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terça-feira, 6 de julho de 2010

Pirinéus 2010 - 1

Foram sofridos os últimos dias vividos antes da partida para a minha viagem de mota aos Pirinéus. Sou bastante meticuloso, e para que nada falhasse, com a antecedência que julguei necessária, iniciei os preparativos na minha mota.
Montar pneus novos e pastilhas de travões novas, foram as primeiras decisões.
Contudo, numa análise mais atenta, reparei que um dos retentores da bomba direita dianteira estava danificado.
Normal, devido ao uso.
Decidi então, substituir todos os retentores e o óleo do sistema de travagem.
Dirigi-me ao atelier do meu Amigo Celestino Cruz e dei-lhe conta das minhas intenções. Foi feita a encomenda do material julgado necessário para a Suzuki.
Assim que chegou o material procedeu-se à montagem do mesmo. Tudo correu de feição, até ao momento de sangrar os travões dianteiros. Cumpridos os procedimentos habituais, no final, a mota não travava. Repetiu-se o procedimento por várias vezes e sempre o mesmo resultado.
Só poderia ser da bomba principal, pensámos, óleo novo, com bases diferentes, danificaram os retentores da velha bomba. Havia que encomendar uma bomba nova.
Encomenda feita, mas… logo alertados, que a encomenda duraria algum tempo mais que o normal a chegar, devido ao Feriado Nacional de 10 de Junho e ponte. Que fazer?
Num gesto sem precedente, resolve então meu amigo Celestino Cruz, sócio gerente da CelcruMotos, porque no seu Atelier tem uma mota novinha com uma bomba de travão igual à da minha Mota, retirá-la e montá-la na minha já muito rodada Suzuki.
Feita a substituição, enchemos o sistema com óleo, foi purgado e o resultado mantinha-se.
O que se passa, afinal? Feito um telefonema para o importador Suzuki, de lá nos foi dito, que sangrar aquele sistema era um "bico d'obra".
Com muita paciência e muita insistência foi o problema resolvido, no dia anterior à partida.
Deu direito a uma valente almoçarada oferecida por mim, ao Celestino Cruz, e aos seus colaboradores, no restaurante do clube de ténis de V.N. Santo André.
Um pequeno gesto, que de forma alguma, não paga o Grande gesto feito pelo Celestino Cruz. Neste modesto texto do Zé Morgas, aqui reitero o meu Bem Hajas.
Chega então o tão esperado dia.
Sexta feira, 18 de Junho de 2010
Com a partida prevista para as nove horas, foi chegando o pessoal ao Grupo Desportivo e Recreativo dos Trabalhadores da Repsol Polímeros para tomar o pequeno almoço.
Saímos por volta da nove horas e trinta minutos, oito pessoas e cinco motas, com a primeira paragem combinada no posto de combustível da Galp, mas já em terras de Espanha, Badajoz.
Atestadas as motas, condutores e penduras, seguiu-se nova viagem rumo ao destino do dia, Talavera de La Reina.
Paragem em Naval Moral de La Mata para novo “atestanço” das motas.
Pormenor castiço, o conta-quilómetros da minha mota bloqueou nos 99 999 Km.
Assim continuará até que lhe faça o reset, se tal for possível.
Chegados ao hotel e feito o check-in de entrada, fez o grupo de seguida um passeio pedonal pela cidade, para abrir o apetite para o jantar.
Juntou o grupo presente, uns trocos, e jogámos um euromilhões de sociedade. Acertámos em três números, com o valor do prémio saído jogámos novo boletim em Bilbao. Não foi desta que virámos €uromilionários.
Sábado, 19
De Santo André partiu palas 7 horas e 30 minutos o segundo grupo rumo ao nosso encontro em Zaragoza. Cinco motas e sete pessoas. Não conseguiram "baldar-se" ao trabalho na sexta-feira.
O meu grupo, com a hora de saída combinada para as nove horas locais, que se manteria para todas as outras partidas dos restantes dias, o destino era o Hotel Goya em Zaragoza, via: A5 (E90) – Madrid, andei tão perto do local onde há bem pouco tempo fui gamado, M 40 – A 2 (E90) – Zaragoza.
Circulámos por troços de estrada bem curtidos, mas com muita ventania.
Foi talvez, devido à forte ventania ou a um possível mau aperto, que no "caminhão-tir" do J.M. se soltou uma porca de um parafuso fixador do ecrã dianteiro. Ao ver o ecrã oscilar, instintivamente, descurando as mais elementares regras de segurança, levou a mão direita a segurar a peça solta. Desacelerou bruscamente. Eu seguia na rectaguarda. Passei por ele em velocidade acelerada. Tal manobra pode criar sérios problemas a um companheiro menos atento.
Comete um segundo erro. Tentou o desvio para a direita. Eu, tal como o A.G. vimos como uma carrinha lhe passou milimétricamente ao lado, quase o abalroando. Apanhou susto.
Parados então em segurança na berma, feito um diagnóstico ao problema, foi o mesmo temporáriamente solucionado com a milagrosa fita adesiva "Azea" que sempre transporto na minha mota, e que outros companheiros já safou noutras ocasiões.
Felizmente todos chegamos bem a Zaragoza. Motas guardadas, quartos distribuídos, um contacto com o grupo que circulava na estrada, tudo a correr bem, e resolvemos fazer uma visita pela cidade num autocarro a céu aberto.
Lindo.
E, mais lindo tudo se tornou ainda, quando subitamente fomos presenteados com uma vista ao olhar totalmente inesperada: uma manifestação em bicicleta contra o uso de carros na cidade, com os condutores e condutoras, “vestidinhos” e “vestidinhas” como Deus os logrou trazer ao mundo. Refeitos da surpresa, mas contentes, pouco foi o tempo para sacar umas fotos.
Quis entretanto a sorte, que a paragem final do autocarro fosse junto ao largo da Catedral – Basílica de Nuestra Senhora Del Pilar. O mesmo local escolhido pelas / pelos manifestantes para terminar o tal insólito passeio, e, pouco visto por estas bandas portuguesas.
Aí sim, foi ver correr quem pode, até junto das e dos “artistas” dos velocípedes sem motor auxiliar, e vá de sacar as chapas possíveis… Como foi vê-las também, as senhoras mais conservadoras, a tentarem distrair os olhares dos maridos mais curiosos.
Fizemos entretanto uma visita à Catedral.
Magnífico, fabuloso, o que se pode observar naquele interior.
Novo passeio pedonal, umas cañas, umas tapas, e chegam os restantes companheiros.
Pela primeira vez estava o grupo todo reunido, quinze pessoas.
Foram informados da hora de saída, para o dia seguinte, rumo a Andorra La Vella.
Domingo, 20
Pela primeira vez, as motas todas juntas, dez.
Destino: Andorra, Hotel L’ Isard
AP 2 (E90) – Lleida – C13 – C 26 - C14 – N 145.
O dia estava bonito, a temperatura ligeiramente alta. Resolvi “alargar”o casaco para curtir um fresquinho.
Mal entrámos na AP 2 começamos a sentir fortes ventos laterais, vindo do lado esquerdo. Rajadas se sentiram, que assustaram a malta, obrigando mesmo a uma condução exigente e defensiva como há muito não fazia. Senti dores nos pulsos, tal a força feita para não levantar voo da mota. Pelo que me toca, deveria ter parado e corrigido a situação, apertado o casaco e a viagem teria sido muito mais suave. Com o casaco todo “alargadinho”, foi encher de vento, mais parecia o boneco da Michelin. Foi duro, penei até parar em Lérida. Ficou-me o ensinamento com o sofrimento.
Breve paragem em Ponts para atestar máquinas e pessoas, e havia que rolar até Andorra.
Simplesmente bonita a paisagem vista.
Chegada a Andorra. Com excepção dos restaurantes, todo o comércio fecha a partir das 14 horas. Cada qual geriu o tempo como lhe aprouve e com quem quis.
Com o grupo do costume, resolvemos banquetearmo-nos com um faustoso repasto e uma boa pinga. Tivemos sorte na escolha: O restaurante 2 Caçadores.
Findo o almoço, resolvemos dar uma voltinha para situar as lojas que nos convinha visitar no dia seguinte. Principalmente lojas de acessórios de motas e perfumarias.
Durante o passeio, aconteceu um acidente.
Súbito ouvi um exclamado ai, e só vejo o A.G. todo “estateladinho” no chão, entre dois carros. Não reparou ao caminhar, que o passeio tinha acabado, a estrada estava um nível mais abaixo.
Apeteceu-me cantar-lhe:
- Atira-te ao chão e diz que te empurraram
Felizmente uma queda sem danos, mas que não evitou os habituais e maliciosos gracejos.
Dizia a esposa que ainda o tentou agarrar. Penso eu, e como lhe disse, que aquele toque sentido, não foi de quem o quis segurar, foi aqule subtil toque que o levou ao desequilíbrio total.
Quanta maldade !!!
Seguiram-se umas cañas e umas tapas até ao findar da noite, que por aquelas bandas acaba cedo. Que noite tão diferente da espanhola. Nem Ramblas, nem Movida.
Segunda, 21
Dia livre para passeios e compras.
Passei a manhã, junto com o J.R. e o A.G. em lojas de acessórios de motas. O A.G. necessitava de duas viseiras novas. O uso de um detergente abrasivo danificou a protecção interior das viseiras que levava. Apenas conseguiu comprar uma viseira.
Chega a hora de almoço. Era dia de bola, Portugal - Coreia.
Perguntá-mos onde poderíamos almoçar e ver o jogo. Informaram-nos que na Praça do Povo existia um espaço agradável com ecrãs gigantes. Dirigimo-nos para lá. Foi-nos dito por um funcionário, com alguma antipatia, que, onde se podia ver a bola não serviam refeições, onde serviam as refeições não se podia ver a bola.
Saímos mais depressa do que entramos.
Sugeri o bar restaurante junto ao rio onde tinha estado na tarde anterior a beber umas cañas e pinchar umas tapas.
Afinal, também ali, havia comida, bebida e várias televisões.
Que ironia, a televisão na sala de restaurante não apanhava o canal que transmitia o jogo. As funcionárias, de uma amabilidade extrema, tudo fizeram para solucionar o problema. Em vão.
Na sala do bar, uns nas mesas, outros ao balcão, todos se "governaram", bebida e comida com fartura, todos vimos Portugal ensacar sete à Coreia sem resposta.
Passei o resto da tarde, alegre, “encafuado” em perfumarias. São ás dezenas.
De tantas fragrâncias cheirar, pensei que até apanhei uma “fragrâncite”.
Mas, cheirei o que pretendia, comprei o que queria.
Tempo ainda, para comprar mais umas lembranças, e, uma ida com a E.L., a uma sexy-shop, de nome: DIVA Eròtic Centre, comprar o presente para um companheiro das duas rodas que fazia anos no dia seguinte.
Todos juntos ao jantar, no restaurante Mama Maria, mesmo em frente ao nosso Hotel, terminou a noite para alguns, num bonito bar, onde trabalha um português, a bebericar uns shots de licor de ervas. Saborosíssimo.
Terça, 22
Destino: Luz Saint Sauveur, Hotel Londres
N 145 – N 260 - C 13 – C 28 – Bossost – Bagneres de Luchon – D 618 – Arreau – D 918 – Col Du Tourmalet
Mais uma vez a sorte estava connosco. O dia estava fabuloso.
A estrada convidava a andar, muito curvilínea mas de bom piso.
Primeira paragem, numa povoação de nome Sort, atravessada por um límpido rio, cheio de rápidos, onde se encontravam muito praticantes de kayak.
Constou que, naquele povoado, por ali andou alguém, companheiro das duas rodas, com fortíssimo desarranjo intestinal, que apenas queria era sentar-se, não no banco da mota, mas ...
Retomada a viagem, por estrada pitoresca, foi incontável o numero de motas com quem cruzámos. Dizia o A.B. nunca ter visto tanta mota a rolar, a não ser na altura da concentração de Faro. Por ali, sempre atentos, ninguém esquece o universal cumprimento ao companheiro do asfalto.
Começamos a vislumbrar os picos das montanhas cobertos de neve.
Sempre a rodar, do lado esquerdo da estrada, um bonito bar de madeira, onde estavam parados, a hidratar os corpos, um considerável numero de companheiros motards, todos em Hondas Gold Wing.
Os cumprimentos do costume, um hino de buzinadelas.
Lindo de ver e ouvir !!!
Já em plena subida pela montanha, na zona de Esterri d'Àneu, paragem para uma foto de grupo num banco de neve.
Tão fofinha aquela neve.
E que vista deslumbrante!!!
Chega a hora do almoço.
A fome e a sede apertavam até os mais resistentes.
Depois de alguma indecisão, na procura de um restaurante, mais por causa do estacionamento para tantas motas, todos gostam de as ter bem perto da vista, parámos em Val d’Aran, num bar restaurante, de nome Osteria Casa Dedieu.
Escolhido o local onde comer, na sala interior de refeições, ou no terraço com vista para o rio, ao som da levada de água, começou logo o H.M. a querer inquirir sobre o que havia para escolha. A dona do estabelecimento, Sonsoles de seu nome, e sem que nada o fizesse adivinhar, atirou-se de uma forma ao H.M., que a todos impressionou.
Mulher de gancho, arrochou o homem.
Ela traria a comida, nós só tínhamos é que comer, duvidava mesmo que conseguíssemos comer tudo o que nos seria servido. Que fazer aquela hora, num local desconhecido, apenas esperar para ver o resultado.
Começamos com um delicioso patê caseiro. Outras iguarias se sucederam.
A quantidade servida … discutível, mas ... aceitável.
A maioria dos comensais estava encharcado em pão …
Com alguns já a quererem fazer-se ao caminho, apressados pensamentos nos banhos de vapor, alguém se lembrou que era o dia de aniversário do Miguel.
Para espanto de todos, a mais surpreendente revelação:
- Eu, Sonsoles, sou música, pianista, vou tocar os parabéns ao Miguel, e, ofereço o champanhe para comemorar.
Sem que tempo houvesse para alguma contestação, tampa do piano no ar, e lá se ouvem os primeiros acordes. Cantam-se os parabéns, brinda-se com champanhe, a E.L., foi buscar a prenda que tínhamos comprado no Eròtic Centre, Diva, em Andorra, para entregar ao aniversariante, e mais uma “espanholada” ao piano para alegrar o ambiente.
A pianista Sonsoles, chamou entretanto a sua filha, deu-lhe as dicas sobre o compasso e o tempo, e dedica a todos nova música, agora tocada em dueto, no piano.
Pedindo perdão a todos, disse tocar melhor do que cantava, mas a todos brindou com um sentido cântico à capela.
Confesso, de tudo o que poderia imaginar ou que possa acontecer numa viagem, aquele almoço, naquela pacata vila nas franjas dos Pirinéus, "vivido pelo grupo", seria sem dúvida alguma o que jamais me ocorreria.
Tarde em grande, como grande foi também a conta apresentada, e paga, no final. Mas em verdade, há “estórias” que não têm preço. Por mim repito outra igual. Nada me apaga da memória o momento vivido, e "aquele transe musical "observado.
- Ahhh valente pianista!
Mas havia que seguir caminho, rumo a Andorra.
Tínhamos pela frente duas imponentes subidas e consequentes descidas:
Col d’Aspin e Col Du Tourmalet, antes de chegar a Luz Saint Sauveur.
É quase inenarrável o prazer sentido em cima da mota fazer todas aquelas curvinhas a subir.
São sensações únicas.
As descidas exigem mais concentração, as íngremes ravinas não perdoam distracções.
Não acabou o dia sem mais uma das já habituais cenas do Q.F.
Pela primeira vez as motas iam consumir gasolina francesa. Estávamos perto de La Mongie e tínhamos pela frente toda a subida do Col Du Tourmalet.
Todos atestámos as motas até à gola, o Q.F., justificando-se no desconhecimento da gasolina!? apenas meteu “cinco litroses”, não sem antes primeiro, limpar a o ecrã dianteiro e as bainhas da suspensão, tudo com um paninho húmido.
Afirma o Q. F. que o ácido da bicharada esmagada pelo impacto, danifica os retentores da suspensão. Não seria por ali a água, calcária demais para o seu gosto?
Felizmente chegámos todos bem a Luz Saint Sauver, ao Hotel Londres, mas, aqui, para dois companheiros um calvário começou…
Saudações motards
Zé Morgas

(Continua...)

1 comentário:

  1. Grande ZÉ!
    Não vi as "amantes das bicicletas" descascadas - e tu só viste "isto que nos mostraste"? - não cantei os parabéns ao Miguel, não sei quem é o Q.F. nem como são as suas "habituais cenas", não entendi a da gasolina francesa e que consequências podem advir de não se atestar "até à gola", mas garanto-te que li até ao fim. Numa 50 cm3, a minha burrinha, como eu lhe chamo, fui contigo até ao Pico do Tourmalet - que saudades me faz o Joaquim Agostinho que ia por ali acima a gastar da "gasosa portuguesa" e como só ele foi capaz de nos alegrar...- e quase me fizeste "ver" essas tão magníficas paisagens, a subir e a descer, curva e contra-curva, arroios de águas cristalinas, neve lá nas alturas.
    Excelente.
    Obrigado.
    Abraço.
    Teu Amigo

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