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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Estados da Alma - 7


Há decisões dificeis de tomar.
Sei por experiência vivida, que quase sempre é mais fácil não falar do que dizer aquilo que não se deve.
O Natal já passou, prestes a chegar a mais uma Passagem de Ano, olho para este ano quase a terminar e fico de certa forma infeliz, sem retratar os maus bocados que passei com o operação a que fui sujeito, as complicaçõe pós operaratórias, a recuperação plena que tarda e me permita voltar ao trabalho sem restrições.
Sempre tive do Natal a ideia de uma época que produz muitos efeitos, menos a indiferença.
É uma data comemorada muito antes do cristianismo, cristianismo que se apoderou da data com três funções: reprimir os cultos pagãos, usar dos seus mitos para reforçar o cristianismo nascente, e servir de data para o insabido dia do nascimento de Cristo.
Nada como comemorar a vinda de um salvador, aliás, como nunca, hoje estamos desesperadamente a precisar de um.
Mas é preciso ser um cristão delirante para acreditar que o que move o Natal hoje seria a comemoração da vinda de Cristo.
O Natal começou como uma festa religiosa, hoje toma contornos de uma confluência de rituais e mitos difíceis de dissecar.
A festa do Natal está idolatrada à religião do consumo. Não sei se num futuro se voltará a comemorar a festa pagã com o ressurgimento de simbolos de antigas religiões e mitologias que o cristianismo reprimiu.
O Natal deve ser pensado em conexão com a dita crise do papel da família. A família que temos hoje não é mais a mesma fortemente contestada do tempo do pós guerra.
Na verdade a família mudou muito, há um espaço de liberdade e tolerância dentro dela que antes não existia. Há abusos e situações intoleráveis, é verdade. Mas ainda é a família.
A festa de Natal convoca cada um para que assuma o seu lugar na família.
O jantar de consoada, mais ou menos lauto e festivo, termina sendo para todos uma espécie de teste.
Durante o ano podemos variar e ensaiar posição frente à família, mas na festa da consoada o lugar está reservado.
As conversas em torno das batatas, das couves e do bacalhau para os solteiros por vezes torna-se um drama, pois nesse dia lhes é cobrado, ainda que ninguém diga nada, a sua solidão.
Sabem todos que ali é o dia de mostrar as melhores intenções quanto à continuidade da família.
A festa natalícia pede crianchinhas e o compromisso de “crescei e multiplicai-vos”.
Este ano, sem nada e ver com o atrás dito, maleitas insanáveis na família, que muito agravam cada vez mais a débil saúde da minha querida Mãe, saboreei o gosto amargo de não ter preenchido o lugar no jantar de consoada que um dia já foi meu, não pelo que não comi feito pela minha santa Mãe, mas por saber o desgosto, a dor e a tristeza que a minha ausência lhe causa, somente compensada com um telefonema que sei lhe devolve a alegria e a esperança.
A Minha Mãe, peça fundamental da minha vida, aquela cujo beijo me acalma mesmo nos momentos mais complicados, aquela que não me falta mesmo quando não mereço;
Mãe que é tudo o que sempre idealizei mesmo quando parece ausente e alheada do mundo;
Mãe que é um dos meus pilares, é a certeza que tenho de que tudo vai correr bem mesmo quando tudo parece que não pode correr pior.
Nesta quadra, só, (deixo aqui em registo neste modesto texto do Zé Morgas aos meus amigos que me telefonaram, as desculpas pela minha ausência e recusa aos convites feitos) e a sós com os meus pensamentos, passeando à beira mar a olhar o imenso Oceano Atlântico e a Lagoa de Santo André, acabei por repensar aquilo que queria realmente para a minha vida e estou muito feliz por ter tido a coragem de ter tido esses pensamentos.
Por vezes creio que se impõe abandonar a vida que idealizámos, os projectos, as paixões, para viver a vida que vivemos e agradecer aquilo que temos em vez do habitual queixume sobre o que se não têm.
Não sei se a mudança me assusta, confesso, viver sem projectos nem paixões, mas julgo que será possível.
Começo a gostar da solidão, da vida do passado sem saudade.
Acho que já não sei viver de outra maneira. Começo a adorar a solidão, gosto de observar o mar em silêncio, beber o néctar de Baco, andar de Mota, viajar sem compromissos. Há quem pense que sou uma pessoa má só porque não quero viver com ninguém. Há complicómetros com os quais já não afino.
Não sou saudosista, quero viver no passado. Sou um homem simples do passado, do tempo em que se brincava na rua, aprendendo a lidar com o risco, nem sei o que é isso de saudade.
O que vivi, aquilo de que abusei, por mais nada me quero interessar. Apenas viver...
Aproxima-se o final do ano, o período de balanço de todos os anseios tidos.
Geralmente ficamos sempre aquém do que desejámos e as nossas melhores esperanças nem sempre atingidas, e os sonhos nem sempre realizados.
Um novo ano vai começar, e para os que ainda acreditam, desejo-vos sorte para o recomeçar dos sonhos e da esperança.
Bom Ano 2013
Zé Morgas

sábado, 15 de dezembro de 2012

Carta Aberta XXVIII - Sr. Presidente C.M.Penamacor


Sr. Presidente
O Natal está próximo e o Fim de Ano não tardará a chegar.
Nada tenho contra o Natal, não gosto desse dia, porque nós todos existimos 365 dias por ano, e todos os dias deveriam ser dia de Natal.
O problema é que um dia como esse continua a ser de extrema importância, quando nos 364 dias do ano são relativamente poucas as pessoas que se lembram das desgraças e dos problemas dos mais carenciados e mais necessitados.
Sr. Presidente
Transcrevo aqui as palavras lidas na rede social Facebook “Um convite ao debate regionalpostadas, não sei se como prendinha de Natal, por um destacado autarca do concelho, natural de Penamacor:
Um convite ao debate regional
Com o objectivo de reorganizar as NUTS (Nomenclaturas de Unidades Territoriais - para fins Estatísticos), a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento do Centro está a trabalhar numa proposta para o Governo sobre a região Centro.
Ontem um conjunto de Autarcas do Concelho de Penamacor debateu com o Presidente da CCDR Centro Prof.
Pedro Saraiva o modelo que aquela CCDR irá propor ao Governo.
Em Fevereiro (data da Próxima Assembleia Municipal) este mapa (proposto pela CCDR) será discutido. Gostava de ter a vossa opinião
Reproduzo igualmente um comentário postado por um Penamacorense:
E porque não, destas sete NUTS, apenas uma, para ver se conseguia-mos mais poder reindivicativo? Isto não passa de mais uma discussão sobre o sexo dos anjos. Esta CCDR é mais uma daquelas comissões que não servem para nada, a não ser, em conjunto com todas as outras que se criaram, levarem uma grande parte do nosso orçamento. Preocupem-se é com o estado do país, das pessoas e das empresas...com mais um aumento de 2,8% na electricidade, com o numero galopante do desemprego, com o IVA a 23% a levar muitas pequenas e medias empresas à falência.
JÁ NÃO HÁ PACHORRA!
Sr. Presidente
Concordo em absoluto com o teor do dito comentário.
Habituados como estão os Penamacorenses ao luto das promessas feitas com grandes rasgos retóricos e compromissos eleitorais sem ideias concretas, assumidos pelo edil em exercício no quadrénio quase a findar, muitos falhados ou tardiamente cumpridos, ao excesso em excesso das monumentais "obras mamarrachais" realizadas, sorvedoras dos parcos recursos da autarquia que conduziram todo o concelho à derrocada fatal, desertificado e envelhecido, obviamente motivos que não deixam ninguém satisfeito, são agora chamados via Facebook, a grande maioria dos residentes e posso afirmá-lo com toda a convicção, nem sabe sequer como se liga um computador, a dar a sua opinião se querem pertencer a Castelo Branco, região do Tejo e do Zêzere, ou à Guarda, região da Beira Interior e Serra da Estrela.
Quando o Povo estava ansiosamente à espera de saber como se reorganizariam as freguesias do concelho ao abrigo do novo mapa, leva agora com uma nova cacetada:
- A quem quereis pertencer?
Cheira-me que a decisão está tomada e a solução passa pela Guarda.
A ver vamos...
Sr. Presidente
Fico contente em saber que o processo de classificação do Castelo de Penamacor, símbolo da vila, a Monumento Nacional, iniciado em 1943, 69 anos passados poderá estar a dias de ser resolvido, tal como o conjunto do qual fazem parte a Domus Municipalis, e criação futura de uma zona geral de protecção, que inclui as igrejas da Misericórdia e de S. Pedro, o Pelourinho e o Poço D'el Rei.
Constatei igualmente numa das minha últimas idas a Penamacor que a Câmara comprou e requalificou um quintal junto à torre do relógio.
Há um ano aconselhei solução idêntica, comprar e requalificar,  para o casario que envolve o Baluarte da Polé.
Sr. Presidente
Insistindo uma vez mais no que já foi tema em anterior carta aberta dirigida a Vª Exª, fácil é verificar em Penamacor que se agravam cada vez mais, como em muitas freguesias do concelho, as condições de bastantes imóveis abandonados, ou à espera de novo dono, etc. etc...
É altura de a Câmara fazer uma requalificação das casas de Penamacor, fechadas, abandonadas, em perigo de ruirem, e classificar o que pode ser reconstruido e o que deve ser demolido.
Sabemos que houve erros no passado, excesso de construção e falta de proporção na largura das vias que terão a todo o custo de ser corrigidos.
Devem ser devolvidos ao Povo os locais com história, que a História fizeram.
Penamacor têm um rico património, o mesmo acontece com algumas das freguesias do concelho, que deve fazer as delícias de quem visita a vila e o concelho.
Estas fotos são do baluarte do Reduto e do chafariz do Reduto.
Não precisam legendas, está tudo à vista.
Numa perspectiva futura de incremento ao Turismo, a Câmara Municipal de Penamacor não pode desperdiçar os maravilhosos pontos de visita que a vila dispõe, antes que outros interesses os devorem com danosas utilizações.
Um bonito ponto de interesse para um futuro circuito a integrar num roteiro turístico, sem dúvida mais atractivo e melhor frequentado que o colossal mamarracho do Sumagral, além da melhoria de segurança que trará aos entroncamentos da Rua dos Bombeiros Voluntários e da Estrada da Cavaleira com a Rua Miguel Bombarda, mais conhecida por Rua de Carros.
Uma boa prenda ao povo Penamacorense.
 
A todos desejo
Feliz Natal e Próspero Ano Novo

Zé Morgas

domingo, 4 de novembro de 2012

Molhó Bico

Como todos sabemos, quando as condições são mais difíceis existe uma selecção natural que faz reduzir significativamente o número de participantes em determinados eventos.
O meu grupo não foge à regra.
Nunca foi slogan promocional do grupo “Muitos e Bons”.
Passeios tivemos em que viajamos mais de cem motas.
Com a marcação de passeios mais longos e de maior duração o número começou a reduzir.
Quem agora alinha sabe exactamente ao que vai e se não estiver minimamente adequado ao grupo o melhor é ficar em casa e aguardar literalmente por melhores dias.
Com a garantia dada pelo Nosso Grande Comandante de que não choveria, o que resulta em passeios com maior comodidade, conforto e segurança, pese o facto de pessoalmente gostar daqueles passeios com um “gostinho especial” que o frio e a chuva proporciona, compareceram no local de encontro combinado, a "Pastelaria os Galegos", junto ao Castelo, em Sines, pelas 10horas de dia 1 de Novembro, nove motas e 13 comensais, quatro corajosas penduras incluidas, para o almoço marcado no restaurante Molhó Bico em Serpa.
Bebido o primeiro café da manhã, ordem de partida, e resolve a FJ 1200 do Capitão Espargo não arrancar, a embraiagem não funcionou. Já lhe havia falhado no percurso Santiago - Sines.
Veredicto: ar no circuito de óleo.
Solução: Purgou-se o circuito do ar que por razões óbvias ali não devia andar, e tudo se resolveu.
Sines, Santiago do Cacém, Ermidas-Sado, Canhestros, e aqui o Nosso Grande Comandante contra o inicialmente definido que era seguir por Ferreira do Alentejo rumou em direcção a Aljustrel.
Estrada com mau piso, mas muito bonita a paisagem observada com a maioria dos terrenos todos lavrados.
Paragem no parque de estacionamento de uma grande superfície comercial, a trepidação do piso acelerou à descarga as bexigas mais sensiveis.
Sem que ninguém estivesse muito preocupado em saber a razão da alteração do percurso resolvemos e porque tinhamos tempo, que pararíamos em Ervidel para molhar a garganta numa tasquinha.
Estacionadas as motas no largo central soubemos que uma adega ali bem próxima abrira duas talhas de vinho nesse dia.
Fomos até lá.
A Adega da Quinta de Vale Côvo.
Entrámos.
No local estavam meia dúzia de pessoas que logo nos convidaram a provar a pinga e a comer umas castanhas assadas.
Bebi um tinto, gostei, mas logo fui aconselhado a beber o branco.
O branco, seco mas divinal. Excelente para vinho novo.
OH Grande Comandante, Bem Hajas pela decisão da alteração do percurso.
O dono, o Moreira, deu-nos uma explicação sobre a técnica e o processo de fazer o vinho naquelas enormes talhas de barro de origem romana.
Ficámos igualmente a saber, que têm à disposição uma enorme cozinha para quem queira fazer lá umas petiscadas. Vinho não falta e ainda oferece a maioria dos condimentos para cozinhar, com especial destaque para o azeite, produção da quinta.
Um local espectacular para à roda da mesa se conviver em verdadeira tertúlia de amigos.
Na hora de pagar, uma surpresa, o preço do jarro de vinho, tanto o branco como o tinto é uma pechincha.
Partimos rumo a Serpa com a certeza que um dia destes voltaremos aquela adega.
Beja…Serpa, restaurante Molhó Bico.
Situado em Serpa junto das muralhas, quase perdido numa rua estreita, aparentemente igual a tantas outras. Típica casa alentejana, com as paredes caiadas e o traço amarelo a colorir a fachada parece pequeno mas as aparências enganam. Uma vez transposta a porta, logo à entrada, somos surpreendidos pela sala para grupos com calçada portuguesa no chão e meio metro de parede em tijolo perto do tecto. A decoração à moda alentejana, é simples mas espectacular com gigantescas talhas de barro, com mais de dois metros de altura, tal como as observadas em Ervidel, na adega de Vale Côvo.
Não é difícil perceber que há mais de 60 anos este local era uma adega de vinho e que as talhas serviam precisamente para armazenar tão precioso líquido. Os trabalhadores rurais deixavam os seus carros de bois nas estrebarias e após os longos dias de trabalho ali iam matar a sede.
Mas se o ambiente é rústico, interessa esclarecer que alguns apontamentos decorativos fogem a esta tendência, introduzindo alguma originalidade ao espaço e jogando com as expectativas daqueles que por ali passam.
No total, o restaurante tem três salas: a primeira, a das talhas, ideal para grupos pelo espaço e disposição das mesas; a segunda, mais reservada e pequena, e o salão principal, onde o proprietário se reúne com os seus amigos.
Sem exagero, dá para dizer que meia Serpa por lá pára.
Bebe-se bom vinho, comem-se bons petiscos.
A comida, essa, é regional, do mais tradicional possível (sem espaço para manobras) e as meias doses vêm tão bem servidas que para gente normal ainda sobra.
Comigo não sobra nada, mas, da dose.
Defensores acérrimos do concelho de Serpa, os proprietários dão primazia aos produtos da terra. Com excepção do bacalhau, o feijão, o grão, o azeite, os ovos, o vinho e sem esquecer o pão, tentam que só produtos regionais do Alentejo sejam servidos no espaço.
No que respeita aos pratos propriamente ditos, a carta está recheada de saborosos petiscos de fazer crescer a água na boca. É quase um crime vir cá e não experimentar qualquer um dos pratos de porco preto, por exemplo. São os secretos, as plumas e as migas com carne de porco. Mas há mais, como por exemplo os pratos de borrego, tais como a caldeirada, o ensopado ou as costeletas grelhadas, para além do bacalhau espiritual, o caldo de bacalhau com beldroegas, as pataniscas de bacalhau com arroz de feijão ou o caldo de cação.
Para a sobremesa, destaque entre muitas para a tarte de requeijão, confeccionada com requeijão de leite de ovelha Merina e Campaniça ou então um bolo conventual, como a sericaia e o pão de rala.
Resumindo, boa comida e muita alegria num ambiente simpático e acolhedor, onde o cliente está à vontade e a comida justifica perfeitamente o preço.
No capítulo dos vinhos a selecção é bem cuidada.
Hora de regresso.
Beja, Ferreira do Alentejo, Canhestros, uma primeira paragem do grupo no parque de estacionamento da colectividade desportiva local. O Homem do Caminhão Tir, seguiu viagem rumo ao Litoral Alentejano, até terras de Santo André.
Canhestros, Ermidas-Sado, S. Bartolomeu da Serra, segunda paragem apenas para o trio do costume: Zé Morgas, A.G. e Capitão Espargo.
Combinada ali, entre os “duros resistentes”, a paragem final na "Cervejaria Covas" em Santiago do Cacém onde rematámos o dia com um lanche ajantarado: queijo de ovelha amanteigado, camarão à pedra de sal, e, um saboroso veneno para o ácido úrico como a foto documenta, tudo regadinho com um fresquinho branquinho BSE.
Mais um lindo passeio de mota, na companhia de gente linda.
Foram mais de duzentos e oitenta quilómetros andados na Minha GTR.
Ah vida boa!
Vida que este furacão Gasparina, (sim, porque todos os furacões têm nomes femininos), teima em arruinar acelerada e impiedosamente.
Companheiras, Companheiros
Boas curvas
Zé Morgas

sábado, 15 de setembro de 2012

Estados da Alma - 6

A realidade tem o insistente mau feitio de nos contrariar.
Neste magnifico espaço na esplanada do Grupo Desportivo dos Trabalhadores da Repsol Polímeros, sentado, com as pernas estendidas sobre uma cadeira, com os tornozelos cruzados, a ouvir o chilrear dos passarinhos que por aqui abundam, e normalmente me ocupam o espírito com a nostalgia dos momentos felizes, bebo uma água, embora me apetecesse mais gargalaçar umas cervejolas.
Sinto a cerveja como lágrimas de anjo a chorarem-me na língua.
Aqui, por vezes me rendo, aos tempos que me vão transfigurando, mudando as coisas de lugar e o lugar das coisas.
Hoje, penso nos muitos dias sofridos passados em casa, isolado no meu quarto, com noites mergulhado na escuridão de olhos abertos, (quarto onde ao ritmo de solfejos carnais já vi muitas constelações) deitado de costas com o pé direito apoiado sobre uma almofada alta.
Sem querer, sujeito a criticas mal intencionadas dou comigo a pensar no ser que povoa o clássico do imaginário masculino, a enfermeira.
Quando um homem vê uma mulher voluptuosa vestida de bata branca com os botões a rebentar fica com a vontade que ela lhe trate da saúde.
Pena é que 95% das enfermeiras com estas características só estão nos filmes. A verdade é que não passou por lá nenhuma a tratar-me da saúde.
Caído na real, vezes sem conta ligo a televisão e desligo-a pouco depois de navegar ao acaso pelos canais sem vontade de ver nenhum.
De quando em quando levanto-me e vou até ao sofá da sala onde poucas vezes me sentei, fruto da vida vadia vivida.
Sentado no sofá com um livro aberto em que não me consigo concentrar, há 35 anos que ando para o ler na totalidade, (ainda há dias contava ao meu amigo Karraio em Deixa o Resto, juntos ás voltas com um rodízio de porco preto e umas jarradas de tinto da uva alentejana, como tinha feito a oral de português do 2º ano do curso complementar dos liceus em 1980 com elevada nota a falar da grande obra de Eça de Queiroz “Os Maias”, na memória tinha ainda fresco, o trabalho ouvido dois anos antes na sala de aulas, apresentado pela Marília e pela Mariana, fica aqui perpetuado neste modesto blogue do Zé Morgas o meu Obrigado ás duas distintas colegas, e as poucas passagens que eu li da obra, a paixão incestuosa do Carlos da Maia e da Maria Eduarda netos do aristocrata Afonso da Maia), de imediato pousado ao contrário ao meu lado, volto ao quarto, à minha cama, e deixo o pensamento embrenhar-se na memória.
Nos meus estados da alma 2, numa quase confissão, abordei ao de leve a minha saída do ENSI e o total alheamento pelos estudos e pela leitura. Sem me querer martirizar pela decisão, tornei-me desde essa data órfão de pai vivo, reconheço que nunca deveria ter perdido os bons hábitos da leitura atenta.
Isolado, num “sitio” deserto todos os dias se tornam cinzentos, dias perfeitos para pensar no passado.
A luz demasiado clara dos dias de verão ofusca o pensamento e as memórias.
Há sempre coisas boas guardadas na nossa memória ao fim de muitos anos.
Nós mudamos mas a nossa memória encarrega-se de nos lembrar o que fomos, o que já não temos.
Assaltam-me as dúvidas sobre a paixão, a solidão e as saudades que mais apertam nestas alturas.
Dediquei parte da minha vida entre boémia e excessos a ouvir as perguntas que tinha na minha cabeça e a dar-lhes as minhas respostas. Seguia o que ouvia ou julgava ouvir. Fugia das discussões dos encontros inoportunos.
Por mais que tentasse apagar algumas dúvidas elas só cresciam dentro de mim.
Não sei como consegui viver parte de uma vida com perguntas constantes sem resposta, quando por vezes as respostas eram tão e demasiado óbvias.
Mas errar por paixão ou apaixonadamente, é inevitável.
Poderia eu ter tido uma vida mais pacata sem querer dar resposta ás muitas curiosidades que tinha dentro de mim? É curioso como me interrogo como poderia ter sido.
Se eu tivesse ficado com umas das mulheres que já conheci como estaria agora e como seria?
Se eu tivesse encontrado alguém para me dar com reciprocidade o sopro da vida com paixão com que sonho como seria?
Mais do que a dúvida o que me mói o pensamento é a escolha. Mas na escolha também está a dúvida.
Levam a atitudes inconsequentes.
Ninguém está disposto a mudar seja o que for na sua vida, mesmo que tenha a consciência de que, intrinsecamente, não é sustentável nem funcional, se não estiver no limiar do desespero.
Até lá, mantemos tudo como está, com mais ou menos queixas, com a inerente preguiça humana de seguir o caminho mais fácil, por medo de termos de olhar, frente a frente, a verdade.
Estranhamente apetece-me, e quando alguma coisa me apetece inquieto-me e desassossego-me até conseguir concretizá-la.
Ás vezes até penso que se pudesse, deveria um dia ir ao encontro de amores antigos, de algo ou alguém, antes que me assole o desejo de perdidamente caminhar para uma perfeita solidão e trair todos os meus sonhos.
A memória que ainda guardam de mim, poder-me-ia ajudar a perceber quem sou, e a fazer uma introspecção em relação aos pontos fracos e fortes.
Creio que a auto-análise ajuda a desenvolver um processo de autocrítica saudável.
Uma escolha, chega-me o que tenho ou conformo-me com o que não tenho!
Uma dúvida, imagino que não ou prefiro acreditar que não?
Entra a escolha e a dúvida na escolha assolam-me as saudades de dar umas voltinhas de mota.
Há quase três meses que não sinto a minha Mota, a minha bela Kawasaki 1400 GTR.
Falhei os convívios de Faro e Góis, locais de culto onde cada vez mais, se vêm esculturais mulheres aos comandos de brutais maquinões “RR”.
Gosto de vê-las, confesso.
Há algo de perversamente sedutor numa mulher que conduz um veículo motorizado de duas rodas. Transparecem domínio, controlo, e um toque selvagem que todo o homem motard gostaria de ver transportado para a sua cama
Recordo os abusos recentes cometidos na Vidigueira com os meus amigos motards, onde este ano esteve presente um grupo fantástico da Ilha Terceira, Os Meia Dúzia, pessoas simples de simpatia contagiante.
A noite cai, o momento ideal para ir à procura de um restaurante para jantar com mesa longe da Tv e dos telejornais. Não quero ouvir mais notícias sobre austeridade, dramas sociais e as políticas que levaram à extinção das nossas empresas e ao desemprego galopante que interessa aos grupos económicos que exploram os salários de miséria e as condições precárias de trabalho!
Os ataques à SS têm sido uma constante ao longo dos últimos anos!
Agora com mais uma machadada de 7%.
Anda por aí “caça” a necessitar de umas cartuchadas de sal grosso nas nalgas, um coelho que radicalizando as coisas torna impossível o diálogo.
Não se investe no país mas dão-se salários milionários à elite que se aposenta da política! Aprovam-se mais grandes superfícies para extinguir os pequenos comerciantes, ou será para receber chorudas comissões, corruptas.
E nessas grandes superfícies, nem se encontram artigos feitos em Portugal!
Assim se aniquila um país, o Povo a migalhas, a banca e os amigos tubarões a vilipendiar milhões.
A todos pedem esperança.
Mas eu sei que o dia da esperança será sempre a véspera do dia da desilusão.
Zé Morgas

domingo, 26 de agosto de 2012

No Hospital - 2

Foi muita a correspondência que troquei com várias entidades afim de saber porque não tinha sido operado há cerca de um ano a uma hérnia incisional.
Esclarecido mas não totalmente convencido, foram-me indicadas quatro unidades hospitalares à escolha, aceitei novamente os serviços do Hospital do Litoral Alentejano.
Confirmada a data de entrada, desta vez pela Cirurgia do Ambulatório, sozinho, e com os mesmos pavores na cabeça com que me dirigi na primeira vez para o Hospital, na data e hora combinada compareci, dia 2 de Julho pelas 12 horas.
Apresentações feitas, indicada a “cama” para aguardar a vez, novamente me foi distribuída a tal bata de vestir da frente para trás e as meias elásticas.
Já equipado e deitado, com a companhia de duas enfermeiras para me entubarem e prepararem para a cirurgia, perguntou-me uma o que tinha comido ao pequeno-almoço.
Disse-lhe o que tinha ingerido pelas sete da manhã.
Vi a preocupação no seu rosto, levou as mãos à cabeça.
- Assim não pode ser operado. Tenho que falar com a doutora anestesista.
Volvido algum tempo voltou, disse-me que seria operado nesse dia, mas seria o último. Atrasaria a operação em meia dúzia de horas, seria o último, mas seria de certeza operado.
Disse-me que eu tinha ingerido alimentos em excesso. Teria de me resignar à decisão.
Com toda a verdade disse-lhe ter sido um pequeno-almoço muito aquém dos meus rotineiros e exagerados hábitos.
Veio-me à memória um jantar de Amigos entre gente Amiga em Penamacor na casa do Chico, lá para as bandas do Poço Carvalho no passado mês de Junho. Um delicioso ensopado de borrego temperado de véspera à moda das nossas avós, pela Manuela a senhora sua esposa, cozinhado em panela de ferro, ao calor de borralho brando. Papei três entaipados discos, regados com um néctar digno do deus grego Dionísio. Foram recordadas por alguns dos presentes, para espanto de outros, umas “brutidades” entre desafios e apostas por mim cometidas ao balcão, um ex-libris arquitectónico em formato de ferradura, do saudoso restaurante “O POÇO”.
Pão, azeitonas, quatro bifes à casa, um queijinho da Serra para sobremesa, com apenas mil e trezentas graminhas, metade comido com casca, café e bagachinho… isto numa só refeição.
Outras houve, igualmente violentas, genuínos testes, puros e duros, à qualidade da dilatação estomacal. Um dia, delas falarei…
Nada a fazer, com o cateter entretanto enfiado no braço esquerdo, restava-me aguardar pacientemente.
Na sala estavam mais cinco utentes. Saiu o primeiro a caminho do bloco operatório.
Para companhia de todos uma televisão.
Nos noticiários as notícias de abertura invariavelmente falavam da inevitável greve dos médicos e da injustiça com as contratações dos enfermeiros a um preço hora abaixo do que se paga a uma vulgar empregada de limpeza, pese todo o respeito que tenho e merece a classe.
A ouvir as notícias, a observar o trabalho das enfermeiras, paulatinamente, altruisticamente, ia pensando.
Medicina e enfermagem são ofícios que exigem o mais rigoroso altruísmo.
Médicos/as e enfermeiros/as, ambos/as dedicam atenção ao Paciente, mas quem mais tempo passa com eles?
As visitas dos médicos salvo excepções, duram momentos, enquanto os enfermeiro/as ficam encarregues de administrar aos pacientes os medicamentos prescritos, procurar veias invisíveis, fazer curativos, cuidar da higiene, ouvir reclamações, incitar os pacientes a reagir e a enfrentar o desconforto, consolá-los, orientar e amparar familiares, tarefas que requerem competência profissional, empatia e desprendimento.
Paulo Macedo deveria saber isto, anularia aqueles malditos concursos de mão-de-obra barata.
O problema dos médicos, grave e perigoso, é a sua transformação em gestores de doentes. Uma medida problemática.
Todos os dias o Povo é bombardeado com o anúncio de novos e maiores sacrifícios, e as promessas de cortes nas “gorduras do Estado”.
Na Net circulam pedidos sem resposta e creio que jamais exequíveis, seriam rudes golpes nos interesses instalados, para a redução do número de deputados no Parlamento e vereadores nas Assembleias Municipais, redução das benesses pecuniárias que auferem, reduzir os prémios de presença nas reuniões, reduzir, abolir mesmo as luxuosas frotas de viaturas nas empresas participadas do Estado pagas pelo Povo, etc, etc, e teríamos de facto um bom corte nas ditas ”gorduras”.
Há contudo que salvar o melhor serviço possível ás populações, já que são elas a razão de ser da organização política, e a razão da existência dos políticos. Só assim a política é um serviço e não uma promoção de alguns; e essa é a sua missão que a torna nobre: Servir o Povo.
O político deve servir o cidadão.
Na Saúde há porém outro problema. Nos últimos anos com a chegada dos privados a esta área levantou-se um novo problema: até que ponto é que os critérios de gestão impostos nos hospitais privados e nos públicos com gestão privada, como a imposição de objectivos, não são um factor de pressão para os médicos?
Quando uma administração impõe que um médico despache meia dúzia de operações num dia está a prestar um bom serviço?
E será que o médico, no final da terceira, está em condições para continuar a operar?
O cidadão paciente confia ao médico o que de mais valioso têm: A Vida.
Espera dele a diligência necessária para evitar um mal maior.
Como em todas as áreas e profissões, há os cumpridores dedicados, e… os outros.
O cidadão acredita sempre que encontra sempre os primeiros, aquele que estará sempre ao seu lado e tome as decisões que se impõem.
Estes pensamentos nesta divisão de conceitos política - saúde que abrangem toda a sua extensão, levou-me a perceber as palavras da enfermeira:
… Seria o último, mas seria de certeza operado.
Tal aconteceu por volta das 20 horas desse dia 2 de Julho de 2012.
Conduzido ao bloco operatório, uma breve conversa com a equipa: cirurgião, anestesista, enfermeiras, braços amarrados, senti as pálpebras a cobrirem os olhos rumo a uma serenidade sem descrição
Acordei pelas 22 horas a ouvir uma palavra de conforto da enfermeira de serviço.
Reconduzido à sala do ambulatório, onde à entrada estava o meu amigo Risadinhas, sem tempo sequer para ambientar os olhos ao espaço onde já estivera oito horas em tétrica meditação política, ordenou-me a enfermeira:
- Telefone ao seu amigo para o vir buscar mais logo, pelas sete e meia da manhã.
- Telefonar agora? Retorqui
- Sim, agora mesmo, antes que se faça mais tarde.
Assim fiz.
Seguiu-se um passar de horas sem conseguir ferrar no sono.
Pelas 6h e 30m houve toque de alvorada, acenderam as luzes.
Fui “desentubado”, fiquei apenas com o dreno “cravado” na barriga.
- Levante-se, ordenaram-me
- Como, assim neste estado? Operado há tão pouco tempo!
- Ponha o braço direito sobre o penso, use o braço esquerdo para auxílio no levantamento do corpo.
Percebi que não valia a pena entrar em lamechices. Obedeci.
Em pé, a segurar o dreno, dirigi-me ao vestiário onde troquei a indumentária hospitalar pela roupa civil.
- Sentiu alguma tontura?
- Não
- Pode tomar o pequeno-almoço.
Escolhi um sumo de laranja e uma sandes de fiambre. Confesso que tinha fome e a operação não tinha sido ao estômago.
Chegou entretanto a médica estagiária, auxiliar do cirurgião. Uma observação visual, distante, autorizou o enfermeiro a sacar-me o dreno.
Foi também o enfermeiro, que me explicou com um profissionalislo exemplar, tintim por tintim, como deveria tomar toda a medicação prescrita pelo médico.
Mudança de turno, entraram ao serviço as mesmas enfermeiras que me prepararam para a operação no dia anterior. Para elas, tal como para a colega do turno da tarde, fica aqui o registo de um sincero Bem Hajam pelo profissionalismo, competência e dedicação demontradas.
Sentado numa cadeira aguardei que me fossem buscar, estava proibido de conduzir por um período de sete dias.
Sai do hospital pelas nove da manhã do dia 3 de Julho, com uma "costura" de quinze centrimetros e a obrigação de lá voltar no dia 16 pelas 12 horas.
No dia 16 de Julho de 2012, depois de o médico cirurgião me ter dado dois ou três toques com os dedos na zona intervencionada, disse-me que teria de estar três meses sem fazer esforços e que estava tudo bem.
Alertei-o então para o facto de, já há uns dois dias me ter começado a inchar o tornozelo e a perna direita, e sentir algumas dores, o que me causava bastante desconforto. Com o indicador da mão direita fez-me um diagnóstico a ambas as pernas na parte inferior logo a seguir aos pés.
Estava tudo bem e era normal o inchaço.
Sai apenas com um papel na mão a solicitar agendamento de consulta para daí a +/- 1 mês.
(consulta marcada para o dia 20 de Agosto, entretanto desmarcada por carta recebida e remarcada para o dia 3 de Setembro de 2012)
No dia 17 de Julho, a seguir ao jantar, recebi a visita de um Amigo meu. Mostrei-lhe o estado do tornozelo e da perna e lamentei-me das dores que sentia, que se agravavam.
Disse-me que eu tinha uma tromboflebite. Aconselhou-me a ir a um médico para ser observado. Relatou-me o exemplo de um seu irmão que havia passado pelo mesmo, as complicações que tinha tido. Assustei-me com o que ouvi. Contei-lhe que no dia anterior tinha estado no Hospital do Litoral Alentejano e o médico que me observou me ter dito ser normal aquele inchaço a seguir a uma operação.
Reconheço que nada percebo de medicina, confiei na palavra do Professional que me observou.
Passei todo o dia 18 de Julho com fortes e incomodativas dores na perna, sempre na esperança de melhorias.
Na manhã do dia 19 de Julho, depois de me levantar, ao tentar apoiar o pé direito no chão para andar, constatei que não o conseguia fazer, as dores eram insuportáveis.
Deitei-me, amaldiçoando o meu triste infortúnio. Em condições normais estaria a caminho de Faro, a conduzir a minha Mota, para participar na concentração internacional de motas.
Levantando-me a custo, por duas ou três vezes, fiz umas tentativas para andar.
Sem sucesso. A dor foi sempre mais forte do que eu.
Pelas 17 horas, com um enorme esforço, de dentes cerrados alheando-me à dor, dirigi-me a um consultório médico a fim de ser observado.
O veredicto médico confirmou o que me havia “diagnosticado” caseiramente o meu Amigo Prof.
60 comprimidos Daflon 500mg e 28 comprimidos Clopidogrel Krival 75, foi a receita para o tratamento e a recomendação de muito repouso.
Uma interrogação assalta a minha mente:
Como é possível que com tamanhos sintomas (ainda hoje é visível o inchaço no tornozelo direito) o cirurgião que me operou, não me tivesse diagnosticado logo no dia 16 de Julho, no Hospital do Litoral Alentejano, a tromboflebite?
Acredito que teria sofrido menos e a recuperação teria sido mais rápida.
Assim tem sido a minha sina com o que me disseram ser uma simples operação a uma hérnia.
“Quando as coisas nascem tortas, tarde ou nunca se endireitam.”
Dia 3 de Setembro lá estarei na certeza de que melhores dias virão.
Zé Morgas

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Carta Aberta XXVII - Sr. Presidente C.M.Penamacor

Sr. Presidente

Esta é uma foto de um “pilareco em granito” que vi deitado no chão no sítio onde decorrem umas obras em Penamacor.
Grosseira e toponimicamente falando, antes que o pilareco aceda à sua verticalidade, convinha que Vª Exª mandasse alterar o nome de:
“Rua de Clamart“ (pelo respeito que tenho pelas gentes de Clamart, merecem mais que uma Rua com o nome da sua localidade, longe q.b. do Muro da Vergonha) para “RUA DAS CLAMAÇÕES” e a área da rotunda baptizada de “OVAL DAS CLAMAÇÕES”.
Passará o espaço doravante a ser um local de peregrinação para todos os habitantes do concelho de Penamacor, onde poderão, clamar, exorar a má sorte e o infortúnio da governação de uma equipa que Vª Exª dirige, que tantos mamarachos edificou na sede do concelho, esbanjando dinheiro a rodos, tão necessário em obras bem mais prioritárias, tanto na Vila como em todas as Freguesias.
Sr. Presidente
Pelo número de candeeiros que contei, não tenho dúvidas em afirmar que essa será a área em Penamacor com mais luminosidade por metro quadrado.
Algum acordo único com a EDP!,
Quanto maior o consumo maior o desconto?
Ou, será tanta luminosidade m/2 já a pensar na segurança dos futuros implorantes suplicantes na “Rotunda Oval das Clamações”?
Sempre ao dispor
Zé Morgas

domingo, 8 de julho de 2012

Carta Aberta XXVI - Sr. Presidente C.M.Penamacor

Sr. Presidente
Alimentei a esperança neste primeiro semestre de 2012 de ver inaugurada algumas das tão badaladas obras por Vª Exª prometidas. Hotel, Rotunda das Aldeias?!...
Na minha última estadia em Penamacor constatei que já estava aberto o trânsito no sentido:
Lar Dª Bárbara – Senhora dos Caminhos e vice-versa.
Curioso em saber o que ali tinha sido feito, no já incontável tempo e sem fim à vista que as obras levam, resolvi observar.
Sr. Presidente
De uma boa dezena de reparos que poderia fazer, fico-me por dois:
1º.
È quase criminosa a forma como estão dispostas as tampas metálicas das caixas do saneamento, das águas pluviais, das telecomunicações e da electricidade.
São umas perigosas armadilhas para automobilistas e essencialmente para motociclistas.
Será muito difícil idealizar uma trajectória segura sem "escorregar" numa tampa.
Com muitos milhares de quilómetros percorridos por essas estradas, nunca vi nada assim.
Penamacor destronará o Entroncamento em termos de fenómenos.
Atente nas fotos.
Todas falam por si e todas dispensam comentários.

A armadilha está armada nessas duas curvas. Agravada em dias de maior humidade e de chuva.
2º.
Os postes de iluminação
Com tanto espaço existente, tinham que ser colocados no passeio.
São para melhor ornamentar as fachadas das habitações?
Nem ouso pensar sequer que podem perturbar a circulação das pessoas.
O passeio até é larguíssimo!!!
Sr. Presidente
Estão colocadas bases para novos postes, no lado oposto da via, que poderiam suportar candeeiros duplos, iluminariam a via e o passeio em perfeitas condições.
Poupavam-se inclusivé uns postes.
Tome-se como exemplo os candeeiros colocados no separador central do colossal mamarracho da via estruturante sul.
Ainda acredito que um dia tudo se corrigirá.
Zé Morgas

terça-feira, 3 de abril de 2012

Guimarães - Braga

À terceira foi de vez.
Com duas ausências nos dois primeiros passeios deste ano, a incerteza das datas exactas do arranque da unidade do “steam-cracker” a isso me obrigou.
Escolhidos os destinos, Guimarães, Capital Europeia da Cultura 2012, e Braga, Capital Europeia da Juventude 2012, definida a data, 16 a 19 de Março, reservado o alojamento no VillaHotel em Guimarães, restava apenas saber quantos participariam.
Os últimos dados apontavam para seis motas e dez participantes.
Por motivo de doença da H.C., forçada a uma “clausura caseira”, a quem aqui deixo neste modesto texto em nome de todo o grupo participante no passeio, o registo dos votos de rápidas e totais melhoras, o H.M não alinhou.
Como esperado, o casalinho do Caminhão-Tir desistiu também. Consequência do escaldanço das beras e duras rotas traçadas pelo compadre P.C.?!
Combinado o ponto de encontro para tomar o pequeno-almoço e partida, na já habitual Pastelaria “O Celeiro Doce”, definimos a primeira parte do trajecto, e, logo ali manifestada a primeira e enorme preocupação do Nosso Grande Comandante...
Onde iríamos almoçar? Calma Comandante.
Com o tempo “acinzentado”, decidimos ir por auto-estrada até Santarém, com uma primeira paragem nas bombas da Repsol.
Aqui sim, escolhemos o local para almoço. Porque já lá tinha estado e gostado, sabendo eu e todos que o leitão é um pouco como no futebol: cada um tem o seu clube, o seu gosto, o A.G. aconselhou o restaurante “João dos Leitões”, muito procurado pela qualidade do assado e com preços sensatos, próximo da saída da A1.
Fica no lugar de Piedade, Espinhel, Águeda.
Boa a escolha, contudo também a crise por ali se faz sentir, ouvimos os lamentos da proprietária com a escassa clientela.
Durante o almoço, acertamos o trajecto até Guimarães a partir da saída da A1 no nó de Espinho por estradas nacionais:
Crestuma, Pedorico, Castelo de Paiva, Entre-os-Rios…
Nesta localidade, em Março de 2001 ocorreu um gravíssimo acidente, que consistiu no colapso da Ponte Hintze Ribeiro, inaugurada em 1887 e que fazia a ligação entre Castelo de Paiva e a localidade de Entre-os-Rios. Ficou conhecido como Tragédia de Entre-os-Rios. Do acidente resultou a morte de 59 pessoas, incluindo os passageiros de um autocarro e três carros que tentavam alcançar a outra margem do rio Douro.
O desastre levou a acusações quanto à negligência do governo português, levando à demissão do Ministro do Equipamento Social da altura, Jorge Coelho, hoje um destacado CEO da construtora Mota - Engil.
…Penafiel, Lousada, Vizela, Guimarães, Villa Hotel.
Motas guardadas na garagem, check-in feito, combinada a hora de encontro na recepção do Hotel para saída à procura de restaurante para jantar, tempo de sobra para arrumar a bagagem no quarto e tomar o retemperante e merecido banho de final de viagem.
Munidos de um mapa turístico da cidade e com a recomendação dada pelo recepcionista de irmos jantar ao Restaurante Mumadona, saímos do hotel rumo ao centro histórico de Guimarães.
“Espreitadas” duas ou três ementas em outros tantos restaurantes, resolveu o Nosso Grande Comandante perguntar a uma linda Moçoila que connosco cruzava, a localização do restaurante Mumadona. Lá nos informou, dizendo que ficava um pouco distante, mas, o melhor seria levar-nos lá. Foi o que fez, guiando-nos pelas típicas ruas e vielas de Guimarães.
Disse-nos que era um restaurante muito frequentado por estudantes, onde se comia bem e em conta.
Deus acompanhe pela vida fora aquela tão prestável e gentil moça. Aqui fica o registo de um sincero Bem Haja.
Sentadinhos com as ementas em frente aos olhos, escolheu a maioria bacalhau à moda da casa.
A meio da degustação irrompe pela sala um barulho ensurdecedor de cânticos e palmas. Perguntei ao empregado o que se passava,
- É um grupo de senhoras que estão numa sala anexa, a jantar e a comemorar o Dia Internacional da Mulher, porque não o puderam fazer no dia 11.
- Com tanto barulho?! Perguntei admirado.
- Sabe Senhor, já passaram por aquelas gargantas umas belas malguinhas de tinto verde.
Ah valentes cantadeiras.
Saímos satisfeitos e contentes.
No centro histórico uma tuna, que não identifiquei, alegrava os ouvidos de quem passeava, e a passear, descobrimos um bar acolhedor, por ali nos quedamos a beber umas caipirinhas pretas, caras e com falta de substância, farturinha só de gelo.
Em amena cavaqueira, destinamos o dia de sábado a visitar Guimarães, e, domingo, Braga.
Sábado 17
A alvorada foi ao toque de porraditas na porta do quarto dadas pela Lálá.
Se o não têm feito, e coisa impensável, o Nosso Grande Comandante tinha perdido o pequeno-almoço.
Por onde andou  aquele valente madrugador-mor?
Informou-nos a Lálá que o dia estava de chuva. Veio-me à memória a viagem feita a Ronda e o sábado quase passado no interior do Hotel.
Pequeno-almoço tomado, saiu o grupo do hotel e entrou numa loja chinesa, muitas por ali imperam, para comprar guarda chuvas. Remédio santo. Espantaram a chuva.
Visitas à Igreja de Nª Sra. Conceição, Castelo de Guimarães, Capela de S. Miguel, Paço dos Duques de Bragança, e outros pontos de interesse.
Soube enfim, ouvido da boca da guia do palácio, no quarto da Dª Catarina, quarto onde, se diz, nunca dormiu, a razão porque os ingleses, a lenda assim o reza, ao chá chamam “Tea”.
Foi Dº Catarina quem introduziu o hábito em Inglaterra, ainda hoje muito em voga, de beber chá. Como os seus conhecimentos de inglês eram muito rudimentares, sempre que um chá oferecia, dizia:
- P’a ti.
Daí ao “Tea” foi um perdurar de nome no tempo.
Visita finda, e fomos apanhar o teleférico até à Penha.
Hora do almoço, e pela segunda vez ia o grupo comer bacalhau, o afamado bacalhau com broa no Restaurante Dan José, sim Dan, abreviatura de Danilo, um dos filhos do proprietário.
Deliciosas entradinhas, o bacalhau divinal, o vinho, um tinto Mata Loba, produzido e engarrafado em Malga, Cavez. A sobremesa, um misto de doces e frutas servida numa tábua redonda, estava um mimo. Tudo bom, e mais uma vez, notória a pouca clientela.
Um longo passeio pela Penha, e antes de regressar via teleférico à cidade, uma última malguinha de tinto verde na mui típica Taberna do Ermitão, sediada nas profundezas de uns colossais barrocos.
Para lanche dos duros, houve quem fosse bater uma sesta ao hotel, uns caracóis do mar, umas garrafinhas de tinto verde, Ponte da Barca, na cervejaria Martins, nas proximidades do Largo do Toural. Esta cervejaria foi-me recomendada por alguém que me reconheceu na rua, a Ângela, filha de um Amigo meu de longa data, também natural de Penamacor, o Tó Urbano, “Kelu” para os Amigos Penamacorenses, epíteto agora eternizado neste meu modesto blogue.
Toca o meu telemóvel. Despertos pela sesta, com fome, queriam saber onde estávamos para vir ao nosso encontro e se procurar restaurante para jantar.
Ouvira-mos falar num restaurante típico, o Cacos, famoso pelo malicioso vernáculo da linguagem usada pela dona. Fomos à descoberta do dito.  Entramos e foi-nos dito pela dona que estava a lotação da sala esgotada.
Com pena saímos, e a pensar noutra solução, perguntamos a um casalinho que connosco cruzava se conhecia algum restaurante bom por perto. Era sua intenção jantar no Cacos, mas se já estava tudo reservado, disse-nos
- Venham daí, vamos ao Restaurante Piedade.
Caminhando a conversar, ficamos a saber que era um jovem calceteiro, e que até já tinha executado uns trabalhos de calçada por estas bandas do Alentejo.
Curioso, o restaurante era na mesma rua do nosso Hotel, mas do lado oposto.
Enquanto se escolhiam as refeições, foi-nos servido para entrada uma magníficas papas de sarrabulho, deveras elogiado pelo nosso anfitrião:
- A minha mãe faz umas papas de sarrabulho muito boas, mas estas são muito melhores. Se o moço o dizia…
Recaíram as escolhas dos comensais entre um bife de vaca e Polvo à Lagareiro para o restante grupo, saborosíssimo e tenrinho, que nada ficou a dever ao que de melhor já comi.
Entre os intervalos das garfadas, sempre mais espaçados que os da sua companheira, dá gosto ver alguém tão franzino comer com tanta satisfação e apetite, lá me dizia o João, assim se chamava o rapaz,
- Aos sábados há aqui quase sempre fados e guitarradas.
Sem ninguém o saber, já ele tinha telefonado a um amigo a convidá-lo a estar presente com a sua Guitarra Portuguesa.
Enquanto jantávamos mais duas ou três mesas se compuseram.
Findo o jantar, sentou-se numa mesa contígua à nossa o seu amigo, começa a dedilhar a guitarra portuguesa, evidenciando desde logo uma técnica apurada sem limitações no manejo do instrumento e brinda-nos com um vozeirão que a todos impressionou, cantando temas tão variados, desde Zeca Afonso até ao Cante Alentejano,
Canção de Embalar, Ora vejam lá, Uma Casa Portuguesa, Os meninos de Huambo, Eu ouvi o passarinho, O mineiro de Aljustrel…
Enfim, uma noite de canto que a todos encantou.
Na despedida, ouvindo os lamentos do dono da casa Piedade, pelo infortúnio de não ter na família quem queira continuar com a tradição do negócio que já leva 106 anos de existência, mimou-nos com um bem apaladado e explosivo cocktail. Tinha em excesso a “substância alcoólica- calórica” que faltou nas consumidas caipirinhas pretas da véspera.
De arromba. Sorte o hotel estar apenas a dois passos do outro lado da rua. Foi analgésico para uma noite dormida sem sobressaltos.
Domingo 18
Pequeno-almoço tomado, motas fora da garagem e iniciamos a viagem rumo ao Santuário do Sameiro, via rampa da Falperra.
Foi neste Santuário que se realizou o Dia do Motociclista em 2004, onde estive presente com o Nosso Grande Comandante e o Lázaro.
Partimos para nova visita e a um outro santuário, o Santuário do Bom Jesus do Monte, também referido como Santuário do Bom Jesus de Braga.
Este Santuário católico constitui-se num conjunto arquitectónico paisagístico digno de visita.
Nova viagem até Braga, agora com alguns pingos de chuva teimosamente a quererem humedecer os fatos, para a freguesia da Sé, onde se situa a Sé de Braga.
Na visita que efectuamos à Sé, levou o Nosso Grande Comandante uma reprimenda pelo facto de estar a tirar umas fotos no interior do templo. É proibido o uso de máquinas fotográficas.
Serviu contudo a reprimenda para abreviar a visita e acelerar a ida para o almoço.
Pertinho, à vista, situa-se a Churrascaria a quem a Sé "empresta" o nome. No ar um cheirinho que parecia chamar-nos. Entramos em boa hora, porque pouco tardou, e ao contrário de todos os restaurantes anteriormente frequentados, este encheu.
Comi umas saborosas costeletinhas, o vulgar entrecosto.
Para passeio de tarde, decidimos visitar o Mosteiro de São Martinho de Tibães, um dos mais ricos e poderosos mosteiros do norte de Portugal, Casa Mãe de todos os mosteiros beneditinos.
O Povo sofria e pagava para os Monges viverem faustosamente, tal como a Nobreza.
Regresso a Guimarães e ao Hotel.
Jantou com o grupo o Tó e a Lurdes, no Restaurante “Pedrinhas”, a escolha foi do Tó, a meia dúzia de quilómetros da cidade, (foram as Senhoras no carro do Tó, fomos os Homens das Motas no Táxi Salgado) onde o Bacalhau à moda da casa voltou a ser rei na mesa.
As sobremesas, variadas e à descrição, cada qual serviu-se do que mais gostou e a quantidade que quis. Faltou muito estômago para tanta fartura.
Irra, três dias por terras minhotas e outras tantas refeições de bacalhau.
Acabámos a noite no mesmo bar onde estivemos na noite de sexta-feira, a sorver as pobres e mal servidas, caras caipirinhas pretas.
Segunda 19
Dia de regresso ao Alentejo.
Repetido o abuso da gula do pequeno-almoço dos dois dias anteriores, o pecaminoso habitual alambazar de ovos mexidos, bacon frito, presunto, queijos… uma combinação perfeita destruidora da anatomia deste corpinho sofridamente edificado em bicicleta elíptica, bagagem colocadas nas motas, uma agradável surpresa:
Com um sorriso de encantar, disse-nos a recepcionista do VillaHotel que o parqueamento das motas na garagem era grátis.
Partimos com paragem agendada em Lamego.
Felgueiras, Lixa, Amarante, Mesão Frio, antes de Peso da Régua, uma pausa para umas panorâmicas fotos sobre o Rio Douro, sempre espectacular sobre o leito serpenteado, uns comentários sobre o excessivo trânsito visto a circular naquelas manhosas estradas, sobretudo camiões, o pagamento de portagens nas vias Scuts a isso os obrigou, Peso da Régua, Lamego.
Estacionamos as motas, duas por espaço, num parque com parcómetros na avenida frontal ás Escadarias que dão acesso ao Santuário dos Remédios.
Libertos dos capacetes, e sempre com a pressa do costume, partiu o Nosso Grande Comandante à procura de umas “lembranças doces”. Retirei com calma o bilhete de pagamento do estacionamento. Volvidos alguns minutos, abeirou-se de mim o guarda Municipal, vigilante dos parcómetros, que me disse não podermos estar ali estacionados.
- Porquê? Perguntei-lhe.
- Nos locais com parcómetros só os carros podem estacionar
- E as Motas?
- Só se tiverem um espaço identificado com placa de Parque para Motociclos.
- E aqui onde está?
- Não há, não existe neste parque pago.
Revelei-lhe com honestidade que tal desconhecia e que até tinha tirado o bilhete, que comigo mantinha. Disse-me ter visto esse meu gesto. Também desde logo me disse, e aos meus companheiros que se juntaram, que não nos iria multar e que tal só sabia, porque um colega seu, motard, o tinha informado.
Falamos da descriminação a que os pobres motociclistas estão sujeitos. Contei-lhe o meu exemplo. Pago o triplo em valor de selo que pago pelo carro e estou proibido, mesmo pagando, de estacionar A Minha Mota em parques com parcómetros; nas Scuts, rolo com duas rodas, ocupo metade do espaço, e pago como se rolasse com quatro e ocupasse o dobro do espaço. Só neste Portugal.
Chegou o Nosso Grande Comandante com o avio feito, informámo-lo do sucedido, desconhecia também a proibição de estacionar Motas em parques com parcómetros, a não ser que para o efeito tenham o respectivo espaço sinalizado.
Despedimo-nos do Agente da Autoridade, contentes por saber que ainda há alguém, que sem febre de multar, com classe e pedagogia nos ensina algo.
Desejou-nos Boa Viagem.
A-24, pela primeira vez ia pagar uns cobres nas recém portajadas Scuts, foi rolar sem ver um carrinho até entrar no IP3.
Almoço próximo da Barragem da Aguieira, tema de conversa, a situação vivida em Lamego, e, decidiu o grupo o trajecto final pela A1, Santarém, A 13 , A2, Vila Nova de Santo André.
Mais um grande passeio realizado em beleza,  mais mil e duzentos quilómetros aos comandos da minha Kawasaki 1400 GTR.
O próximo será até Moreanes, dia 15 do corrente mês de Abril, para comer as deliciosas cabeças de borrego, de animais jovens, servidas desmanchadas no prato, e a divinal doçaria conventual, de origem alentejana, feito com ovos, leite, farinha, açúcar e canela, Sericaia com ameixa de Elvas.
Boas Curvas
e
FELIZ PÁSCOA
Zé Morgas

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Estados da Alma - 5

Aqui, algures entre S. Torpes e Porto Covo, espreito o mar, onde já vezes sem conta, o espreitei.
Sinto neste olhar de transe com o mar que as rugas da minha alma se vão, o que me dá alguma frescura e me permite com serenidade a leitura atenta dos jornais e revistas.
Uma das minhas características é ser demasiado organizado, sem contudo ser escravo ou obsessivo da minha organização. Por isso me sobra tempo para o improviso, passear, ver e ouvir o mar, ouvir música, estar só, tempo para o silêncio e para alguma escrita.
Qualquer ser humano prefere viver a escrever. Gosto de escrever neste modesto blogue o que me sai, liberto, sem grande grau de exigência, directo, chamar as coisas pelos nomes com sexo e calão à mistura de forma terapêutica, e sem o respeito pelo novo acordo ortográfico, que me parece um erro de base querer uniformizar uma língua, pois a sua riqueza reside justamente na diversidade. O acordo afasta as palavras da sua raiz e tem demasiadas coisas facultativas ou pouco lógicas.
Como diz o meu Amigo Changoto - "Agora deixa de ser uma língua novilatina e passa a ser uma novimultiforme. Sangraram de tal forma o seu mais típico , a sua vernaculidade e a matriz que, daqui a poucos anos, ninguém vai perceber que a sua mãe foi o latim".
Não quero perder o respeito pela literatura e pelos escritores, pessoas de talento
Neste paradoxo mundo da tecnologia, que cada vez nos aproxima mais de quem está longe, mas que nos afasta de quem está perto, alheio à crise e ao défice do País, que todos os dias é notícia de abertura nos noticiários nacionais, quero em silêncio preocupar-me com a minha dívida afectiva.
Vivemos num mundo onde conta muito a maneira como se fala, se aparece montado e se veste.
Coisas! que dão ”Status”, como me disse um amigo meu há dias.
Depois de uma faustosa jantarada, convidou-me para o acompanhar até à sua casa, queria “enrolar um daqueles que fazem rir”, lavar os dentes e encharcar-se de perfume, antes de iniciar a ronda pela “night”. Para espanto meu, na sala, observei que tinha a Tv sobre o caixote de transporte e, de sofás ou bancos nem vestígios.
Perguntei-lhe a razão de tão espartana decoração, ele que até têm um potente carro alemão, e, em termos de vestuário gosta de acompanhar a moda. Como afirma, se não veste as últimas tendências, pelo menos gosta de rustir coisas recentes.
Confesso que “rustir” não é verbo que faça parte do meu vocabulário.
-Sabes, o recheio da casa não se vê, não dá Status.
Percebi o recado e mais, entendi finalmente porque fala com tanta lamechice sobre a crise no país instalada, e a razão porque qualquer leve tropeçãozinho em pasto seco o derruba
Vivo no lado oposto da mesma linha.
Lá lhe fui dizendo entre o sério e a brincadeira, que por estas bandas a crise ainda não se fez sentir. Pelo que me toca, a escolha entre um carrão ou o conforto do meu ninho optei pela segunda opção. È com enorme satisfação que olho as variadas recordações que trouxe dos locais por onde já andei, são os selos que certificam as minhas passagens, as histórias, os momentos vividos.
Quanto a modas, o que pode um cheiinho corpinho, onde qualquer trapinho assenta bem, exigir? Nada, absolutamente nada, a não ser usar, gastar até à exaustão as fibras da lã e dos tecidos.
Carros… “curto maningue” o meu mobille hotel, Fábrica Ordinária Reparações Diárias.
Os anónimos amores que já ali foram sarados em ambientes de pura ruralidade.
Mergulhado na imensidão do oceano de olhos abertos, com uma revista aberta sobre os joelhos em que não me consigo concentrar, vêem-me ao pensamento depois de começar a ler um artigo intitulado:
Adição: As histórias de uma dependência ainda mal conhecida
Quando tudo se resume a sexo
as palavras que me assolaram há dias com um certo sentimento de culpa, e já não é a primeira vez, na subida da Serra de Grândola:
- Foi a última vez, nunca mais cá volto.
Com a devida vénia ao autor, permito-me a “copiar” o dito artigo:
Seduzir, conquistar, pagar se for preciso. A vida de um viciado em sexo centra-se na busca de parceiros por uma noite. Só quando a vida mergulha no caos se percebe que é preciso parar.
"Não disse nada aos amigos e no trabalho também não contei a ninguém. Se uma pessoa disser que é alcoólico é facilmente aceite pelos outros. Se disser que é toxicodependente, as pessoas percebem que há tratamentos. Mas ninguém compreende que alguém não seja capaz de controlar os seus impulsos sexuais". João (nome que escolheu para ocultar a verdadeira identidade), tem 55 anos e é viciado em sexo. Depois de um internamento numa clínica portuguesa diz que hoje consegue resistir aos impulsos e garante que já não tem relações sexuais há cinco anos. Mas o monstro que lhe consumiu a vida durante quase dez anos ainda vive na sua cabeça: "Tenho vontades. A minha preocupação é tentar fazer outra coisa que me distraia desses pensamentos".
Dependência sexual, desejo sexual hiperactivo, adição. Os especialistas defendem termos diferentes para um comportamento que João define de forma simples: "Durante anos eu só pensava em sexo. Era incontrolável. Recorria a prostitutas, chegava a ter relações sexuais pagas três ou quatro vezes por semana".
A obsessão de João começou pouco depois de o pai ter morrido. Tinha 42 anos. "Recebi algum dinheiro da herança e fiquei a tomar conta do negócio do meu pai. Nunca tinha tido tanto dinheiro e foi isso que me fez perder o controlo". Técnico industrial numa fábrica da região de Leiria, começou a frequentar casas de alterne e a responder a anúncios de prostitutas publicados nos jornais. "Era como um garoto. Nessa altura o dinheiro não era obstáculo, fazia tudo o queria".
João começava a planear ir à procura de uma prostituta de manhã e já não conseguia pensar em mais nada". Tinha de ir. Sentia prazer quando tinha sexo, mas depois ficava arrasado: "Mas que m*, pensava eu. Foi a última vez, nunca mais cá volto". Mentia a si próprio. Voltava sempre, mas nunca à mesma mulher. "Procurava pessoas diferentes. Queria sempre mais, experiências mais fortes, mas acabava sempre infeliz". Fechou a porta a qualquer relação sentimental. "Nunca procurei ter uma namorada. Só queria a satisfação da parte física e para isso tinha as prostitutas".
O mundo de João começou a desmoronar-se quando a família se apercebeu dos desfalques na conta bancária da loja. A irmã confrontou-o e ele não teve como escapar. "Contei-lhe tudo e ela deu-me duas hipóteses: Ou procurava ajuda para me tratar ou então ficava sozinho, sem dinheiro e sem apoio de ninguém".
A escolha não foi imediata, mas João acabou por se render. Aos 50 anos chegou à clínica Villa Ramadas, perto de Alcobaça, especializada em problemas de adição. Nos quatro meses seguintes ficou internado, a reaprender a viver. Hoje diz-se um homem diferente, mas ainda há temores que não passam. "Continuo a não ter namorada e não sei se quero ter. Nunca mais tive relações sexuais, tenho medo do que possa acontecer".
Eduardo Silva, psicólogo, é o responsável clínico da Villa Ramadas. Explica que já receberam cerca de 10 pessoas para tratarem problemas de adição sexual, quase todos homens e na sua maioria estrangeiros. "Fazemos terapias individuais e em grupo, em regime de internamento que pode ir até aos seis meses. Também trabalhamos com dependentes químicos (viciados em drogas) e misturamos os grupos nas sessões terapêuticas. O sintoma da procura do sexo é só o produto final de um vazio que já existe. A pessoa está incompleta". O psicólogo define a adição como "um hábito forte que se transformou em padrão. É problemático quando a vida familiar e profissional se torna um caos. Quem fica obcecado sexualmente mergulha num carrossel de emoções que não consegue controlar".
Luís Duarte Patrício, médico psiquiatra e ex-director do Centro das Taipas – que trata toxicodependentes – alerta para os vários perigos associados a comportamentos sexuais descontrolados. "A adição ao sexo é um comportamento que pode levar à dependência, sobretudo quando a ausência de sexo provoca sofrimento. Podemos falar em síndrome de abstinência, como acontece com as drogas". Um vício nunca é inócuo. O psiquiatra alerta ainda para outros danos, mais imediatos, "quem sofre este tipo de perturbações pode assumir comportamentos sexuais de risco. É fundamental falar de higiene e do perigo das doenças sexualmente transmissíveis".
É uma patologia mais frequente nos homens e associada a pessoas com alto poder de compra. A profissão também pesa: "Profissões ligadas ao turismo, hotelaria ou relações públicas são mais propícias a muitos contactos com outras pessoas, o que pode ajudar à progressão da patologia", explica Luís Duarte Patrício.
Em Portugal, a dependência sexual ainda é um conceito relativamente recente. Santinho Martins, endocrinologista e sexólogo, admite que teve pacientes que se queixaram de sofrer deste problema, mas ele não deu importância. "Eram pessoas que estavam a ser tratadas no âmbito de outras patologias. Na altura não havia muita sensibilidade em relação ao tema da adição sexual e desvalorizei esses comportamentos. Hoje talvez tivesse agido de outra forma", conta.
Os grupos de ajuda mútua, baseados no método dos doze passos – criado para alcoólicos e toxicodependentes – são frequentes noutros países. Em Portugal, existe pelo menos um grupo, a funcionar em Lisboa, que usa um espaço cedido pela paróquia de Santo António de Campolide. O coordenador explicou à Domingo que o grupo "funciona há cerca de três anos e meio e reúne pessoas com vários tipos de adição". Sob a denominação Adictos ao Amor e Sexo Anónimos (com o blogue http://www.aasalisboa.blogspot.com), o grupo tem recebido homens e mulheres que se confessam adictos ao sexo, mas também adictos ao amor – pessoas que vivem relações ou fixações amorosas que as fazem sofrer e das quais não se conseguem livrar. Apesar de se utilizar um espaço da Igreja, não há uma conotação religiosa nas sessões.
"Reunimos todos os domingos. O que faz funcionar o grupo é que as pessoas estão num ambiente anónimo e sentem-se à-vontade para partilhar as suas experiências e ouvir as histórias de outras pessoas que conseguiram ultrapassar o problema", explica o coordenador, que prefere não referir o seu nome. Já passaram por este grupo "cerca de 25 pessoas" com adição sexual, metade dos quais são mulheres. "Já tivemos casos de viciados em sexo com estranhos ou pessoas que recorrem à prostituição e mesmo à pornografia na internet", explica o responsável. Habituado a ouvir histórias de viciados, o coordenador do grupo aponta a dificuldade masculina em aceitar o problema: "A sociedade em que vivemos ainda é muito machista. Se um homem tem sexo com muitas mulheres é vangloriado, o que atrasa muitas vezes a consciência do problema". Mas não sente que as experiências de homens e mulheres sejam diferentes, quer na forma como se comportam durante o período aditivo, quer na forma como encaram a recuperação.
Em Inglaterra, os grupos anónimos de viciados em sexo estão espalhados por todo o país. ‘Mary’, de 51 anos e com dois filhos com idades à volta 20 anos, frequenta um desses grupos há três anos e meio. A inglesa conta à Domingo que tem desde sempre "uma longa história de "infidelidade mental, fantasias sexuais e paixões". ‘Mary’ confessa-se viciada em pornografia e erotismo literário, o que a levou a dar o passo seguinte – um dia, as intenções passaram à prática e dormiu com um colega de trabalho. "Estava casada há 20 anos e fiquei muito chocada por conseguir fazer uma coisa tão fora do meu código moral. Não tinha o menor sentido de culpa, estava preparada para mentir e enganar. Deixei o meu trabalho, pensando que isso seria o fim da relação extraconjugal, mas percebi que não conseguia deixar de ver o meu amante".
Viu na televisão reportagens sobre adictos sexuais e começou a investigar o assunto. Leu o livro de uma especialista e ficou convencida de que era uma dependente. Depois, descobriu os grupos anónimos de viciados em sexo e decidiu partilhar a sua história. "Cheguei sozinha à minha primeira reunião, que era exclusivamente masculina. Isto pode ser ou aterrador ou sexualmente estimulante para uma mulher. Precisava de um patrocinador, em relação ao qual não podia ter qualquer atracção, o que é um problema para uma mulher que entra numa comunidade maioritariamente masculina. Arranjei um patrocinador masculino que não estava interessado em mulheres".
O método dos 12 passo - em que o primeiro é a admissão de que existe uma dependência - resultaram numa "revolução espiritual" para ‘Mary’. Hoje diz que "para qualquer pessoa com adição há sempre o risco de recaídas", mas considera estar "mais apta a evitar os hábitos mentais de desenvolver fantasias ou um pensamento obsessivo".
Como em todas as adições, o reconhecimento do problema é fundamental. "No caso de se tratar de um pedido de ajuda por imposição de terceiros (família ou cônjuge), o processo terapêutico é de realização difícil, pois a pessoa não tem plena consciência da dimensão do problema, nem está mentalizado para um processo de mudança e introspecção", explica o psicólogo Vasco Catarino Soares, que já lidou com vários casos de adição sexual.
João, que gastou "pelo menos 20 mil euros, mas pode ser muito mais", nos anos em que vivia para o sexo com prostitutas, não vê grandes diferenças no comportamento de um viciado em sexo e um toxicodependente: "Desviei dinheiro, menti à família e amigos, fui desonesto com os outros e comigo mesmo. É tudo igual".
OS CINCO SINAIS DE ALERTA DA DEPENDÊNCIA SEXUAL
1. Toda a organização existencial está centrada no desejo ou apetite sexual. A pulsão de procura de estímulos sexuais leva a descurar obrigações laborais ou familiares.
2. A consumação do acto sexual torna-se um acto incontrolável pelo adicto sexual. Há uma incapacidade de interromper estes comportamentos.
3. Há uma experiência de prazer imediato narcisista e de breve prazo. A gratificação pelo acto sexual é negativa - só serve de apaziguamento do mal-estar psíquico.
4. Repetição reiterada do impulso, com intervalos curtos. O desejo pode nascer do stress, emoções negativas e estímulos como música, dança ou pornografia.
5. Verifica-se uma acumulação progressiva dos efeitos nocivos pessoais e sociais. Há um sentimento de culpa ou vergonha e incapacidade de manter relações estáveis.
O PADRE QUE AFINAL ERA UM PROSTITUTO
Samuel Martín, padre de Toledo (Espanha), caiu em desgraça. Primeiro vieram as suspeitas de desvio de dinheiro - faltavam 20 mil euros de donativos à igreja. Depois chegou a terrível explicação: o pároco tinha gasto esta quantia em chamadas para linhas eróticas, sites pornográficos e bordéis. Pior, Martín pôs anúncios em jornais em que oferecia serviços sexuais a troco de dinheiro. O padre está em tratamento e corre o risco de ser afastado pela Igreja.
PORNOGRAFIA NA INTERNET: A FONTE DE TODAS AS ILUSÕES
O padre anglicano “Charles2, de 40 anos, escondeu durante muito tempo um terrível segredo. "Passava todo o tempo livre a ver pornografia na internet. Tornou-se no principal foco da minha vida". Em Inglaterra os padres anglicanos podem casar-se e ter filhos, mas isso estava muito longe da mente de ‘Charles’. "Toda a minha visão das mulheres estava contaminada pela realidade fantasiosa que via na internet. Não conseguia ter uma relação normal com ninguém", conta à “ Domingo”.
Uma conversa com outro padre fê-lo perceber que não estava sozinho. Entrou num grupo de ajuda mútua e encontrou um ponto de equilíbrio na sua vida. Casou-se e tem dois filhos. Há dois anos que está “sóbrio”, mas não fala em cura: "Sei que vou ser um viciado durante toda a vida".
DEPENDENTE OU MERO OPORTUNISTA?
O maior prodígio da história do golfe tornou-se o bobo da festa das páginas cor-de-rosa. Um incidente doméstico revelou a vida dupla de um homem casado e com dois filhos: Afinal, Tiger Woods coleccionava amantes entre estrelas porno e acompanhantes de luxo. Anunciou que se ia tratar. Apontam-lhe o vício do sexo, mas há quem fale em mascarar uma vida de prazeres.
QUANDO O VÍCIO CRIA UM MONSTRO
‘John’ confessa por e-mail à “Domingo” a terrível realidade que já contou à família, amigos e vizinhos. "Durante anos lutei contra a atracção sexual por crianças muito jovens". Evita responder directamente se chegou a ter relações com menores: "Em resultado do que disse em terapia, fui abordado por um psicólogo forense, por ordem de um tribunal. Ele concluiu que eu tinha abusado de crianças no passado, mas graças aos esforços que fiz para me tratar já não represento um perigo para elas". Já foi espancado, há quem o evite, mas ele prefere contar tudo: "A honestidade é crucial para a minha recuperação."
"MUITAS VEZES NEM SE FIXA O NOME DO PARCEIRO SEXUAL" (Luís Duarte Patrício, Médico psiquiatra, foi director do Centro das Taipas, para tratamento de toxicodependentes. Tem larga experiência no campo das adições)
- Como se detecta que uma pessoa sofre de dependência sexual?
- A dependência verifica-se quando, na ausência de uma prática, surge o sofrimento da síndroma de privação. A adição não tem a ver com a quantidade de relações sexuais, mas com a sua qualidade empobrecida, tempo e energias despendidas. Pode levar a relações com desconhecidos, envolvendo, por vezes, sofrimento físico.
- Como se comporta um adicto sexual?
- Quando não consegue seduzir, manipula para conseguir ter sexo. Se não consegue, compra serviços. O sexo é sem sentimentos. Há intimidade física mas não psicológica. Muitas vezes nem se fixa o nome do parceiro sexual.
- É uma patologia mais associada a homens?
- Sim, é uma dependência normalmente associada a homens, mais novos e com alto poder de compra. Mas a mudança no estatuto da mulher, que se tornou mais liberta e activa na vida sexual, tem levado ao aparecimento de mais casos.
- Como é o tratamento?
- Há que tratar a eventual patologia que esteja associada, depressão ou outra. Também se podem usar medicamentos inibidores do desejo sexual. A supressão do comportamento aditivo não quer dizer total abstinência sexual, até porque, muitas vezes, estamos a falar de pessoas casadas ou com relações estáveis, que "abusam" devido à sua adição. O tratamento deve ser completado com sessões de psicoterapia.
CASOS
VICIADO: DAVID DUCHOVNY
O actor que se celebrizou com a série “Ficheiros Secretos” já esteve internado por causa da adição sexual. Agora brilha em ‘Californication’, sobre um homem que vive para o sexo.
ACTOR: CHARLIE SHEEN, O GRANDE SEDUTOR
O homem de quem se diz ter dormido com cinco mil mulheres já terá feito tratamentos.
VETERANO: MICHAEL DOUGLAS
Foi das primeiras estrelas a quem se colou o rótulo de viciado em sexo, o que ele negou mais tarde.
GOLFISTA: A QUEDA ABRUPTA DE TIGER WOODS
Apanhado em dezenas de relações extraconjugais, alegou sofrer de adição sexual.
NOTAS
INFIÉIS
A adição sexual conduz quase sempre a casos extraconjugais ou fora das relações existentes.
OBJECTO
Um adicto tende a ver os parceiros como objectos sexuais, sem estabelecer ligações afectivas.
CULPA
São frequentes sentimentos de vergonha ou culpa. O prazer só serve para atenuar a dor existente.
PARAR
O tratamento da adição passa pela abstinência sexual até se reaprender a viver com a sexualidade
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Fantástico!
Conheço alguém com estas características, sei lá se qualidade, se vício, se dependência. Desconhecia era o adjectivo substantivo masculino que os define: adicto.
Enfim, todos os dias aprendemos algo.
Ao ler e reler o artigo fico com a sensação da necessidade de redobrar o cuidado com as ofertas oportunistas de psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, técnicos da segurança social, conselheiros conjugais, enfim, todos os que têm um molde e procuram aplicá-los a todos.
Um adicto não é um fumador. Fumei durante vinte e oito anos. Deixar de fumar é fácil e não tem drama. Ouço entre amigos fumadores que deixar de fumar é difícil, terrível, horroroso mesmo. Ninguém consegue, e o melhor é nem tentar. Interiorizam como certo que vão passar por um processo de sofrimento, e mesmo que resistam uns meses a recaída é certa. Contraponho com a minha experiência e dia dezanove de Março próximo, farei doze anos sem tocar no tabaco, pese o facto de andar por ambientes que a isso convidam.
Quanto à cura da adição, parece-me ser mais difícil.
Ao ler que: O tratamento da adição passa pela abstinência sexual até se reaprender a viver com a sexualidade, a coisa complica-se.
É difícil a um adicto reaprender a disposição para ouvir em discurso directo a mulher, a companheira, a amiga, contar as últimas histórias do trabalho ou do dia, sem vontade de ligar a Tv, e de preferência com um sorriso terno rasgado até ás orelhas, e nunca lhes negando toda a razão do mundo. Tarde ou nunca, as mulheres, perderão o mau hábito, depois de um dia extenuante e de os miúdos estarem na cama, não terem dores de cabeça ou, no caso de as terem, acreditar que as endorfinas são terapêuticas.
O adicto prefere ficar só que andar a pedinchar ternura.
Mas o verdadeiro problema está na forma como o adicto encara o sexo:
Quando é bom, é excelente; quando é mau, é sempre bom.
E para agravar o problema, grassa por esse País oferta de qualidade, fruto da crise.
Como resistir?
Eis a questão.
Zé Morgas