A realidade tem o insistente mau feitio de nos contrariar.
Neste magnifico espaço na esplanada do Grupo Desportivo dos Trabalhadores da Repsol Polímeros, sentado, com as pernas estendidas sobre uma cadeira, com os tornozelos cruzados, a ouvir o chilrear dos passarinhos que por aqui abundam, e normalmente me ocupam o espírito com a nostalgia dos momentos felizes, bebo uma água, embora me apetecesse mais gargalaçar umas cervejolas.
Sinto a cerveja como lágrimas de anjo a chorarem-me na língua.
Aqui, por vezes me rendo, aos tempos que me vão transfigurando, mudando as coisas de lugar e o lugar das coisas.
Hoje, penso nos muitos dias sofridos passados em casa, isolado no meu quarto, com noites mergulhado na escuridão de olhos abertos, (quarto onde ao ritmo de solfejos carnais já vi muitas constelações) deitado de costas com o pé direito apoiado sobre uma almofada alta.
Sem querer, sujeito a criticas mal intencionadas dou comigo a pensar no ser que povoa o clássico do imaginário masculino, a enfermeira.
Quando um homem vê uma mulher voluptuosa vestida de bata branca com os botões a rebentar fica com a vontade que ela lhe trate da saúde.
Pena é que 95% das enfermeiras com estas características só estão nos filmes. A verdade é que não passou por lá nenhuma a tratar-me da saúde.
Caído na real, vezes sem conta ligo a televisão e desligo-a pouco depois de navegar ao acaso pelos canais sem vontade de ver nenhum.
De quando em quando levanto-me e vou até ao sofá da sala onde poucas vezes me sentei, fruto da vida vadia vivida.
Sentado no sofá com um livro aberto em que não me consigo concentrar, há 35 anos que ando para o ler na totalidade, (ainda há dias contava ao meu amigo Karraio em Deixa o Resto, juntos ás voltas com um rodízio de porco preto e umas jarradas de tinto da uva alentejana, como tinha feito a oral de português do 2º ano do curso complementar dos liceus em 1980 com elevada nota a falar da grande obra de Eça de Queiroz “Os Maias”, na memória tinha ainda fresco, o trabalho ouvido dois anos antes na sala de aulas, apresentado pela Marília e pela Mariana, fica aqui perpetuado neste modesto blogue do Zé Morgas o meu Obrigado ás duas distintas colegas, e as poucas passagens que eu li da obra, a paixão incestuosa do Carlos da Maia e da Maria Eduarda netos do aristocrata Afonso da Maia), de imediato pousado ao contrário ao meu lado, volto ao quarto, à minha cama, e deixo o pensamento embrenhar-se na memória.
Nos meus estados da alma 2, numa quase confissão, abordei ao de leve a minha saída do ENSI e o total alheamento pelos estudos e pela leitura. Sem me querer martirizar pela decisão, tornei-me desde essa data órfão de pai vivo, reconheço que nunca deveria ter perdido os bons hábitos da leitura atenta.
Isolado, num “sitio” deserto todos os dias se tornam cinzentos, dias perfeitos para pensar no passado.
A luz demasiado clara dos dias de verão ofusca o pensamento e as memórias.
Há sempre coisas boas guardadas na nossa memória ao fim de muitos anos.
Nós mudamos mas a nossa memória encarrega-se de nos lembrar o que fomos, o que já não temos.
Assaltam-me as dúvidas sobre a paixão, a solidão e as saudades que mais apertam nestas alturas.
Dediquei parte da minha vida entre boémia e excessos a ouvir as perguntas que tinha na minha cabeça e a dar-lhes as minhas respostas. Seguia o que ouvia ou julgava ouvir. Fugia das discussões dos encontros inoportunos.
Por mais que tentasse apagar algumas dúvidas elas só cresciam dentro de mim.
Não sei como consegui viver parte de uma vida com perguntas constantes sem resposta, quando por vezes as respostas eram tão e demasiado óbvias.
Mas errar por paixão ou apaixonadamente, é inevitável.
Mas errar por paixão ou apaixonadamente, é inevitável.
Poderia eu ter tido uma vida mais pacata sem querer dar resposta ás muitas curiosidades que tinha dentro de mim? É curioso como me interrogo como poderia ter sido.
Se eu tivesse ficado com umas das mulheres que já conheci como estaria agora e como seria?
Se eu tivesse encontrado alguém para me dar com reciprocidade o sopro da vida com paixão com que sonho como seria?
Mais do que a dúvida o que me mói o pensamento é a escolha. Mas na escolha também está a dúvida.
Levam a atitudes inconsequentes.
Ninguém está disposto a mudar seja o que for na sua vida, mesmo que tenha a consciência de que, intrinsecamente, não é sustentável nem funcional, se não estiver no limiar do desespero.
Até lá, mantemos tudo como está, com mais ou menos queixas, com a inerente preguiça humana de seguir o caminho mais fácil, por medo de termos de olhar, frente a frente, a verdade.
Estranhamente apetece-me, e quando alguma coisa me apetece inquieto-me e desassossego-me até conseguir concretizá-la.
Ás vezes até penso que se pudesse, deveria um dia ir ao encontro de amores antigos, de algo ou alguém, antes que me assole o desejo de perdidamente caminhar para uma perfeita solidão e trair todos os meus sonhos.
A memória que ainda guardam de mim, poder-me-ia ajudar a perceber quem sou, e a fazer uma introspecção em relação aos pontos fracos e fortes.
Creio que a auto-análise ajuda a desenvolver um processo de autocrítica saudável.
Uma escolha, chega-me o que tenho ou conformo-me com o que não tenho!
Uma dúvida, imagino que não ou prefiro acreditar que não?
Entra a escolha e a dúvida na escolha assolam-me as saudades de dar umas voltinhas de mota.
Há quase três meses que não sinto a minha Mota, a minha bela Kawasaki 1400 GTR.
Falhei os convívios de Faro e Góis, locais de culto onde cada vez mais, se vêm esculturais mulheres aos comandos de brutais maquinões “RR”.
Gosto de vê-las, confesso.
Há algo de perversamente sedutor numa mulher que conduz um veículo motorizado de duas rodas. Transparecem domínio, controlo, e um toque selvagem que todo o homem motard gostaria de ver transportado para a sua cama
Recordo os abusos recentes cometidos na Vidigueira com os meus amigos motards, onde este ano esteve presente um grupo fantástico da Ilha Terceira, Os Meia Dúzia, pessoas simples de simpatia contagiante.
A noite cai, o momento ideal para ir à procura de um restaurante para jantar com mesa longe da Tv e dos telejornais. Não quero ouvir mais notícias sobre austeridade, dramas sociais e as políticas que levaram à extinção das nossas empresas e ao desemprego galopante que interessa aos grupos económicos que exploram os salários de miséria e as condições precárias de trabalho!
Os ataques à SS têm sido uma constante ao longo dos últimos anos!
Agora com mais uma machadada de 7%.
Anda por aí “caça” a necessitar de umas cartuchadas de sal grosso nas nalgas, um coelho que radicalizando as coisas torna impossível o diálogo.
Não se investe no país mas dão-se salários milionários à elite que se aposenta da política! Aprovam-se mais grandes superfícies para extinguir os pequenos comerciantes, ou será para receber chorudas comissões, corruptas.
E nessas grandes superfícies, nem se encontram artigos feitos em Portugal!
Assim se aniquila um país, o Povo a migalhas, a banca e os amigos tubarões a vilipendiar milhões.
A todos pedem esperança.
Mas eu sei que o dia da esperança será sempre a véspera do dia da desilusão.
Zé Morgas
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