a nossa partida o Homem do Caminhão - TIR.
Quase a terminar o pequeno-almoço e começa a chover com alguma intensidade.
Vestimos os impermeáveis, preparados para o que viesse.
Sabendo o destino e os quilómetros que tínhamos pela frente partimos a fugir aos olhares incrédulos e admirados dos clientes que aquela hora estavam na pastelaria.
- Grândola, Santa Margarida do Sado, Beringel, Beja e a primeira paragem em Vila Verde de Ficalho, para almoçar um sempre calórico e fortificante cozido de grão, de digestão de longa duração.
- Rosal de la Frontera, Cortegana, a temperatura baixou para os sete graus centígrados, começa a cascar uma forte chuvada, que nos acompanhou até Aracena.
Paragem para atestar as motas, qualquer delas tinha agora combustível para chegar até Ronda e decidimos que seguiríamos por Sevilha, Utrera, El Coronil, Algodonales, Serra de Grazalema, Ronda.
Na Serra de Grazalema, a cerca de trinta quilómetros de Ronda mais uma forte chuvada começa a lavar-nos os fatos, com a agravante que já era noite. Os coloridos “arco-iris”, formados pelos reflexos das luzes dos carros com que cruzávamos, nas gotículas de água que teimosamente se agarravam ás viseiras dos capacetes, obrigou-nos a cuidados redobrados na condução. É uma condução muito exigente, sempre no limiar do perigo, reconheço.
Sãos e salvos chegamos ao Hotel Reina Victoria.
O nosso Grande Comandante acertou em cheio. Rolámos com muita estrada molhada mas com pouca chuva. Apenas umas fortes bátegas nas serras de Aracena e Grazalema.
Motas parqueadas, banhinhos tomados, munidos de um guia dos melhores bares de tapas da Serrania de Ronda o destino foi o “Bar Maestro, La Bodega de Verdad”.
Eleito para prato principal o afamado rondenho “Rabo de Toro”, enfardamos primeiro quatro fartos pratos de entradas, tudo regado com duas garrafosas de tinto da zona, sobremesas, cafés e uns “chupitos” de poejo.
Foi o eficaz rastilho para uma noite ”ruminante”…
Domingo
O dia estava sombrio e bastante chuvoso. Hora de tomar o primeiro pequeno-almoço no hotel. Muita variedade e de boa qualidade. Um perfeito chamariz para mais um abuso.
Entre as abertas da chuva a manhã foi passada no jardim do hotel que têm uma vista magnífica sobre as serras e os parques naturais que circundam Ronda.
Com tamanha instabilidade de tempo, decidimos que, mal a chuva abrandasse, iríamos almoçar ao “Bar Giralda”.
Entre petiscos, tombámos um tinto, Condado de Oriza, da Ribera del Duero.
Para ajudar a digestão uma caminhada pelo Passeio do Inglês, que São Pedro abreviou com mais uma descarada descarga de água. Molhados, nada melhor que ir bater uma sesta, afinal até estávamos no País onde batê-la é um imperativo nacional, e combinamos uma hora de encontro no bar do hotel para beber umas cañas.
Decidimos partir sem referências, à procura de um local para jantar. Em boa hora o fizemos, descobrimos um pequeno restaurante, tipo familiar, onde comi um saborosíssimo solomilho de cerdo. Um passeio pelas ruas desertas de transeuntes, e regresso ao hotel.
Um consulta na net ao boletim meteorológico, e a alegria de saber que as previsões para o dia seguinte eram animadoras. Um sedativo para uma noite calma, bem dormida.
Segunda-Feira
O dia amanheceu limpo.
Um temperado banho para despertar, e noto ao vestir o equipamento, que algo se passava com as minhas calças de cordura. Estavam demasiado justas ao corpo. Teriam encolhido com a humidade sofrida na viagem, ou os abusos gastronómicos por ali praticados já se faziam sentir? Ficou-me a dúvida.
Contudo e para não variar “atabojei-me” com um pequeno-almoço variado e bem entaipado. Os meus companheiros de viagem acompanharam-me na pecaminosa gula.
Satisfeitos, devidamente equipados, com bom tempo no horizonte, estavam então reunidas as condições para partirmos à descoberta e visita dos dois locais que tinham orientado esta viagem:
As grutas pré-históricas de “La Cueva de la Pileta”, com muitas pinturas rupestres, e um dos povoados mais assombrosos da geografia andaluza: Setenil de las Bodegas.
Saímos do hotel rumo ás grutas via Benaoján. Aqui brindou-nos o P.C. com uma das muitas rasteiras que o GPS lhe prega.
Meteu-nos pelo centro do povoado, por uma viela estreita de respeitável inclinação, com um manhoso “S” a meio, feita em primeira e gemida velocidade. Com Pendura na Mota a dificuldade teria sido maior. São subidas dignas de trialeiras.
Uff!!! Que sorte o Homem do Caminhão - TIR e Pendura não terem ido. A Pendura ter-lhe-ia vituperado a Alma para os próximos trinta a cem anos. Os primeiros trinta já o foram, algures numa via municipal, escandalosamente esburacada, entre a Figueira da Foz e a Praia de Mira, lá para os lados de Quiaios, a caminho da Gafanha da Encarnação.
Mas, esperava-nos uma segunda subida, palmilhada a “penantes”. O trilho que vai do parque de estacionamento até à entrada da gruta, com piso “barrocal” da era paleolítica. Uma caminhada estafante e escaldante.
Feita a visita à gruta, (mantêm uma temperatura interior de 15 graus e humidade a 100%, constantes durante todo o ano; diariamente é feito o registo das leituras na primeira e ultima visita efectuadas), à luz de dois “petromaxes”, aqueles típicos candeeiros a petróleo, de camisa, sob a orientação do guia, nascido no vale no sopé da encosta onde se situa a gruta, onde os habitantes do paleolítico pastoreavam o gado, rumamos a Setenil de las Bodegas sempre por caminhos agrícolas, de condução divertida.
Observam-se paisagens lindíssimas.
Aqui mais uma pequena peripécia.
A uns dez quilómetros de Setenil, uma placa informava que havias obras na via. O P.C. o guia do grupo, arriscou avançar. Pouco tardou a pararmos, decorriam trabalhos de asfaltamento. Invertemos a rota.
Sem chatice, a malta o quer é andar de mota, conhecer, visitar, passear. Fizemos mais uns trinta quilómetros, e à hora de almoço já estávamos em Setenil de Las Bodegas. Dirigimo-nos para o centro, por ruas estreitas, à procura de um lugar onde estacionar as Motas e com um restaurante por perto. Convém sempre ter os olhos postos nas Motinhas. São facilmente cobiçáveis.
Parqueamos as Motas frente ao restaurante Dominguez.
Como a temperatura estava amena abancamos na esplanada, começámos a hidratar o corpo com um “crianza” de Ribera del Duero “Resalso Lolo”.
Sem nada a apontar quanto à comida fornecida, apenas um reparo e que já não era virgem. Em nome da crise, abusando das mais esfarrapadas desculpas, furtam-se os industriais da restauração ao recebimento das despesas efectuadas, com pagamento através de cartões de crédito.
Dizem mesmo sem pudor, que lhe dá mais jeito receber em “pêlas vivas”.
Infelizmente por cá, neste cantinho à beira mar plantado também vai sucedendo o mesmo, cada vez com mais frequência,
Uma longa visita pedonal pelo povoado, há muito para ver, fotografar, filmar, para mais tarde recordar. O que chama a atenção no local são as casas que ficam bem perto, dentro ou até embaixo das montanhas. Sim, embaixo. Há construções feitas dentro de cavernas. Vale a pena visitar.
Com o escuro da noite já próximo, partimos para Ronda, atestámos as motas e ficaram no parque do hotel prontinhas para a viagem de regresso.
Ir a Espanha e não alimentar a “gota” com um delicioso “Pata Negra” é quase crime.
Dirigimo-nos para a zona mais comercial de Ronda, onde as ruas estavam apinhadas de gente, e entrámos no bar “Casas Rurales de Ronda” pertença de um antigo toureiro, as fotos expostas pelas paredes isso atestam. Com pouca clientela, por ser cedo, ou porque a crise para aquelas bandas também aperta, pedimos três cañas e um pires de “Pata Negra”.
Os pires, com o presunto cortado por habilidosas mãos, qualquer micro radiografia é mais grossa que a mais grossa fatia cortada, disposto a arregalar o olho e a fazer crescer a água na boca, são vendidos a preços proibitivos. Mas tivemos que o provar…e outras cañas se seguiram.
Soterrámos o “Pata Negra” com um jantar servido no restaurante do hotel. Antes de recolher ao vale de lençóis e a um merecido repouso, tempo ainda para o Nosso Grande Comandante consultar o estado do tempo para o dia do regresso à Lusa Pátria.
Terça-feira
Um acordar e um pequeno-almoço a papel químico dos anteriores. Sempre farto.
Com a quase certeza que só ”paparíamos” chuva no nosso Portugal, combinamos a saída por Moron de La Frontera para de seguida apanhar a auto pista de Granada - Sevilha, e acesso à A - 49 para Huelva, pela cintura Sul de Sevilha, com paragem programada na última bomba de combustível em território espanhol, onde a gasolina é muito mais barata.
Rotas introduzidas no GPS e à chegada a Sevilha é a vez do Nosso Grande Comandante fazer mais um dos seus erros de leitura, fruto da sua já “crónica distracção”. Com a indicação de saída à direita da auto-via Granada Sevilha, seguir em frente e virar num viaduto à esquerda, assinalado como segundo, virou no primeiro. Fomos parar à zona industrial pesada de Sevilha.
Mas que importa, o tempo estava óptimo e o dispendido pouco conta; que outra forma teríamos de visitar, conhecer aquela zona industrial de Sevilha.
Ah Grande Comandante! O que queremos é passear de Mota. Recalculada a rota via GPS, retomamos o trajecto correcto.
Paragem no posto de combustível fronteiriço onde os fregueses eram todos portugueses.
Não vislumbrei uma única matrícula espanhola.
Nova paragem em Castro Marim para almoçar.
A ouvir a informação do tempo na RTP, aqui sim, não tivemos a menor dúvida que seríamos brindados por São Pedro com uns valentes pingos.
Decidimos o trajecto de regresso por Mértola, Alcaria Longa, Castro Verde, Aljustrel, Mimosa, Grândola, Vila Nova de Santo André.
Não tardou a confirmação, ao sairmos do restaurante começou a chover. Manda a prudência que antes que se encharque o vestuário, o melhor é vestir os impermeáveis sobre o equipamento seco. Tal como na partida, isso fizemos.
Uns chuviscos, umas abertas, a estrada sempre molhada e eis que ali pela zona de Alcaria Longa se começa a vislumbrar no céu uma medonha nuvem negra. Vieram-me ao pensamento umas palavras tantas vezes ouvidas em pequeno à Minha Mãe Maria e à Minha Avó Conceição Pereirinha:
– “Vêm aí Borrasca da Grossa”.
Começa subitamente a descarregar água à caldeirada e a bater assustadoramente sobre o capacete e a viseira, o estrondo assemelhava-se a umas ruidosas morteiradas, sempre potenciado quando cruzávamos com o trânsito em sentido contrário e éramos bombardeados sem dó nem piedade, com os jactos de água disparados pelas rodas das viaturas.
Para agravar, quando alguma coisa corre mal, algo a piora ainda mais.
Entre Castro Verde e Aljustrel decorriam obras na via. Era grande o fluxo de camions e por três vezes paramos, porque a circulação apenas se fazia num só sentido. Era ver os óculos a embaciarem à vertiginosa velocidade dos relâmpagos.
A sova só parou na Mimosa.
Contudo cheguei sequinho a Santo André. Que abismal a diferença sentida entre viajar nesta Kawasaki ou na Velhinha Suzuki GSX-F.
Falta o teste derradeiro, já em agenda para o final da primeira quinzena de Janeiro do próximo ano: A ida ao Pingüinos 2012 com muita chuva e temperaturas abaixo de zero graus.
Tudo farei para estar presente.
Para começar passou a minha Kawasaki pelo Atelier CelCruMotos, fez a revisão dos 6000 Kms, e aguarda agora serenamente, na garagem o próximo passeio.
Não há sofrimento que abale o prazer de quem gosta de andar de Mota.
Viajar leva a um corte com a rotina e descomprime.
A todos os Companheiros e Companheiras das duas rodas, desejo:
Votos de Um Santo e Feliz Natal 2011
E que o ano de 2012 seja repleto de Bons Passeios
Boas Curvas
Zé Morgas

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