Sr. Presidente
Pela segunda vez, realizou a malta do ano de 61, do século passado do milénio transacto, uma jantarada convívio, no restaurante “O Venetas”.
Pela segunda vez, realizou a malta do ano de 61, do século passado do milénio transacto, uma jantarada convívio, no restaurante “O Venetas”.
Foi a minha primeira presença, já que na primeira jantarada, não compareci por motivos profissionais e inadiáveis. Ficou-me a mágoa de não ter participado.
Desde essa altura que tinha em mente uma ideia para apresentar, e que agora aqui me proponho revelar a Vª. Exª.
Surgiu-me, ao ver o Madeiro de Penamacor, 2008, o maior de Portugal.
Era grande, muito grande, demasiado grande, brutalmente grande.
Maior que todos os anteriores, ou muito mal empilhado - arrumado!?
Isso assustou-me, continua a assustar-me, a continuar assim dentro de um futuro próximo, não haverá sobreiros no concelho de Penamacor.
A lenha acaba, o Madeiro morre, a tradição esfuma-se.
Ninguém quer que tal aconteça.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, todos nos adaptamos ás novas circunstâncias e realidades.
Registo com particular alegria, saber que a tradição durante longos anos, só de homens, conta desde há já algum tempo com a participação das “moçoilas” do ano.
Essas criaturas, Mulheres, que são a forma superior da beleza, acima da qual nada mais há a dizer, há muito que o deveriam ter feito. Ter-se-iam pintado… quadros belos, de outra cor.
Os meus parabéns ás pioneiras.
Mas a mudança deve continuar, obrigatoriamente.
Sr. Presidente
Sr. Presidente
Todos conhecemos os danos que o planeta sofre com as mudanças climáticas, e que cada vez mais se agravam. Prova disso é a cimeira da ONU sobre alterações climáticas, que começou há dois dias em Copenhaga, onde os milhares de delegados dos 192 países presentes, assistiram à projecção de um filme acerca das consequências catastróficas do aquecimento global. Temos que reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. A queima do madeiro liberta alguns. Perpetuar a tradição não implica a “brutidade” dos madeiros a que nos últimos anos temos assistido.
É brutal o potencial energético contido naquelas montanhas de troncos de sobreiros. Sem contar com o perigoso abuso que é deitar para a fogueira, pneus e óleo queimado.
Já aconteceu por várias vezes, as persianas das janelas de algumas casas da praça derreteram, devido ao forte calor gerado. Situação inadmissível. É igualmente um desperdício de recursos, humanos e materiais, as soluções usadas, os bombeiros a controlarem a queima com o auxílio de carros e água.
Gostava de voltar a ver as imagens que ainda guardo na minha memória do meu tempo de menino, do arranque do madeiro, feito na noite - madrugada do dia 8, a chegada à vila, religiosamente à hora de saída da Missa do Meio-Dia, do dia 8 de Dezembro.
No meu ano, 1981, isso se cumpriu.
Entrámos na Vila e chegámos ao alto da praça, orgulhosamente transportados num carroça puxada por uma junta de bois, pertença de “Joy Manata”.
Entrámos na Vila e chegámos ao alto da praça, orgulhosamente transportados num carroça puxada por uma junta de bois, pertença de “Joy Manata”.
Os primeiros troncos foram descarregados e empilhados à força de braços.
O baile do Madeiro de dia 8, apinhado.
O acendimento no dia 24, no meu ano assim o foi, porque, um grupo de duros mancebos unidos, Zé Morgas, Luís “Pé Leve”, O Nalgas, Borrego, Manta, Quim Amaral, Vítor Jack, infelizmente já falecido, Tó Maria, Esteves “O Guedes”, Canês “Papagaio do Rato”, Chico Abreu “O Socratiniano”, (assim apelidado pelos meus companheiros motards, no primeiro passeio realizado a Penamacor) e outros, fizeram de guardiões do madeiro durante todas as noites.
Depois de aceso, era sempre uma festa o “coçó ó madeirinho” com robustos cajados de pau de marmeleiro, (os que eu julgava roubar ao meu avô materno, que na realidade eram por ele ali deixados para o efeito, evitava assim que sumissem os que lhe convinha), cujo manejo exigia pulso forte e habilidade.
O convívio puro das gentes, nas mais adversas condições de tempo, chuva, frio, neve, depois da saída da Missa do Galo, a festa…comes e bebes, que se prolongava noite fora até à manhã do dia 25.
O Madeiro, anos havia em que chegava aceso até ao Dia de Reis, celebrado no mês de Janeiro já do ano seguinte.
Sr. Presidente
Sr. Presidente
Voltando à ideia, aproveito o momento para revelá-la:
Se não queremos que o madeiro acabe, temos que plantar sobreiros, sobreiras, avivar o sobreiral. Queremos cortiça, bolota, madeira compacta e rija, carvão de sobro…e como tudo morre, até as árvores, no final troncos para o madeiro.
Perdoem-me a minha ignorância, mas desconheço em absoluto qual a melhor data do ano para plantar sobreiros e como se faz.
Sabê-lo-ei.
E esta é a data chave. Cada vez as pessoas são menos no concelho. A quem está fora, há que aliciá-las a voltarem mais vezes ás origens, mas com festa.
Juntaram-se as moças aos moços, juntemos também: residentes, emigrantes, imigrantes, migrantes, etc; os que passarei a denominar de “Madeiro de ...":
Bronze - ( 10 anos depois da 1ª participação)
Prata - ( 25 anos depois da 1ª participação) e
Oiro - ( 50 anos depois da 1ª participação )
Quero dizer, reunir em data: dia e mês a combinar, (a rapaziada do ano, após pesquisa, elaborará lista com os condecoráveis, e fará chegar aos “Madeiro de ...” o convite por carta, telefone, sms, e-mail, são muitos os meios à disposição ); propícia à plantação de novas árvores, e teremos aqui uma função pedagógica, ensinar a quem pretende arrancar, que primeiro é preciso semear, plantar, e como se faz; cada participante plantará no mínimo uma: a rapaziada do ano do madeiro, e quem o tenha feito há 10 (bronze), 25 (prata) ou 50 (oiro) anos.
Junta-se assim a malta com 20, 30, 45 e 70 anos.
Escolhido o local onde será feita a plantação, aí mesmo se fará uma “grelhada” bem regada, seguida da condecoração dos “Madeiro de bronze, prata e oiro".
Uma coisa simples, um tronco de madeira pintado, que valerá apenas e tão só pelo seu simbolismo.
Mais, estou certo de que colherão os mancebos do ano, algumas valias com a realização de tais condecorações. Levará a generosidade e o agradecimento, a contribuir com “uns cobres” para um fundo necessário à realização do madeiro e eventos associados:
comida e bebida gratuita para todos na noite do arranque, e "tocador" no bailarico de dia 8.
Quanto ás enormes quantidades de lenha queimadas, tal torna-se desnecessário, para manter a tradição, basta uma pequena pilha, como antigamente, e como feito no meu ano, deitar-lhe o fogo antes da Missa do Galo. Haverá brasa e borralho quente suficiente, para os fiéis e restante povo, se aquecerem no final da Missa do Galo e noite fora.
Deixo a ideia. Há que passar às acções.
Penso que seria legítimo, a Junta de Freguesia, tal como faz com o Magusto, ser a entidade organizadora, orientadora dos mancebos. Conhecerão sem dúvida alguma, os elementos da Junta de freguesia, locais onde se possa plantar umas árvores, fazer a tal grelhada, bem regada, onde existirão umas árvores secas para derrube, e posterior queima.
Eleve-se o Madeiro, a mais uma imagem de marca do nosso concelho, pela Excelência da Qualidade, e não pela brutalidade da quantidade de lenha empilhada para queima.
Será sempre bem recebido, quem queira colaborar, naturais e forasteiros.
Estou certo que muitos comparecerão.
Sr. Presidente
Para terminar e porque é Natal, deixo-lhe aqui um pedido, já não estou em idade de pedir nada ao Menino Jesus, uma prenda de Natal para o Povo de Penamacor, que muito lhe agradecerá:
Veja Sr. Presidente. a vergonha e o real perigo, e a tendência será sempre o constante agravamento, que é o piso desse colossal mamarracho, da autoria dessa Câmara a que Vossa Excelência preside.
Mais um elefante branco para sorver as já depauperadas finanças da Câmara Municipal de Penamacor.
Isso evita-se com a demolição total (já foi parcialmente demolido, veja-se pela foto) do mamarracho do Sumagral.
Mata-se o mal pela raiz.
A todos um Feliz Natal.
Zé Morgas
Caro Zé,
ResponderEliminarCada vez me conforto mais por teres sido meu Aluno. Melhor dizendo, por ter sido teu professor, o que só me honra. Concordo contigo: num Mundo que corre a toda a pressa para o abismo, querer ter o "maior" madeiro do país, deste pobre país, só pode ser uma inconsciência, um desperdício, uma falta de descernimento e sensibilidade. Para não dizer outra coisa. Realmente, os "alarves" já são de outro Concelho. Como de costume, não te limitas a criticar, mas a construir. A plantação de sobreiros, grandes consumidores de carbono, é de se lhe tirar o chapéu. E eu tiro-o, com entusiasmo. A ponto de também querer estar presente, se a idéia for por diante. O "maior madeiro do país"... Quem é que os mede? Já os ouvi nomear por outras bandas. Também sem honra nem proveito para ninguém, mas para um empobrecimento maior, da Natureza e da inteligência. "O rei vai nu..." - gritou o rapazinho da conhecida história.
Ora aqui está uma boa ideia!
ResponderEliminarÉ bom ouvir opiniões sensatas sobre esta nossa tão querida tradição.
ResponderEliminarMesmo sem precisar abdicar do título de "maior" madeiro do país – ainda que não veja qual o interesse desta afirmação por si só – o madeiro precisa ser reduzido a dimensões que não ultrapassem o razoável.
Acredito que com metade da madeira que tem poderia ser ainda detentor desse título. Mas mais importante do que ser o "maior" eu gostava mesmo que fosse o "melhor":
O melhor pela preservação da tradição, nos pontos em for possível mantê-la inalterada;
O melhor por se saber renovar, como é o caso de incluírem as raparigas desde há alguns anos;
O melhor por ter uma componente pedagógica, tomando a tua bela sugestão de plantar sobreiros;
O melhor por ser uma desculpa perfeita para atrair turistas a Penamacor – para quê estar a inventar coisas novas se temos esta tradição com tanto potencial;
O melhor por conseguir chamar a Penamacor o maior número de conterrâneos que estão fora numa bela confraternização.
Se leram com atenção, no concurso que levou à realização da curta metragem sobre o madeiro, não se votava a maior tradição de Portugal, mas sim a mais criativa!
Vamos então ser tão criativos quanto a tradição nos permitir – a sugestão do "Madeiro de Bronze, Prata e Ouro" é disso um óptimo exemplo – e transformar o nosso tão querido madeiro no MELHOR madeiro de Portugal.
Subscrevo. A criatividade não se mede pela quantidade. O melhor não tem de ter o mesmo significado de maior. A "alma" do madeiro não se alimenta do tamanho do monte de lenha mas de tudo aquilo que gira à volta da tradição.
ResponderEliminarAtrevo-me a sugerir que as propostas do Zé Morgas e do Jorge Portugal - que podem ser compelementadas com outras de igual potencial na promoção e valorização de uma tradição com esta - possa ser alargada e promovida nas aldeias. Penamacor tem falhado no seu papel de lugar central - à escala concelhia - muitas vezes estupidamente agarrado a um bairrismo serôdio que já não faz qualquer sentido nos tempos modernos. Isto não significa de maneira nenhuma a eliminação das especificidades mais locais, tão só, a valorização concertada da riqueza do tronco comum do madeiro de "Penamacor": o melhor de Portugal, no sentido de mais criativo.
Acompanho o Prof Serrano na intenção de vestir o rei.
Xendro de nascimento folgo em saber que muitos outros pensam da mesma maneira em relação aos usos e costumes. Não é pelo "tamanho" mas pela qualidade que devem ser mantidos e conservadas as nossas memórias. Se ajudar lembro que existe uma iniciativa Nacional a que muitos Municípios já aderiram para além das aderências individuais e escolas para replantar onde é necessário. PLANTAR PORTUGAL - www.plantarportugal.org/ - Porque não estimular as escolas do Concelho, as Juntas de Freguesia,o Município a fazer campanhas comuns de reflorestação ? Constou-me que não só as árvores secas (sobreiras) são utilizadas para o madeiro...será que o exagero inclui árvores ainda viáveis ?
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