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quarta-feira, 5 de março de 2014

Carta Aberta XXXIV - Sr. Presidente C.M.Penamacor

Sr. Presidente
Foi longo e de exageros o meu almoço. Um almoço alancharado.
Na passada sexta-feira, abriram a Lagoa de Santo André ao Mar, um ritual com tradição que se repete todos os anos, de enorme espetacularidade, este ano mais cedo do que o habitual.
Este processo, que já foi da responsabilidade da Câmara Municipal de Santiago do Cacém e depois da Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, está agora a cargo da Agência Portuguesa do Ambiente e visa a renovação da água da lagoa, a limpeza e lavagem do seu fundo e a entrada de algumas espécies piscícolas, com destaque para os alvins e enguias.
O processo, outrora feito pela força de “braços e bestas”, foi substituído já há vários anos por máquinas. A abertura da Lagoa de Santo André é feita todos os anos numa altura sempre próxima do equinócio da Primavera.
Com a abertura da Lagoa ao mar acabou a pesca da enguia, desde 2010 já muito reduzida devido ás restrições impostas, proibição de pescar exemplares com menos de 22 centímetros, e pesca da “enguia prateada”, ou seja, em idade de reprodução, com salvaguarda à conservação da espécie.
São conhecidas pela excelência da qualidade as enguias da Lagoa de Santo André.
Resolvi fazer a despedida da época, não gosto das enguias que por aí abundam, moles e com sabor a farinha, vindas dos viveiros de Aveiro, porque fartura e boas, só a partir de Setembro.
Apreciador como eu deste petisco digno dos deuses do Olimpo, “esgarradas” por processos ancestrais, sem recurso ás modernas betoneiras, confecionadas seja que de forma forem: fritas, caldeira, ensopado, acompanhou-me, entre mais Amigos, na maratona gastronómica, um ex. colega meu já na situação de pré-reforma, que entre os intervalos da chegada das travessas e dos tachos, contou uma situação que não resisto a partilhar.
Contava o meu Amigo, há uns anos por morte de um familiar, “viu-se” , conjuntamente com duas irmãs, herdeiro de bens num concelho vizinho de Penamacor, concelho onde nasceu, pouco viveu, emigrou para Angola em tenra idade, e de onde regressou já adulto, aqui, ao Litoral Alentejano.
Sabia da vontade do familiar em que os bens permanecessem na posse da família.
Um cunhado, médico de profissão e com situação económico/financeira desafogada manifestou interesse em ficar com os bens, onde se incluía uma casa degradada, bastante mesmo, no centro da vila, junto à Igreja da Paróquia.
Chegaram a acordo.
Disse que passado algum tempo, o cunhado foi avisado pela Câmara por carta registada com aviso de receção, para o real perigo que a acelerada degradação da fachada do imóvel representava, e convidado com prazo, curto, a arranjar um compromisso de segurança para evitar a derrocada da dita fachada.
Findo o prazo estipulado, por esquecimento, desleixo, escudado no status, sabe lá, nada fez.
Fez a Câmara,
Demoliu a fachada e apresentaram-lhe os custos tidos com a demolição.
Não gostou, não pagou.
Mais, a Câmara guardou as pedras de granito da fachada em espaço próprio, seis meses depois, apresentou o valor do espaço de armazenagem.
Não gostou, não pagou.
Um semestre depois, nova “dolorosa”, e nova carta registada com aviso de rece
ção a lembrar-lhe os direitos, deveres e obrigações que têm, e a "ameaça" de um final pouco feliz:
Ou paga ou fica sem o imóvel para cobrir as dívidas já acumuladas.
Sr. Presidente
Enquanto ouvia o meu Amigo no intervalo da sofreguidão das garfadas, veio-me logo à memória o caso em Penamacor da casa “especada” com um pau a invadir a via pública, sito na Rua Pereira Macedo, ironia do destino, nesta minha última estadia, tinha parado à porta da dita casa quando voltava de mais uma valente almoçarada no restaurante da piscina.
Passo por lá com muita frequência, foi a Rua onde nasci.
Vi pedras na via pública, despertaram-me a curiosidade, não vi portas escancaradas, mas o entulho, pelos buracos das portas de madeira sai sem pedir licença, invadindo o espaço que não lhe pertence.
A medo fui espreitar o interior sem entrar demasiado com os olhos dentro dos buracos.
É medonho o que ali está. Ouvi de alguém que no momento passava:
- “Tenha cuidado, saia daí, vai cair tudo e alguém pode ficar ferido. Olhe que isso não resiste a outra invernia como a que passámos”.
Levei a advertência a sério.
Sr. Presidente
Atente nas fotos, sem mais palavras, sem legendas…
Sem querer entrar por  grandes paralelismos, reconheço contudo que são muitos, e muito comuns, os problemas dos municípios
Então porque não, também, tornar comuns as boas decisões que levam a ações eficazes?
O Povo de Penamacor, ficar-lhe-a grato, e em particular, os moradores  e utilizadores da Rua Pereira Macedo.
Sempre ao dispor
Zé Morgas

1 comentário:

  1. Muito bem amigo Zé. O que relata acontece em todas as Câmaras do País e desde o tempo da outra Senhora. Intima-se o dono, dá-se-lhe um prazo e caso não cumpra penhora-se o que sobra. Está tudo dito. É só querer.
    Mesmo que haja muito para fazer um modesto Fiscal pode dar início ao Processo e a instrução do mesmo passa pelo Serviço de Obras depois de tudo muito bem fundamentado o Sr. Presidente despacha. Onde está a dúvida? Onde reside o problema?

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