Ainda com as palavras do meu amigo a zunirem-me os ouvidos, sobre a situação das termas das Águas, resolvi ir até um conhecido bar aqui na zona. Pensativamente ia conduzindo.
Na mente, passava em retrospectiva a minha vida. Com alguma modéstia dava para escrever um livro. Nunca em tal tinha pensado. Só agora. Tive sempre uma profunda alegria de viver. Aconteceram-me coisas belas, vividas intensamente, tão intensamente como se cada qual, cada dia, fosse o último da minha vida. Nunca soube o que foram problemas, dificuldades, preocupações. Desde os meus tempos passados nos Açores, até agora, sempre o mesmo tipo de vida, almoçaradas, jantaradas, noitadas, gajas, viagens, passeios de mota, etc, um frenesim de vida. Uma vida em que me preocupei muito mais em dar vida aos anos, do que anos à vida. Gozei, é verdade. Continuo a fazê-lo conforme posso. Afinal sou fácil de contentar, tenho o mais simples dos gostos, contento-me com o melhor que há. Se de algumas situações não me arrependo, repeti-las-ia se necessário com o mesmo entusiasmo, outras houve em que vejo agora como fui parvo, brutalidades autênticas. Os exageros que eu já cometi, as “figurinhas” que já fiz.
Chegado ao destino entrei no bar. Para espanto meu, dou de caras com uma amiga de longa data, que há muito tempo não via, e que por nada imaginaria estar ali, aquela hora e naquele local.
Cumprimentei-a, disse-me estar sozinha, ofereci-lhe a minha companhia, afinal eu também estava só e convidei-a tomar a uma bebida. Aceitou ambas as coisas.
Reparei como ainda continua bela, elegantemente bela, e, isso lhe disse. Agradeceu-me o elogio visivelmente emocionada. A minha amiga é excepcionalmente crítica consigo e com o seu aspecto. Têm tendência para se julgar demasiado duramente quanto ao seu corpo e à sua imagem. Fiz-lhe ver, à minha maneira, que a maioria das mulheres vive de um modelo mental: magreza é beleza.
Mulher ou homem que está preso a um corpo “perfeito” vai passar a vida a perseguir uma perfeição impossível e irreal.
Disse-lhe que os homens geralmente preferem uma mulher mais sólida, roliça mesmo.
Perguntou-me como estava, o que tenho feito, se ainda continuava solteiro.
Respondi-lhe como pude ou quis, satisfazendo a sua curiosidade.
- Continuas igual como sempre. Sei que tiveste um caso com uma minha amiga. O que te leva a continuar solteiro?
- Fazes-me a mais fácil das perguntas, para a mais difícil das respostas. Contudo vou ser honesto contigo, demasiadamente honesto.
Há 48 anos que vivo só, criei hábitos, costumes, e, acima de tudo vícios nestes últimos 30, coisas que não se modificam ou perdem de um dia para o outro. Relacionamento para mim é cama. Ternura e paixão têm ambas lugar na cama. Algumas mulheres são demasiado exaltadas, outras são demasiado lamechas. O melhor em sexo é que as duas coisas coexistam. Uma parte de mim quer que eu seja montado, outra quer que seja amado. Às vezes penso que o melhor é ter duas mulheres ao mesmo tempo.
Esta situação leva-me a ser fiel ao princípio da infidelidade.
Sexo com ternura e amor faz-se em casa, sexo com paixão, a que chamo de um mero jogo hidráulico, joga-se fora, porque assim é de facto, nada mais é, que um êmbolo a entrar e a sair numa bainha, que nos ajuda a libertar a raiva que contemos.
A grande maioria das mulheres não percebe esta necessidade básica.
A minha amiga estava atónita. Pedi mais dois duplos sem gelo.
Um pouco mais a sério mas sem perder o humor, lá lhe fui dando outras razões.
Olhei-a nos olhos. Reparei então no brilho, a vida naqueles olhos grandes.
Senti, de repente, que algo nessa noite ia acontecer.
Olhei-a de alto a baixo e reparei mais atentamente no que trazia vestido.
Disse-lhe então que há sinais de sensualidade que a roupa indica. A roupa pode dizer-nos se a pessoa está interessada em sexo ou não. Roupas macias, largas, e, quentes ou frescas, sugerem geralmente uma personalidade informal, afectuosa e meiga, e a roupa parcialmente desapertada não só revela mais corpo, como insinua que a nudez total facilmente será conseguida. Roupas justas, abotoadas até cima (senão revelarem a silhueta), são de uma pessoa rígida e eroticamente controlada.
Falei-lhe igualmente dos efeitos visuais da roupa, e porque acham os homens a roupa preta tão sexy. A roupa de renda preta sugere, de imediato, um certo erotismo e talvez uma deliciosa fraqueza de quem a usa. A roupa interior, em si, não é sexy, a forma como o homem vê aquela que a usa é que é um excitante.
- Morgas, agora compreendo o significado da meia preta, decorada com brincos, que tinhas no teu quarto, na antiga casa.
- Nunca a viste. Foi uma “marada” que ma ofereceu. Os brincos eram recordações das paixões que por lá passaram. Uma antiga querida deitou tudo fora, apenas guardo o poema que acompanhava a meia.
Começa assim:
“Certo dia em Penamacor
Com cânticos e operetas
Nasceu um belo gorducho
Louco por meias pretas
Com seu ar jovial
Vai vendendo as suas tretas
Fica com instinto animal
Quando vê umas meias pretas”
……………………….
- Não, nunca vi a meia e os brincos. Mas contou-me quem viu.
Mais um golo de whisky e mais conversa.
Sem querer já estávamos a falar de sexo, gosto pelo sexo, a importância dos preliminares, variedades, as coisas gostosas do sexo.
Sem querer também, lá deixei escapar, que uma das coisas que mais gosto, é que me façam um Fellatio, Bro... em Banho-Maria.
Ficou admirada, quase petrificada.
- Bebe mais um golo de whisky, disse-lhe eu
- Morgas, ouvi bem? perguntou-me
- Ouviste, e como nada tenho a perder, digo-te como deve ser feito.
Li um dia e não me lembro onde: Amor é prisão, Amor é sofrimento, sofre-se por amor.
Este acto exige algum sofrimento. Exige que a companheira encha a boca com água, o mais escaldante que consiga, e depois alguma habituação e treino para “trabalhar a migalhinha” sem deixar escapar a água. Exige mestria de língua: guardanapo, pontiaguda…
É tanto melhor quanto mais quente estiver a água.
Ouviu com atenção, nada me disse.
De mais coisas falámos. Com tudo isto a noite já ia longa.
- Não me apetece beber mais, disse-me
- A mim também não, respondi-lhe
Saímos.
- Estou a adorar esta noite, e de imediato senti a sua mão direita, no meu braço esquerdo, por baixo da manga da t-shirt. Fez-me umas cócegas. Senti um arrepio dos pés à cabeça.
Virei-me e olhei-a.
Meigamente fiz deslizar a minha mão direita nos seus cabelos, da testa até à nuca, puxei-lhe suavemente a cabeça, para expor todo o rosto e dei-lhe um terno beijo nos lábios. Pausadamente dei-lhe um segundo e um terceiro. Ao quarto entreabriu os lábios, senti a sua língua nos meus lábios. Ao quinto foi um quente e húmido, terno e meigo beijo de fazer explodir o coração.
- Vamos, disse-lhe
- Para onde me levas?
- Para minha casa.
Entrados em casa, repetimos aquele explosivo e longo beijo, e começamos a arrancarmo-nos mutuamente as roupas.
Calma.
Fui ligar o esquentador, entrei na casa de banho, tratei da minha higiene, dirigi-me para o quarto e deitei-me sobre a cama, esperando, enquanto ela tratava da sua higiene.
Entrou no quarto, já nua, e disse-me:
- Morgas, não digas nada, não faças nada.
Obedeci. Em verdade, por via de vícios adquiridos, gosto de ser mimado, abuso de alguma passividade.
Juntou-se a mim na cama, beijou-me todo o corpo, massajou-me, fez-me cócegas nos testículos, hasteou a “migalhinha”.
Levantou-se e foi para a casa de banho, ouvia a água a correr, de repente entra no quarto e percebi que tinha a boca cheia com água quente. Inclinou-se sobre a “migalhinha”, fez-lhe umas carícias com a mão, e abocanhou-a.
Nunca tinha sentido água tão quente. Tive a sensação que me ia escalfar, a "cabeça da migalhinha".
Viajei pelo Éden. Sentia os movimentos daquela habilidosa língua. Era um bailado. Que doce surpresa. Os arrepios sucediam-se em contínuo até ás unhas dos pés, nem sei se encarquilharam, arrepios que me causaram cãibras nos gémeos. Abandonou-me, renovou a água quente e deu-me segunda sova, penso que ainda mais violenta que a primeira. Indescritível.
Caros machos, não percais a oportunidade de experimentar a felicidade térrea, de um bem feito fellatio em Banho-Maria.
O prazer reside aqui na terra e ás vezes mora mesmo ao lado.
Zé Morgas