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segunda-feira, 26 de abril de 2010

O Impensável

O que julgava ser simplesmente impensável, aconteceu.
Tenho como certo, que poucos serão, os que ao tomar conhecimento de certas situações, não tenham já comentado com os seus botões:
- A mim, isto era impossível de acontecer.
Tal vêm a propósito, pelo sucedido na viagem marcada desde Janeiro, para o dia 22 de Abril, com os meus colegas de turno e trabalho, a Madrid.
Conhecedor do caos vivido na maioria dos aeroportos da Europa, por efeito da nuvem de cinza vulcânica, originária da Islândia, resolveu o F.A., confirmar a hora do voo, via Internet.
Reparou que, para essa noite, apenas havia um voo da Easy Jet, previsto para as seis horas e trinta e cinco. O nosso voo estava marcado, no voucheur enviado pela agência, para as sete horas e trinta e cinco minutos. À cautela, telefonou o F.A. cerca das duas horas e trinta minutos para o P.M., foi ele que escolheu e contactou a agência de viagens, a alertar para a diferença constatada. Disse-lhe o P.M., que, tinha telefonado para a agência, dois dias antes, e tudo se mantinha conforme planeado.
O ponto de encontro combinado para reunião e pequeno-almoço foi mais uma vez, em Grândola, pelas quatro e trinta da madrugada.
Dali, seguimos direitinho ao aeroporto para fazer o check-in de embarque.
Chegados, estranhou-se o facto de não estar ninguém, e ao falar com o funcionário ali presente, disse-nos que o avião estava de partida e já não nos era possível embarcar. O voo fora antecipado numa hora. A solução era dirigirmo-nos aos balcões da companhia e resolvermos o problema da melhor forma.
A melhor forma foi pagar cada um, um suplemento de cinquenta e dois Euros, e voo, só para daí a sete horas.
E lá nos foi dito, na Easy Jet, que a agência fora informada por e-mail da antecipação do voo.
Mas nós, a parte mais interessada, e agora lesados, não o fomos.
A quem cabe a culpa do sucedido? Interrogo-me.
Nada mais a fazer que papar uma seca de sete horas e aceitar que a programação das visitas previstas, “já eram”…
O que me custou, a todos custou, digerir aquelas sete horas de diferença entre voos, passadas por ali, naquele pavilhão do aeroporto, sabendo que tínhamos pessoas à espera em Madrid, e estávamos a perder uma série de interessantes pontos de visita.
Encurtando o tempo, inevitavelmente isso originava.
Não fiz o meu habitual city-your de autocarro a céu aberto.
Mais, tinha o meu turno saído das noites, tinha passado o sono fugazmente pelas brasas durante o dia. Na noite do embarque, deitei-me passava já da meia-noite, não tinha ainda pegado ao sono, quando ribombam dois valentes trovões, que me impediram de dormir descansadamente, o mesmo sucedendo a outros colegas.
Mas, à nova hora marcada levantamos voo.
As últimas viagens de avião que fiz, quase todas foram realizadas de noite.
Desta vez, de dia, estava a voar naquela pássaro de lata, sobre as nuvens, quase sem abertas que permitissem ver a terra.
Parecia um ondulado mar de algodão doce. Lindo.
Já na fase de decida, quase a aterrar, apanhámos turbulência forte, atravessámos uma tempestade, e coisa que nunca tinha visto: um raio a passar ali bem juntinho à asa do avião, intimida os mais melindrosos, mas não deixa de ser um espectáculo impressionante, ver aquele ziguezagueante traçado luminoso.
Chegados a Madrid, e com a decisão já tomada de viajar de metro, cada qual muniu-se de um mapa esquemático das redes subterrâneas, inicialmente confuso, revela-se de fácil interpretação ao fim de pouco uso, tirou o grupo bilhetes turísticos, válidos por dois dias, e lá fomos visitar a sede da “nossa” Repsol, onde estavam à nossa espera, a colega A. F., e o colega A. M., destacados de Sines.
O motivo maior da visita era ver as motas expostas desde à algum tempo, no átrio interior do novo edifício, onde Toni Bou, “O Dinamite”, há poucos dias fez uma demonstração na exímia arte de bem montar as duas rodas, passeando por todo o edifício, de roda dianteira sempre no ar.
Expostas, as Hondas de MotoGP, usadas em anos anteriores pelo espanhol Dani Pedrosa, a KTM usada num Dakar, pelo espanhol Marc Coma, e ainda a Montesa usada no campeonato do mundo de trial, pelo também espanhol Toni Bou, O Dinamite, que este ano, já venceu as duas corridas realizadas.
Finda a visita, a oferta de um café de cortesia por todos aceite, e, havia que rumar ao Hotel, fazer o check-in de entrada, tomar um retemperador banho, e decidir o grupo pela escolha do restaurante para jantar.
Devido ao atraso na partida, terminou o grupo a visita, à hora de fecho da Sede da Repsol, e de muitas outras empresas e serviços. Era previsível uma maior afluência de passageiros nas carruagens do metro.
Feito o estudo do itinerário do percurso, deslocou-se o grupo para a estação de Metro mais próxima, a estação de CHAMARTIN, um obrigado à A. F., que nos “passeou” até lá, com destino a ALONSO MARTINEZ, ponto de transferência para a linha verde, nº 5 com destino a CALLAO, a estação mais próxima do hotel que tínhamos reservado.
Raramente ando de metro, salvo algum caso pontual, penso que a maioria do grupo estava na minha situação. Também pelo facto de sermos um grupo de doze pessoas, descurei um pouco as mais elementares regras de segurança, falo de bens.
Aquela hora, hora de ponta, as carruagens vinham apinhadas de gente, mas lá entrámos em CHAMARTIN. A viajem fez-se aparentemente sem sobressaltos. Saídos em ALONSO MARTINEZ, havia que percorrer um longo túnel para chegar ao cais de embarque da linha 5. No túnel, estava um mexicano a dedilhar uma viola e a entoar umas canções, e um chapéu no chão, invertido, para recolha de umas sempre bem vindas moeditas. Foi ao ver as moedas, que instintivamente levei a mão ao bolso de trás direito das minhas calças, e constato, que não tinha a carteira, onde levava todo o dinheiro e alguns cartões.
Informei o grupo.
-Vê se está noutro bolso, alguém disse.
-Não, não está, respondi depois de confirmar.
Não restavam dúvidas, a carteira sumira.
De repente estava aliviadíssimo em mais de duzentos €uroses.
Confesso no entanto, que tive uma infundada esperança, que tivesse sido uma brincadeira dos colegas que vinham atrás de mim, como forma até de alertar os demais elementos do grupo, para o perigo que era circular com as carruagens tão cheias de gente, e algumas, tão mal intencionadas. Pensei até que me devolveriam a carteira no hotel.
O F.C. não se coibiu mesmo de alvitrar:
- O Morgas já levou um “tirinho”, coadjuvado por um malicioso sorrizinho.
Enquanto esperávamos pela chegada da composição que nos transportaria, e comentando entre todos o sucedido, remata o F.C.:
- A mim, desse bolso só se levarem o pente, e sujo de caspa. A grana está aqui, bem guardadinha no bolso da frente.
Não se inibiu mesmo, com alguma vaidade, de mostrá-la, junto com alguns documentos e os cartões Multibanco.
Mas, havia por ali olho de falcão atento, pronto a predar.
Chega o metro. Apinhado como nunca tinha visto. Se tivesse prevalecido a sensatez do P.G., teríamos esperado dois ou três minutos e entraríamos numa carruagem menos lotada. Mas houve, quem logo de impulso, se atirasse lá para dentro. Corremos o risco de partir o grupo, e alguns nem sabiam o nome do hotel nem em que estação sair.
Foi forçar a arranjar lugar. Como nós outros assim entraram. Penso que alguns passageiros viajariam com os pés no ar.
Saídos em CALLAO, e depois de percorridos alguns metros na direcção da saída, súbito ouve-se:
- F…-se, fui roubado.
Era a inconfundível voz do F.C.
Admirado, sem querer acreditar, interrogava-se:
- Porra, como foi possível não dar por nada, se tinha tudo no bolso da frente das calças.
Era a última pessoa no grupo, que dificilmente aceitaria pensar em se deixar gamar…
À boa moda portuguesa, mesmo nas horas más, há sempre uma coisa boa, o bilhete de identidade tinha escapado à mão alheia que por aquele bolso andou, e onde se governou.
Ficamos então, com a clara sensação, que vínhamos “marcados” há muito, e se a viagem fosse maior, a mais algum calharia em rifa ser gamado. O Cenoura, queixou-se de umas apalpadelas. Pelo sentido, a mão não lhe pareceu ser feminina.
Por sorte um elemento do grupo, o Capitão Iglo, tinha à espera, junto do hotel, um familiar que há muito tempo vive em Madrid, e informou-nos onde se podia apresentar queixa por furto.
Existe um gabinete da polícia na estação do Sol, só para esse efeito, tal é o número de roubos diários.
Foi o que fizemos.
Tenho ainda presente na memória as palavras do agente que me atendeu:
- Evita andar de metro, há muito roubo e feitos por grupos com gente altamente treinada. Vou recordar essas palavras durante o resto da minha vida.
Como tristezas não pagam dividas, era tempo de aconchegar o estômago nalgum bom sítio. A sorte que tivemos, estar na companhia do familiar do Capitão Iglo, o Juan, cicerone de cinco estrelas, simplesmente incansável. Umas “cañas” fresquinhas, tomadas num bar frente ao “El Corte Inglês” o primeiro do grupo, o primeiro de Madrid, bem pertinho da praça do Sol, acompanhadas com um “bacalao frito” como nunca tinha comido, rivaliza com as nossas mais famosas e saborosas pataniscas, para abrir o apetite para o jantar que se seguiu, já tarde, na Taberna Real.
Excelente a escolha.
Muita comida, muita bebida, muita animação.
O prazer que foi ouvir o “Gatuso” cantar “Eu quero é mamar nos peitos da cabritinha”.
Mas a surpresa seguiu-de de imediato.
“Fanã” desafia “Gatuso” para em dueto interpretarem:
A cantiga da rola.
Dá-me uma gotinha de água
Dessa que eu ouço correr
Entre pedras e pedrinhas
Alguma gota há-de haver
………………………….
Quero cantar como à rola
Quero cantar como à rola
Como à rola ninguém canta
………………………….
Sublimemente interpretada.
A ovação foi estrondosa para este fantástico dueto.
Em suma, tudo em grande, até a conta.
No final as despedidas do A. M. e da A. F., a quem aqui deixo um Bem Hajam, a mais genuina expressão de agradecimento beirã, em nome do grupo, pela vossa companhia.
Continuou a malta com um bonito passeio pedestre, por jardins, monumentos, Plaza Maior, sempre guiados pelo Juan. Aqui lhe deixo igualmente, um Bem Hajas, pelo companheirismo demonstrado.
Sexta-feira, logo pela manhã, mais passeios, compras de “recuerdos”, Almoço na esplanada, (com uma taxa adicional de 10%) do restaurante Ten Beach, na Plaza Ruiz Picasso, no Passeo de la Castelhana, servidos por uma empregada de mesa, portuguesa de Elvas.
A chuva fez-nos uma visita mesmo no final da refeição. Acelerámos o regresso ao aeroporto, sobrou tempo para as compras de última hora no free shoop.
No regresso, o avião apenas vinha mais cheio, o fim-de-semana estava à porta.
Apesar de julgar ser impensável, aconteceu, no mesmo dia, além de perder um voo num avião, fui pela primeira vez na minha vida, roubado, por ter sido estupidamente confiante, como um inocentezinho menininho da mamã.
Porém, fica a certeza que brevemente faremos outro passeio, resta somente eleger o destino. Praga?
Por mim, e porque a paixão pelas motas a isso quase me obriga, quinta-feira, dia 29, vou até El Puerto de Santa Maria, onde ficarei até segunda-feira, no gozo de mais uma e sempre merecida folga, para assistir ao MotoGp de Jerez de La Frontera e ver o meu ídolo Valentino Rossi, averbar mais uma vitória ao seu já longo palmarés.
Aqui fica o meu voto de boas curvas, a todos quantos se deslocarem a Puerto e a Jerez.
Zé Morgas

2 comentários:

  1. Zé, meu honorável Amigo,
    Quando vi o título pensei, de imediato: "Casou ou vai casar"!!!
    Mas tive de ler palavra a palavra, linha a linha, parágrafo a parágrafo para me ficar uma certeza: não havia noiva e... os gatunos não tinham mesmo coração. Aproveitarem-se da vossa "inocência", ali depenadinhos como dois borrachinhos.
    Gosto muito de Madrid e aproveito o aviso: não andar de Metro, nas horas de ponta. Até F. C. (Farroncas "Callao"???) foi "esmifrado"...
    Bom, avião perdido e gamanço consumado é demais! Para uma vida... quanto mais um fim de semana. Embora alongado.
    Ficam os parabéns pelo ano I. Mais outros aí vêm. Bom proveito para ti. E para nós.
    Agora só tens que pensar que estás vivo, a tua maior riqueza!!!!
    Abraço do Amigo.

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  2. Zé e eu a pensar que só o Sócrates é que nos gamava.Em Espanha é pior pá!Há mais gente e por isso há mais ladrões.Mas estás porreiro e isso é que é importante amigo.

    Abraço do Matos Martins

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